Em uma manhã de domingo, enquanto eu bebia meu café, uma playlist tranquila tocava. Uma música com melodia calma e agradável ganhou minha atenção. Ela dizia: “Vá devagar, sua criança louca. Você é tão ambicioso para um jovem. Mas se você é tão esperto. Me diga por que ainda tem tanto medo?” (“Slow down, you crazy child. You’re so ambitious for a juvenile. But then if you’re so smart. Tell me why are you still so afraid?”). Era uma música que há algum tempo uma amiga havia me indicado e, embora eu a tivesse ouvido antes, eu ainda não havia parado para escutá-la plenamente. Se chamava Vienna, de Billy Joel, interpretada por Gretta Ray. Continuei escutando: “Onde está o fogo? Pra quê a pressa? É melhor você se acalmar antes que você se esgote. Você tem tanto o que fazer e tão poucas horas em um dia” (“Where’s the fire? What’s the hurry about? You better cool it off before you burn it out. You got so much to do and only so many hours in a day”). Aquilo me tocou e me permiti sentir cada verso.
A canção seguiu: “Vá devagar, você está indo bem. Você não pode ser tudo o que quer ser antes do seu tempo” (“Slow down, you’re doing fine. You can’t be everything you wanna be before your time”) respirei fundo e lembrei das vezes que me notei perdida em pensamentos. Faltando exatos seis meses para me graduar em Psicologia, o peso de receber o diploma vem com uma expectativa de que ‘agora você está pronta’; algo que parece um tanto irreal e pretensioso nesse campo em que o conhecimento nunca se esgota. Aceitar isso radicalmente é um tanto incômodo quanto reconfortante: somos seres em constante formação. Embora seja um efeito dos nossos tempos sentirmos uma grande pressão para ter tudo resolvido e não o ter seja considerado um sinal de atraso ou fracasso, a música convida a olhar para o aqui-e-agora e aceitar a vida exatamente como ela é neste momento.
Como Billy fala em outro trecho, “Você está tão à frente de si mesmo que esqueceu o que precisa” (“You’re so ahead of yourself that you forgot what you need”), é muito fácil perder-se em autorregras sobre onde eu deveria estar, o que deveria estar fazendo, quais livros eu deveria estar lendo, e esquecer-se de olhar para as necessidades do aqui e agora. Estou atento ao que preciso agora? Estou atento e cultivando uma vida que vale a pena ser vivida? Estou me aproximando de pessoas e de coisas que são importantes para mim?
Estamos em um constante tornar-se e lembrar disso é compreender que o aqui-agora é, além de tudo, único e efêmero. Em nenhum outro momento seremos quem somos agora nem estaremos como estamos agora: nesta etapa da carreira, rodeado por estas pessoas, sonhando estes sonhos, semeando e colhendo tantos outros momentos e relações. Deixar perder-se em autocobranças ou expectativas alheias, nos impede de viver o hoje, e é com esse olhar atento e perspicaz, que a música questiona: quando você vai perceber que não apenas Viena te espera, mas a vida te espera?
Este texto é de autoria da estagiária da equipe CEFI Contextus – Luiza Demiquei Gonzatti