Boas razões para tomar distância dos pensamentos!

Muitas vezes ficamos angustiados, tristes, até enraivecidos com pensamentos acerca de determinado tema, os quais se fixam e se multiplicam nas nossas mentes. Há diversas consequências além do mal-estar, tais como insônia ou ter um comportamento do qual nos arrependemos depois. Podemos dizer que se está fusionado com estes pensamentos e sensações. Por exemplo, se uma pessoa passou por uma traição num relacionamento anterior, pode ficar fusionada com a ideia de que “todos traem”, e ter o impulso de ficar perseguindo seu parceiro atual na tentativa de evitar novo sofrimento.

A alternativa seria a desfusão, ou seja, desfazer o vínculo ou fusão que nos conecta com pensamentos indesejados que limitam nosso desenvolvimento. Luoma, Hayes & Walser (2007) definem a desfusão como um processo de criar contextos não literais nos quais a linguagem possa ser vista como um processo ativo, contínuo e relacional, que é histórico por natureza e presente no momento. É desenvolver uma forma mais flexível de se relacionar com pensamentos, sentimentos, sensações e memórias, em vez de tentar mudar ou evitar seus conteúdos, enfraquecendo a função de esquiva dos eventos verbais aversivos.

Tudo isso porque damos a um pensamento a natureza da verdade, achando que as histórias constantes que contamos a nós mesmos são fiéis à realidade. Nós nos “fundimos” com esses pensamentos e crenças, como se fossem verdades absolutas. Acreditar literalmente nas narrativas que construímos com base em nossa infeliz experiência de vida pode nos levar a comportamentos autodestrutivos, inflexíveis e prejudiciais. Também nos leva a criar regras que nos dizem como “devemos” agir ou ser em determinadas situações.

O convite é reconhecer que os pensamentos são apenas isso: simples pensamentos. Neste terreno de convicções e narrativas que a desfusão cognitiva desempenha um papel importante como forma de nos desvincularmos dos nossos pensamentos, especificamente daqueles que se tornaram um problema. O que a desfusão cognitiva busca é nos ajudar a interagir com esses tipos de pensamentos.

Com estas estratégias aprendemos a observar produtos e processos de pensamento como são. Por exemplo: “estou tendo o pensamento…”, “com este pensamento estou sentindo…”. O objetivo é distinguir entre a atividade mental, nós mesmos e a realidade e, assim, obter perspectiva dos pensamentos. A desfusão cognitiva não visa mudar pensamentos disfuncionais (como faria a reestruturação cognitiva, por exemplo), mas sim nos ajudar a entender que o que pensamos nem sempre é verdadeiro ou inevitável. Além disso, auxilia na diminuição da influência dos pensamentos em nossos comportamentos e experiências e, consequentemente, facilitar a flexibilidade psicológica.

Há algumas técnicas de desfusão para facilitar a observação dos pensamentos. Como exemplo, a enunciação de um pensamento para nos desassociarmos de algo, ao conhecer esse algo e reconhecer sua existência, ou seja, aceitá-lo. Por exemplo, posso ter o pensamento: “sou incompetente” ou observá-lo com perspectiva, como “estou tendo o pensamento de que sou incompetente.” Isso nos separa do pensamento, na medida em que não é mais algo que somos, mas um pensamento que temos. Outra forma seria ver os pensamentos por de uma perspectiva mais ampla para ampliar nosso ponto de vista. Por exemplo, podemos tentar pensar a partir de um ponto de vista oposto ao nosso, como se fosse outra pessoa. Ainda mais, há as habilidades aprendidas com as práticas de mindfulness ou atenção plena, as quais ajudam a treinar a atenção, o que facilita a desfusão cognitiva, melhorando a capacidade de observação, facilitando uma resposta menos emocional a experiências internas e externas e mudando estilos repetitivos de comportamento que paralisam. Por fim, quando conseguimos observar nossas narrativas e pensamentos pelo que são, meras ideias em nossa mente, temos a possibilidade de ver com melhor perspectiva, clareza e, consequentemente, fazer escolhas mais funcionais para nossa vida.

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Sobre o Autor
Mara Lins
CRP 07/05966 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica (UNISINOS). Mestre em Psicologia Social (PUCRS). Especialista em Terapia de Casal e Família (CEFI). Treinamento em Terapias Comportamentais Contextuais. Treinamento em Terapia Comportamental Integrativa de Casal (Integrative Behavioral Couple Therapy-IBCT) com Andrew Christensen e sua equipe. Professora e Supervisora de cursos de pós-grad... ver mais

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