3 mitos sobre gestação e psicofármacos


A gestação é um período caracterizado por modificações hormonais, físicas e mentais que podem atuar diretamente na saúde da mulher. Não tratar a sintomatologia psíquica pode cursar com sérias consequências para a dupla mãe-bebê. A decisão de iniciar o uso de psicofármacos para a gestante deve basear-se na gravidade da doença mental desta e quando o risco para o feto for superado pelo risco do não tratamento da sintomatologia materna. Para isso, a equipe que acompanha a gestante, obstetra e psiquiatra, deve estar bem alinhada e em constante diálogo para uma avaliação acurada, indicada e correta. A fase mais vulnerável da gestação no que concerne ao desenvolvimento fetal, encontra-se no primeiro trimestre, mais especificamente entre a oitava e décima segunda semanas, neste período, sempre que possível, deve ser evitada a introdução de psicofármacos. Quando há indicação formal de terapêutica medicamentosa neste período, em virtude do prejuízo da gestante, deve-se priorizar a instituição de doses terapêuticas menores que atuem de forma significativa nos sintomas. A prevalência de transtornos mentais na gestação é semelhante a outras etapas da vida da mulher, devido ao prejuízo causado por estes sintomas na gestante, é de extrema importância a indicação de psicoterapia e, muitas vezes, avaliação psiquiátrica para introdução de psicofármaco.

Abaixo seguem 3 mitos em torno do uso de psicofármacos na gestação:

 

  • Mito: Gestante com síndrome ansiosa e/ou depressiva não pode usar antidepressivo.
  • Verdade: A ansiedade e o stress estão presentes ao longo de toda a gestação, por consequência, muitas vezes a gestante acha normal sentir-se assim e não atenta para sintomas mais expressivos. Cerca de 25 a 35% das mulheres apresentam sintomas depressivos durante a gravidez. A sintomatologia pode cursar com deterioro, prejuízo grave e risco de vida. As limitações decorrentes dos sintomas depressivos podem associar-se com diminuição de apetite, prejuízo no sono, apatia, perda de prazer nas coisas, ideação suicida, entre outros. A indicação formal de introdução de antidepressivo dá-se quando há prejuízo importante, priorizando-se a escolha dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina. Dentre estes, Fluoxetina e Sertralina têm preferência de escolha em virtude de serem fármacos mais seguros, sem evidência de risco para a mãe e para o bebê.

 

  • Mito: Gestante com transtorno bipolar não pode usar estabilizador do humor.
  • Verdade: O transtorno bipolar pode cursar com sintomas graves, tais como: agressividade, risco de suicídio, alucinações, impulsividade, para isso, exige-se a introdução de estabilizadores de humor para amenização dos sintomas. Na gestação, prioriza-se o uso de estabilizadores como a Lamotrigina, mais segura para gestante e para o bebê, quando comparados aos demais psicofármacos deste grupo. O Carbonato de Lítio pode ser usado com certo cuidado, fazendo tentativas de doses mais baixas do que as usuais e podendo seguir um plano de uso intermitente, quando do aparecimento dos sintomas, minimizando o risco para o bebê. 

 

  • Mito: Gestante com sintomas psicóticos não pode usar antipsicóticos.
  • Verdade: Gestantes podem apresentar transtornos psicóticos agudos e esquizofreniformes. Os sintomas psicóticos podem aparecer neste período, mesmo que previamente a mulher não tenha apresentado esse quadro, normalmente há história familiar associada e também pode ter relação, em alguns casos, ao início mais tardio de síndromes psicóticas em mulheres quando comparadas à população masculina. Estas enfermidades caracterizam-se por delírios persecutórios, de grandeza, alucinações auditivas e visuais, além de poder cursar com heteroagressão e ideação suicida com tentativa. Os sintomas são graves e torna-se imperativa a indicação de antipsicóticos para amenização e/ou remissão dos sintomas. Haloperidol é um antipsicótico antigo, mas que apresenta menos risco quando comparado aos antipsicóticos mais novos. Dentre os antipsicóticos atípicos, a Olanzapina também mostrou-se mais segura quando da escolha de farmacoterapia em gestante.

 

BÔNUS: Verdade – Evite usar benzodiazepínicos na gestação, são fármacos que podem induzir depressão respiratória no bebê, causando, com isso, dificuldade em respirar, entre outras complicações, além disso, podem induzir dependência química na mãe e no bebê!

A máxima é válida, se o risco da mãe em permanecer com os sintomas psíquicos supera o risco do uso de psicofármaco para a gestação e bebê, a introdução de psicofármaco é indicada e necessária!

 

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Sobre o Autor
Cláudia da Rosa Muñoz
CRM 30457 Médica graduada pela UfPel, psiquiatra pela Fundação Universitária Mário Martins, Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria, Curso de Aperfeiçoamento em Terapia Comportamental Dialética pelo CEFI/CIPCO e de Especialização em Terapias Comportamentais Contextuais na mesma instituição. Participou de treinamento intensivo em Terapias Contextuais real... ver mais

2 comentários em “3 mitos sobre gestação e psicofármacos”

  1. Eu faço tratamento a 10 anos de sindrome do panico, hoje utilizo alprazolam de 2mg por dia! Sei que esse fármaco pode causar mal formações (é o que eu escuto) e a miligrama é alta, então teria algum outro fármaco para eu me programar para engravidar?

    1. Katia,

      Parabéns pelo cuidado com sua gestação. Este assunto – psicofarmacos e gestação – é um assunto que demanda bastante carinho. Orientação sobre medicações em fórum publico e virtual, além de vetado pelos órgãos responsáveis, está aquem do que você merece. Recomendo que marque uma consulta com obstetra e com psiquiatra para ter o melhor e mais atualizado tratamento possível.

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