TERAPIA DE CASAL IBCT: ESTRATÉGIAS DE MUDANÇA

  TERAPIA DE CASAL IBCT:                                              

                                           ESTRATÉGIAS DE MUDANÇA

                                                                                                                                                          Mara Lins   

A Integrative Behavioral Couple Therapy (Christensen, Doss & Jacobson, 2020) é a terapia de casal com base na abordagem teórica comportamental contextual. Inclui o conceito de Aceitação, considerado o “elo perdido” que faltava nas outras abordagens de terapias conjugais. Aceitação dos processos internos de cada pessoa, de aspectos da relação e do(a) parceiro(a) que não temos como mudar, como, por exemplo, as características de personalidade do outro. Sempre é importante ressaltar que não se refere a aceitar o inaceitável, como situações de violência.

O processo terapêutico é organizado por etapas: uma primeira fase, de avaliação e formulação do caso, e depois a fase ativa da terapia. Neste mesmo Blog há textos que esclarecem como é a primeira etapa, da Formulação de caso DEEP, palavra em inglês que quer dizer “profunda” e apresenta em forma de um acrônimo que se refere a avaliar: as (D) diferenças existentes entre os(as) parceiros(as); suas vulnerabilidades (E) emocionais; quais estressores (E) externos que possam estar interferindo; e o (P) padrão de interação ou de comunicação que o casal usa para tentar manejar suas questões.

Para o trabalho, há as estratégias e técnicas voltadas à Aceitação: União Empática, que trabalha com as vulnerabilidades emocionais, que todos temos, e na discriminação das emoções superficiais e profundas, o Distanciamento Unificado, que auxilia numa tomada de perspectiva, para avaliar a situação e auxiliar que o casal se una para lidar melhor com as dificuldades; e as técnicas de Tolerância, visto que nem tudo será aceito, mas poderá ter menor impacto na relação. As estratégias de Mudança são voltadas à transformação de determinadas condutas do casal que os mantém presos em uma armadilha de tentativas de resolver seus problemas, mas não conseguem. Este texto vai enfocar nas estratégias de mudança, já conhecidas da terapia de casal tradicional, mas com a complementação da perspectiva da IBCT.

Nesta abordagem, geralmente as últimas técnicas a serem utilizadas são as de mudança, porque, primeiramente, é essencial o casal compreender sua Formulação DEEP. As estratégias de mudança objetivam aumentar ou diminuir a frequência ou intensidade de alguns comportamentos e melhorar a comunicação e a capacidade de tomada de decisões para resolução de problemas. São elas a Ativação Comportamental Diádica, as Habilidades de Comunicação e as de Resolução de problemas. Veremos cada uma a seguir.

  • Ativação Comportamental Diádica:

Orienta o casal a monitorar, aumentar e reforçar determinados comportamentos considerados positivos. Um dos objetivos é salientar a importância de o casal resgatar aspectos bons, enquanto trabalham os negativos na terapia, para terem espaços/momentos agradáveis importantes e facilitar sua reaproximação. Também ressalta a responsabilidade de cada parceiro(a) não esperar que o(a) outro(a) faça algo e para só depois fazer também. Aqui cada um(a) assume sua atitude (ou ausência de) para melhora o relacionamento, pois a IBCT compreende que esperar pelo outro(a) fazer algo é dar o poder de mudança da sua vida para a outra pessoa.

  • Treino de Habilidades de Comunicação:

Como um treinamento, trabalha a habilidade de falar e de escutar, visto que são essenciais para qualquer relação. É comum cada parceiro(a) estar completamente fusionado(a) com suas próprias ideias e não ouvir o(a) outro(a). Por exemplo, um inicia expondo seu pensamento e a outra pessoa interrompe dizendo que não é assim, mesmo sem o primeiro ter terminado sua linha de raciocínio. A IBCT aponta que uma das maiores dificuldades para uma boa comunicação é a “Linguagem Expressiva”, ou seja, uma forma de falar agressiva com culpabilização, ou evitando tocar nos pontos importantes, ou duvidando do(a) parceiro(a) ou discutindo. Sendo assim, na própria sessão se realiza o treino de comunicação com diversas técnicas.

Uma das principais é a Conversa Falante-Ouvinte (site OurRelationship), na qual é solicitado que um fale todo seu pensamento, cuidando para não cair na Linguagem Expressiva, incluindo suas emoções profundas referentes ao tema. Após, é solicitado que o(a) outro(a) faça um resumo do que escutou, sem incluir sua própria opinião, pois terá sua oportunidade mais adiante, e mesmo que não concorde com que o primeiro falou, dizer o que de fato ouviu. Em seguida é solicitado para o “Falante” acrescentar algo que ache que o “Ouvinte” não pontuou. Após, há a troca de papéis e a pessoa que escutava tem sua vez para falar.

Os autores falam em “Regras de Ouro” para estas conversas: não julgar, controlar o tom de voz e evitar resolver problemas, porque o objetivo neste momento é a escuta efetiva, e quando alguém tenta dar uma solução, por melhor que seja sua intenção, o “Falante” se sente invalidado(a), não escutado(a). Haverá o momento de elencarem alternativas para resolver o problema, após treinarem bem as habilidades de falar e de escutar.

  • Treino de Habilidades de Resolução de problemas:

É o treinamento das terapias de casal tradicionais. Um dos principais cuidados nesta etapa é avaliar o momento adequado para ser utilizada, pois um casal que esteja ainda muito reativo, sem compreender seu padrão polarizado de interação, não terá proveito da técnica. É importante definir o problema de forma específica e bilateral. Para isto, são utilizadas as técnicas de comunicação anteriores, além de esclarecer qual é o papel de cada um na manutenção do conflito. O casal define o problema somente em termos do que se pode observar, para evitar que misturem muitos sentimentos nesta definição. A partir daí, o casal pode trazer diversas possibilidades de comportamentos que poderiam ter para resolver o problema, como um brainstorm, avaliar cada ideia, pontuar em termos de possibilidade de serem postas em prática ou não, escolher uma e experimentar. Também é necessário incluir um prazo para avaliar se a estratégia funcionou ou não. Há a possibilidade de trocar de alternativa, se a primeira não funcionou.

Por fim, aqui estão apresentadas algumas possibilidades do trabalho voltado às mudanças da IBCT, reforçando que cada parceiro(a) fará as mudanças que desejar, assumindo seu compromisso com a mesmas, facilitando que as transformações sejam em forma de contingências, ou seja, naturais, fato que possibilita que estas mudanças tendam a se manter, pois cada um(a) fará o que fizer sentido para si, sendo o(a) parceiro(a) que deseja ser na relação.

 

Referências

Christensen, A., Doss, B. D., & Jacobson, N. S. (2020). Integrative Behavioral Couple Therapy: A Therapist’s Guide to Creating Acceptance and Change. Second Edition (English Edition). New York: Norton.

Site: https://www.ourrelationship.com/

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Sobre o Autor
Mara Lins
CRP 07/05966 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica (UNISINOS). Mestre em Psicologia Social (PUCRS). Especialista em Terapia de Casal e Família (CEFI). Treinamento em Terapias Comportamentais Contextuais. Treinamento em Terapia Comportamental Integrativa de Casal (Integrative Behavioral Couple Therapy-IBCT) com Andrew Christensen e sua equipe. Professora e Supervisora de cursos de pós-grad... ver mais

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