Vamos praticar o “não fazer”?

O dia a dia de muitas pessoas é repleto de afazeres, de tarefas a cumprir, de responsabilidades. E as práticas de mindfulness podem ser vistas como mais uma tarefa na lista. Porém, as práticas estão mais relacionadas ao “não fazer”, são um momento para observar o impulso de fazer, de resolver problemas e escolher não fazer, seguir apenas observando. Quando você está praticando mindfulness não precisa chegar a algum lugar ou atingir alguma meta, naquele momento o foco é estar onde você já está. O “não fazer” não está relacionado a uma atitude passiva, na verdade é preciso muita coragem para praticá-lo, indo contra os impulsos de resolver problemas e apenas permitindo que as coisas sejam como são.

Para compreender mais profundamente, Jon Kabat-Zinn, pesquisador pioneiro nas práticas de mindfulness, afirma que há 7 atitudes fundamentais para a prática. A primeira atitude é o não-julgamento, que possui qualidades semelhantes a uma panela não-aderente permitindo que as coisas passem e se movimentem em sua superfície, sem se prender a nada. Quando começamos a prestar atenção em nós mesmos é comum observar que passamos boa parte do tempo julgando, categorizando e rotulando a experiência. Assim, podemos nos tornar prisioneiros dos nossos julgamentos se reagirmos automaticamente a eles, sem sequer perceber. A prática não é sobre lutar contra os julgamentos de modo que eles não apareçam, mas sim sobre estar consciente da presença deles e apenas observar, sem ficar preso neles ou se deixar levar.

A segunda atitude é a paciência, que está relacionada a compreender que as coisas acontecem no seu próprio ritmo. Por exemplo, você pode se esforçar para tirar uma borboleta do seu casulo, mas ao fazer isso não está beneficiando a borboleta, por que ela só pode sair quando estiver pronta, no seu próprio ritmo. Assim como as borboletas, mesmo que você realize as práticas de mindfulness com certa regularidade, pode ser que você se distraia, que sua atenção fique indo e vindo, entre pensamentos e sensações. Nesses momentos o convite é compreender que você também precisa de tempo para viver o processo e aprender a partir dele, no seu próprio ritmo.

A terceira atitude é a mente de principiante, que se refere a observar a si mesmo e as situações como se você estivesse vendo pela primeira vez, como se nunca tivesse experienciado aquilo antes. Essa atitude pode lhe auxiliar a estar mais receptivo às novas experiências, já que cada momento é único e contém inúmeras possibilidades.

A quarta atitude é a confiança: confiar em si mesmo, na sua própria sabedoria. Ao observar o processo de outras pessoas, pode ser que você compare o seu processo com o do outro, criando expectativas sobre como as coisas deveriam ser. Contudo, quando praticamos, estamos aprendendo a ouvir e confiar no nosso próprio ser, no nosso processo, para, assim, nos tornarmos plenamente nós mesmos.

A quinta atitude é não lutar. Quase tudo o que fazemos na vida diária tem um objetivo, por isso a prática é diferente de tudo que conhecemos. Se estiver sentindo dor, esteja com dor, se estiver se criticando, observe os julgamentos – apenas observe. Durante a prática você pode permitir que o que está presente esteja ali, o convite é se abrir para isso, mantendo-se na consciência.

A sexta atitude é aceitação, que significa reconhecer a realidade como ela é. Muitas vezes gastamos muita energia negando a realidade ou lutando contra ela. A aceitação não significa que você precisa estar satisfeito com a realidade ou concordar. É  apenas estar disposto a observar a realidade como ela é. Por exemplo: se você aceita que está chovendo, só então pode abrir o guarda-chuva, mas se luta contra a chuva ou nega que a chuva está ali, não vai fazer nada a seu respeito.

A última atitude é soltar, quando você começa a prestar atenção na sua experiência pode notar que por vezes fica preso a certas sensações ou pensamentos, seja trabalhando para mantê-los por perto ou para evitar que eles permaneçam ali. Quando você se observar preso em algum aspecto da sua experiência, pode praticar soltar, de forma intencional, deixar de lado e seguir apenas observando.

Durante o dia você pode praticar o “não fazer” quando cultiva essas atitudes, permitindo que a vida se desenrole no seu ritmo sem forçar para que algo aconteça, sem rejeitar ou lutar contra a realidade “por que ela não é como deveria ser”. Você pode arranjar algum tempo pela manhã ou outro horário que seja possível para você, e praticar o “não fazer” simplesmente sendo, sentindo, sem agenda ou planejamentos. Experimentando a vida como ela é.

Este texto é de autoria do estagiário da equipe CEFI Contextus – Raphaele Nonnenmacher Colferai

 

 

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Sobre o Autor
Vanessa Stechow
Psicóloga (PUCRS). MBA em Gestão de Pessoas com ênfase em Estratégia (FGV/RS), Didata em Dinâmica dos Grupos (SBDG) e qualificação como Analista PDA (Personal Development Analysis). Formação Internacional em Coaching Executivo Organizacional - Metodologia Ontológica Transformacional com Leonardo Wolk, em Líder Coach pelo ICI e The Coaching Clinic – Corporate Coach U. Formação em Coaching de Equ... ver mais

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