Fazendo as Pazes Com o Passado

Atualmente, me encontro iniciando o último ano do meu percurso acadêmico em psicologia. Recentemente, em terapia, me peguei refletindo sobre toda a minha experiência nessa trajetória, sobre todas as dúvidas, incertezas e inseguranças que carreguei comigo e como eu cheguei a ser quem sou hoje. Não foi uma reflexão fácil, visto que o mero ato de lembrar de alguns momentos dessa parte da minha história já evoca algumas sensações de ansiedade. Mas hoje, eu consigo enxergar essas experiências como o caminho que eu precisei e consegui trilhar naquele momento para que eu chegasse aonde estou.

Durante minha experiência acadêmica (e na vida), me vi preso na armadilha da comparação social. Enquanto alguns pareciam dominar os conteúdos, a vida acadêmica e a rotina com facilidade, eu sentia que precisava de muito mais esforço para acompanhar o ritmo. Essa sensação de insuficiência gerava um ciclo de frustração e autoexigência (com os quais lido até hoje), como se cada erro fosse uma confirmação do pensamento de que “eu não pertencia àquele lugar”. Por diversas vezes eu me perguntava “e se eu tivesse tentado outro caminho?”, “e se eu tivesse perseguido mais um determinado objetivo?”, “e se eu tivesse feito tudo diferente?”, e se…

Esses tantos “e se” alimentaram muita ruminação e incerteza. Na época, me parecia que ter todas essas dúvidas determinava que “eu não era um bom aluno”, “não seria um bom profissional” e “não conseguiria alcançar uma vida que valesse a pena ser vivida”. Felizmente, eu tenho percebido que essa narrativa era apenas uma história que minha mente contava, não uma verdade absoluta. Na verdade, eu estava fusionado aos meus pensamentos, sem conseguir observá-los como apenas o que são: pensamentos.

Aos poucos, venho percebendo um maior alinhamento com valores que eu considero importantes para a minha vida, venho percebendo que tenho conseguido fazer escolhas de acordo com objetivos que quero alcançar e que são guiados por esses valores. Naturalmente, isso não quer dizer que a partir de agora eu apenas faço escolhas “corretas” e que não erro mais. Apenas quer dizer que eu tenho mais consciência de quem eu sou e quem eu quero ser, que todas essas escolhas fazem sentido de acordo com o momento em que elas foram e são tomadas. As inseguranças não desapareceram por completo, e o mais provável é que nunca irão, mas aprendi a conviver com elas sem permitir que definam minhas escolhas, entendendo que o aprendizado é contínuo e que não preciso ser perfeito para seguir em frente.

Por mais tentador que seja, em vez de gastar energia pensando no que poderia ter sido, podemos nos perguntar: “considerando tudo o que vivi até agora, como posso agir de forma alinhada ao que realmente importa para mim neste momento?”. Afinal, não podemos mudar o passado, mas podemos escolher como seguir em frente.

Talvez seja esse o verdadeiro significado de olhar para trás sem arrependimentos — não tendo a certeza de que fiz todas as escolhas “certas”, mas reconhecendo cada experiência como parte da jornada. Como Green Day canta na música Good Riddance (Time of Your Life):

Então, tire as fotografias

E ainda guarde as imagens na sua mente

Pendure-as numa prateleira

De boa saúde e bons momentos

 

Tatuagens de memórias

E pele morta em julgamento

Pelo que vale a pena

Valeu a pena o tempo todo

 

É algo imprevisível

Mas no final é o certo

Espero que você tenha tido o melhor momento da sua vida

 

No fim das contas, todas as escolhas, acertos e tropeços nos trouxeram até aqui. E, apesar de tudo, foi o nosso caminho. Talvez seja hora de parar de se julgar pelo que já passou e simplesmente seguir em frente. Por mais difícil que seja esse exercício, fazer as pazes consigo mesmo tem seu valor.

Este texto é de autoria do estagiário da equipe CEFI Contextus – Pedro Henrique Puhl

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