Você já se sentiu como se, independente do local onde você está, você não encaixasse completamente? Como se você não pertencesse de verdade? Você já teve essa sensação?
Já parou para pensar de onde vem isso? Se você já fez esse exercício consigo mesmo, é possível que tenha identificado algumas explicações para esse fenômeno: locais que você frequentava na infância com pessoas muito diferentes de você, sentir-se negligenciado por pessoas importantes da sua convivência, ou alguma outra explicação que possa ter encontrado na sua história de vida.
É válido o movimento de olhar para a sua história e buscar rastrear essas causas, afinal, a maioria de nós gostaria muito de entender porquê agimos da forma como agimos. Assim como também é útil identificarmos quando estamos reagindo à situação presente ou à nossa história de vida.
De qualquer forma, eu gostaria de apontar mais uma alternativa a isso porque, mesmo que buscar as causas seja compreensível, é possível que: a) você não encontre a causa do não pertencimento e b) mesmo que você encontre a causa, não muda a sensação de não se sentir pertencente.
E aqui está o “pulo do gato”. Talvez o encaixe perfeito não exista, porque as peças não são apenas o que a gente vê, mas também o mundo interno de cada um.
Então como pertencer se não consigo me encaixar completamente?
Ao invés de pensarmos no pertencimento como algo global, podemos pensar em pontos de conexão. Ou seja, pontos de pertencimento em cada relação importante. Posso me conectar com alguém, sem que eu me sinta conectada com absolutamente todas as partes daquela pessoa.
Por exemplo, eu posso me conectar com uma pessoa que compartilha do mesmo interesse que eu no esporte, posso me conectar com outra pessoa pelo seu jeito leve de viver a vida com o qual me identifico. Talvez eu olhe para algumas partes dessas mesmas pessoas e não consiga me encaixar com essas partes, mas está tudo bem, porque a parte com a qual eu me conecto é real.
Às vezes, temos uma concepção de que o pertencimento só é válido se ele é “inteiro”. De fato, é muito especial quando encontramos relações que sentimos que pertencemos por inteiro. É claro que elas podem existir, mas esse texto não é sobre essas relações. Esse texto é sobre espaços que queremos estar, que tem algo de importante e onde encontramos pessoas com quem também queremos estar (afinal, é um contexto valioso para nós) e com as quais temos pontos de conexão, ou pertencimento.
Notar que eu posso pertencer mesmo quando eu não encaixo completamente é muito libertador, nos permite estar em mais lugares importantes e fazer o que temos vontade. Afinal de contas, se os seres humanos são seres complexos, por que as nossas conexões também não seriam?