No texto de hoje, vou abordar despedidas e novos começos, destacando como alguns processos das terapias contextuais me auxiliaram a encarar isso de outra forma. Para ilustrar, utilizarei a música “Yet to come (The Most Beautiful Moment)” do grupo sul-coreano BTS, que trata precisamente do encerramento de um ciclo e do início de outro.
(o vídeo possui legendas em inglês e espanhol)
A música, lançada pelo grupo em 2022, apresenta em sua letra uma despedida (temporária) aos fãs do BTS, que entrou em hiato algum tempo após esse lançamento. Isso se deu em consideração à vontade dos integrantes de se lançarem em carreiras solo, além da proximidade do alistamento militar (obrigatório para todos os homens cisgêneros sul-coreanos) dos membros. Cheia de referências a momentos passados do grupo com seus fãs, além de cenas de videoclipes anteriores, “Yet to come” marca um momento importante de mudança na vida de cada integrante.
Nas últimas semanas (ou talvez meses), tenho refletido muito sobre o encerramento de ciclos e acabei me recordando dessa música. Atualmente, sou estagiário de Psicologia Clínica no Núcleo Contextus, no CEFI, e, no final de janeiro, irei concluir meu estágio, enfrentando diversos momentos de despedida: das minhas colegas de estágio, da minha supervisora, dos clientes e desse título de “terapeuta” (ao menos por enquanto). Escrevo este texto como uma reflexão sobre o gosto agridoce dos finais: dizer “até logo” (ou mesmo “adeus”) a algo, ao mesmo tempo em que surgem diversas oportunidades de ocupar outros espaços, receber outros títulos e conhecer outros(as) companheiros(as).
Sim, o passado foi realmente o melhor
Mas o meu melhor é o que vem depois
Não estou brincando, não, com certeza
Rumo a esse dia
Até que eu fique sem fôlego
Você e eu, o melhor momento ainda está por vir
O momento ainda está por vir
Compreendo que, para chegar a janeiro tranquilo diante desse momento importante de mudança na minha vida – o encerramento do estágio e a aproximação da minha formatura –, precisei praticar muita aceitação radical. Aceitar radicalmente algo refere-se a encarar a realidade e não utilizar estratégias ineficazes para lutar contra ela (Linehan, 1993). A partir da aceitação, torna-se possível enxergar as coisas como elas são e pensar em maneiras eficazes de enfrentá-las. Antes, havia uma vontade de procurar qualquer maneira de me manter na posição de estagiário do CEFI, considerando o quanto me sentia resguardado e cheio de aprendizados. Entretanto, desde o momento em que compreendi que não havia como “fugir” da passagem do tempo, pude encontrar paz em relação aos meus anseios e receios sobre o término de um estágio tão significativo e bonito como este, e o medo de entrar em um ano cheio de incertezas e novidades. Faz sentido o medo de perder coisas bonitas que passam na nossa vida e ele é o próprio marcador dessa importância.
Um novo capítulo
Todo momento é um novo melhor
A partir disso, pude praticar a abertura para os sentimentos difíceis relacionados ao encerramento de algo que preencheu meu ano de 2023 com tantas coisas importantes e boas. Sentir medo me alertou para o quanto pude aproveitar meu estágio e o quanto ele foi significativo para mim. Tenho certeza de que ser terapeuta durante esse período me tornou mais flexível e capaz de utilizar habilidades importantes em várias áreas da minha vida. Consegui me vulnerabilizar, ser autêntico e corajoso, e, mesmo com a dor da despedida, nunca decidiria não ter passado pelo estágio no Núcleo Contextus. Sinto-me mais capaz, potente e profissional.
Aprendi a reconhecer melhor meus valores e a vida que quero viver: quero criar laços, fortificá-los; quero ajudar as pessoas sendo eu mesmo e auxiliando-as a serem a melhor versão de si mesmas. Quero poder levar tudo que aprendi aqui para meus próximos passos – assim como imagino que os membros do BTS fizeram.
Entendo que, mesmo tendo passado por um 2023 repleto de beleza e gratidão, tudo que aprendi será utilizado nas minhas próximas aventuras, no melhor que ainda está por vir. Não quero esquecer de agir de acordo com meus valores e procurar por esse melhor momento.
Ainda tenho muito o que aprender
Muitas coisas para preencher a minha vida
Se me perguntar o motivo
Meu coração fala
Este texto é de autoria da estagiária da equipe CEFI Contextus – Murilo Martins da Silva
Referência:
Linehan, M. M. (1993). Cognitive-Behavioral Treatment of Borderline Personality Disorder. New York, NY: The Guilford Press.