Acessando a vulnerabilidade para a mudança

Tenho estudado com um grupo de amigos sobre o livro “Imunidade à Mudança” (Kegan & Lahey,2017) e em todos os nossos encontros fico buscando conexões com as Terapias Comportamentais Contextuais, meu foco de trabalho e estudo hoje. Me sinto instigada e adoro fazer isso, conectar minha experiência anterior em organizações com meu mundo atual na Psicologia Clínica. Além disso, também me sinto convidada a pensar em nosso momento e nas mudanças que estamos tendo que enfrentar. Criamos uma metáfora para representar isso: “Num primeiro momento entramos numa caverna e agora temos que buscar recursos internos e externos para fazer a travessia e  achar um novo caminho.”

Segundo kegan & Lahey (2017), estar imune significa criar um sistema de proteção contra a mudança, pois mudar significa em primeiro lugar tomar consciência de uma série de pressupostos ou regras que passamos a vida acreditando serem verdadeiras, por exemplo, “se eu não for bem visto e respeitado, serei um fracasso”. Só que esse processo de derrubar o sistema imune, nos coloca em contato com alguns sentimentos dolorosos. Sentimos medo, ansiedade e angústia, pois não sabemos como agir diferente. A própria imunidade estava fazendo um trabalho incrível, nos protegendo desses sentimentos dolorosos. Sendo assim, quando o sistema imune é quebrado me sinto perdendo o controle e ficando vulnerável.

A sensação de estarmos sem defesa ou controle daquilo que enxergamos como perigo nos causa ansiedade. Nesse ponto me conectei com os pressupostos da Terapia de Aceitação e Compromisso, que diz que fazer esforços para não sentir a dor e o sofrimento nos impede de agir em direção a uma vida que valha a pena ser vivida. Começo a limitar minhas ações para não sentir desconforto, limitando também minha experiência de vida, como um funil.

Sendo assim, evitando, reforço o sistema imune à mudança, a mudança não acontece, eu não saio do meu pressuposto, eu não abro espaço para novos aprendizados e isso impede de eu fazer algo mais efetivo para a vida que eu quero ter.

Pensando, então, na perspectiva de entrar em contato com suas dores pergunto: Você está DISPOSTO a experimentar essas coisas, plenamente e sem resistência, tal como elas são e não como dizem ser, e a fazer o que o leva em direção aos seus valores escolhidos, neste momento e nesta situação?

Não é fácil, pois ninguém adora fazer contato com experiências aversivas.

O que muda é a força que eu coloco na luta contra isso. Quanta dor crônica é produto da luta contra a dor crônica por exemplo. Uma forma de desacionar o sistema imune é  acionando a habilidade de ACEITAÇÃO. Dar espaço para me vulnerabilizar, pois construir uma vida digna envolve sentir coisas desagradáveis. Para não ser imune à mudança preciso mostrar a vulnerabilidade, preciso de um conflito interno, muitas vezes provocado pelo externo. Algo que gere medo e ansiedade sim, mas que me permite sair do controle, entrar no fluxo da vida, acionar a confiança no possível e agir nos diferentes papéis que me cabe com compaixão e autocompaixão. Tratando a mim mesma com a mesma gentileza e cuidado com que eu trataria uma amiga querida. Fácil? Nada fácil….Possível? Sim…Estou disposta a treinar e a viver cada dia como único, como uma aprendiz em minha total imperfeição.

 

REFERÊNCIAS:

Kegan, R , Lahey, L.L. (2017). Imunidade à mudança: libere seu potencial de desenvolvimento e faça sua equipe e sua empresa crescerem. Rio de Janeiro: Alta Books.

 

 

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Sobre o Autor
Vanessa Stechow
Psicóloga (PUCRS). MBA em Gestão de Pessoas com ênfase em Estratégia (FGV/RS), Didata em Dinâmica dos Grupos (SBDG) e qualificação como Analista PDA (Personal Development Analysis). Formação Internacional em Coaching Executivo Organizacional - Metodologia Ontológica Transformacional com Leonardo Wolk, em Líder Coach pelo ICI e The Coaching Clinic – Corporate Coach U. Formação em Coaching de Equ... ver mais

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