Às vezes, apenas reconhecer o que realmente está acontecendo
ao invés do que “deveria” estar acontecendo, é tudo o que é
necessário para transformar nossa experiência.
(Willians, Teasdale, Segal, Kabat-Zinn, 2007)
Este texto tem como base o capítulo 12 do livro Diferenças Reconciliáveis reconstruindo seu relacionamento ao redescobrir o parceiro que você ama, sem se perder (Christensen, Doss e Jacobson, 2018), o qual sugere estratégias de mudanças na relação conjugal por meio da Atenção Plena, ou Mindfulness.
Os autores propõem que a mudança desejada ou escolhida só pode ocorrer quando há consciência do que realmente está acontecendo. Se o casal não conhece a própria história, suas vulnerabilidades, seus padrões de interação, corre o risco de piorar as coisas, inclusive na intenção de ajudar. O ponto de partida do mindfulness é ter a atenção no momento presente com uma postura de não julgar, simplesmente observar os processos internos (pensamentos, emoções) e verificar os fatos externos. É estar aberto à experiência. A proposta de não julgar é devida ao fato de que os julgamentos podem turvar a consciência dos parceiros em relação às emoções
Sabemos que não é tão simples, pois exige compreensão de que nossas mentes produzem diversos pensamentos e a consciência da existência de mensagens emocionais oferece uma oportunidade de reconhecer as reações do parceiro. O reconhecimento do que o outro está passando pode evitar uma escalada emocional e consequente polarização.
Outro aspecto importante é que a conscientização do que está ocorrendo aqui-e-agora permite a possibilidade de escolha de comportamentos positivos em relação ao parceiro. Esta percepção oportuniza com que cada um identifique seus próprios sentimentos, ou as emoções do outro, e se porte de maneira a mudar o curso da discussão, numa comunicação mais construtiva.
Muitas vezes não conseguimos evitar um conflito, mas a consciência a partir de uma retrospectiva do que ocorreu pode auxiliar numa recuperação mais rápida. Os autores chamam de ‘consciência em retrospectiva ou a posteriori’, ou seja, observarmos o quanto acusamos e culpabilizamos o outro, se o que dissemos durante a discussão refletiu negativamente. É importante lembrar que o parceiro tem seu próprio lado da história, sua própria e legítima experiência no conflito. E, se a versão do outro não fizer sentido, talvez esteja nos faltando consciência do que realmente está acontecendo com ele. Pode ser que não tenha conseguido articular bem sobre sua posição, ou passou uma mensagem carregada de culpa e acusação, ou uma posição muito defensiva. Mesmo assim, há necessidade de maior consciência sobre o que aconteceu. A proposta é o entendimento da posição legítima de cada um para auxiliar numa recuperação mais rápida e discussões mais produtivas no futuro.
Por exemplo, os autores propõem uma pequena prática diante de uma dificuldade conjugal:
No início de um conflito, quando você e seu parceiro estão ficando tensos:
(START) Inicie uma comunicação diferente entre vocês dois;(Stop) Pare o que está
fazendo no momento; (Take a deep breath) Respire fundo; (Attend your emotions)
Preste Atenção ao que está acontecendo com você emocionalmente neste momento;
(Reveal your emotional state) Revele seu estado emocional a seu parceiro e (Take
an interest) Coloque interesse no que está acontecendo emocionalmente com seu
parceiro (Christensen, Doss & Jacobson, 2018, p. 332).
Há diversas formas de realizar mindfulness, e as práticas com casais propõem maior abertura e intimidade. É um modo de sair de uma discussão inefetiva, ao invés de ser levado pela carga emocional. É estar com o parceiro de forma centrada, respeitando as diferenças e se envolvendo em problemas difíceis de uma forma mais consciente. Por fim, é uma maneira de poder olhar para trás e ver que é possível lidar com as dores e dificuldades da vida conjugal por meio da sabedoria.
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