Tempo: um valioso presente

Eu fui a uma formatura de medicina no último final de semana em que um dos celebrantes falou que o bem mais precioso que nós temos, mais precioso do que a saúde, do que o conhecimento, é o tempo. Todos queremos ter mais tempo, tempo para fazer, falar, conectar, amar. Inclusive, ele comentou que muitas vezes os pacientes aceitam conviver com a doença, mesmo sendo uma doença grave e incurável, desde que possam ter mais tempo para conviver com as pessoas que amam e fazer o que é importante para eles.

 

Achei bem interessante esse discurso e me gerou algumas reflexões que gostaria de compartilhar no texto de hoje. Como você tem usado o seu tempo? A forma como você está usando o seu tempo está alinhada com a pessoa que você quer ser e com a vida que é valiosa para você? Essas perguntas podem evocar alguns julgamentos como: “eu não estou aproveitando meu tempo”, “eu deveria estar fazendo mais x, y e z”. Portanto, veja se é possível adotar uma postura aberta para escutar a resposta para essas perguntas, por mais que elas o conectem com algumas dores, com gentileza. Quantas vezes a gente pode não se permitir olhar para nós mesmos e para a forma como estamos vivendo pelo receio de entrar em contato com a tristeza, culpa, ou outra emoção desconfortável se nos notamos distantes dos nossos valores. Ao invés de nos punirmos por isso, podemos acolher essas emoções como mensageiras importantes daquilo que importa para nós e que queremos nos aproximar.

 

Se você tivesse mais tempo, o que você faria? Muitas vezes estamos muito atarefados, com rotinas sobrecarregadas e nos queixamos de ter pouco tempo. Esse é um relato bem comum que eu escuto (e que me queixo também, afinal, estou no mesmo barco). Bom, não temos como fugir da realidade como ela é, podemos ter muitas tarefas fixas por dia que não conseguimos alterar como trabalho, arrumar a casa, fazer comida, cuidar de filhos ou outros parentes, etc. Cada um, dentro do seu contexto, poderá ter tarefas que tomam grande parte do seu dia e que não são passíveis de mudança. Essa é uma aceitação radical da realidade. Mas ainda podemos nos questionar o que faríamos com mais tempo, pois isso pode nos ajudar a estar mais em contato com os nossos valores. A partir disso, posso pensar em formas de estar mais conectado com esses valores no meu dia dia, levando em consideração o meu contexto. Por exemplo, eu posso identificar que, se eu tivesse mais tempo, eu veria mais determinada pessoa, mas dentro da minha rotina, isso não é possível, então eu posso pensar em outras formas de estar conectada com essa pessoa como escrever uma mensagem para ela diariamente ou até mentalizar bons votos para essa pessoa em algum momento do meu dia.

 

Duas semanas atrás eu fui visitar uma pessoa bem importante para mim que está em fase terminal de um câncer. Foi um sacrifício fazer essa visita porque eu estava doente e precisei fazer uma viagem longa de carro para ver essa pessoa. Mas na hora que eu cheguei e ela me viu, por mais que estivesse bem debilitada, abriu um sorriso largo e na hora eu pensei “que bom que eu vim”. Por mais que eu tenha sentido essa alegria naquele momento, na sequência já vieram os julgamentos: “por que eu não visitei mais?”, “deveria ter aproveitado melhor meu tempo com ela, agora não posso consertar isso”. Faz parte, busquei dar espaço para a tristeza e a culpa que vieram com esses pensamentos e a conclusão que eu tive dessa viagem foi: valeu muito a pena! Que bom que eu tive o privilégio de ter esse tempo com essa pessoa, pois é somente isso que eu tenho, não posso voltar no tempo e mudar o que já aconteceu e não posso tentar controlar o futuro e o que vai acontecer. O tempo que eu tenho é o tempo que está acontecendo agora.

 

Se você está aqui, lendo esse texto agora, você está vivo, você tem uma vida, então você tem tempo! Como você quer usá-lo?

 

 

 

 

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Sobre o Autor
Mariana Sanseverino Dillenburg
Mariana Sanseverino Dillenburg - CRP 07/27708 Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Mestre em Psicologia Clínica pela PUCRS na área da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Especialista em Terapias Comportamentais Contextuais pelo CEFI/CIPCO. Possui treinamento em Terapia Comportamental Dialética (DBT) pelo CEFI. Experiência com atendimen... ver mais

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