Posterior à morte de um ente querido, é comum que os enlutados não queiram continuar experimentando tristeza nem recordar a pessoa que faleceu devido à dor dos sintomas ou à sensação de desconexão com a pessoa que morreu. Razão pela qual, na maioria dos casos, optam por neutralizar, controlar ou tentar fazer desaparecer essas sensações ou pensamentos.
O resultado de evitar essa experiência, a curto-prazo, é que diminui os sintomas dolorosos e/ou a sensação de desconexão com o ente morto, por isso esta estratégia é vizualizada como a “solução” para dar conta da dor entendida como “problemática”. O paradoxo desta estratégia é que, quanto mais tentar controlar ou evitar a experiência, esta ficará presente por mais tempo e, na maioria dos casos, tende a prolongar o curso, sintomas e dificuldades de funcionamento do processo do luto.
A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) é um modelo de tratamento cujo objetivo é desenvolver a flexibilidade psicológica nos clientes em processo de luto, ao invés de somente enfocar-se em reduzir seu mal-estar, favorecendo a adaptação e integração a esse novo contexto (Hayes et al., 1999). Esta adaptação é alcançada quando o enlutado identifica como suas estratégias utilizadas para reduzir a dor e/ou o mal-estar causado por sua perda interferem com a assimilação da perda e a adaptação a um meio onde o ente querido já não está. Pelo qual, o tratamento favorece que o enlutado mude o centro da atenção para os comportamentos que realçam e dão sentido a sua vida enquanto aprende a relacionar-se de uma forma distinta com sua dor (Cruz, Reyes, et al., 2017).
Dentro da ACT o terapeuta auxilia ao paciente a se expressar e permitir-se estar em contato com suas emoções, facilitando a aceitação das experiências privadas não desejadas e ajudando a entender as respostas do luto de uma forma aberta. Auxilia, ainda, no reconhecimento do impacto que teve a perda em sua vida e facilita para que a pessoa enlutada viva uma vida de acordo com seus valores, com o que é importante para si, sem lutar internamente contra os obstáculos que sua mente lhe atribui para evitar sentir o que simplesmente já existe dentro da pessoa.
O tratamento da ACT se enfoca em favorecer os processos que incrementam a flexibilidade psicológica a partir dos estilos aberto (i.e. aceitação, desfusão), centrado (i.e. contato com o momento presente, eu como contexto) e comprometido (i.e. valores, ação comprometida).
Ajudando, assim, a que o cliente possa oscilar entre estar em contato com sua experiência de luto enquanto realiza ações comprometidas em direção ao que é importante em sua vida para se adaptar a estas mudanças.
Referencias:
Cruz, J. I., Reyes, M. A., & Corona, Z. I. (2017b). Duelo: Tratamiento basado en la terapia de Aceptación y Compromiso. CDMX: Manual Moderno.
Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wilson, K. G. (1999). Acceptance and commitment therapy: An experiential approach to behavior change.