Qual terapeuta eu quero ser hoje?

As terapias contextuais comportamentais, também chamadas de terceira onda, surgiram nos anos 80 e tem aumentado o seu número de seguidores ano após ano. Compartilham das bases comportamentais da primeira onda e se diferencia, tanto primeira e quanto da segunda, pela sua filosofia contextual funcional. Além disso, diferentes abordagens clínicas (ACT, FAP, DBT, IBCT…) incorporam as terapias de terceira onda, o que faz com que muitos terapeutas se definam como um terapeuta contextualista funcional.

Não é exclusivo das terapias cognitivo comportamentais o grande número de abordagens para entender o ser humano. Se incluirmos a psicologia como um todo, o número se multiplica para centenas. É um caos. Você não encontra a mesma situação na medicina, por exemplo. Imagine dois ortopedistas conversando sobre uma fratura na mão de um paciente: “quebrou a mão apertando o cinto, qual o procedimento que devemos tomar?” ao que o outro responde “depende… estava atrasado para o trabalho ou foi pego com o(a) amante?”. Isso acontece na psicologia. De uma maneira sutilmente distinta, mas acontece. É comum em salas de aulas, conversas entre colegas da área, ou informais com amigos, surgir alguma pergunta em que o psicólogo se depara com a inevitável resposta “depende…”.

É compreensível. Um evento psicológico envolve muitas variáveis (por exemplo, aspectos sociais, antropológicos, étnicos…).  Desde o dia em que a gente nasceu até o momento em que a pessoa quebrou o dedo, muita história de aprendizagem aconteceu. Um terapeuta contextual funcional leva em conta, além das já citadas,  as contingências diretas, relações arbitrárias, derivações, função comportamental… de modo que uma simples resposta topográfica pode ser que não se encaixe a sua pergunta.  

Do mesmo modo, pensando que cada pessoa tem uma história de vida e, é certo, não existem dois iguais neste mundo, é lindo ver que isso acontece. Enriquece o campo. À medida que vamos estudando psicologia, nos deparamos com diversas perspectivas de entender o ser humano. E independente do motivo que seja, começamos a estudar aquele que faz mais sentido para nós, que nos leve ao lugar que queremos estar. Se somos todos diferentes, com nossas histórias de aprendizagem, como poderíamos chegar a apenas uma teoria psicológica?  

Durante a história das terapias cognitivos comportamentais rupturas foram ocorrendo e novos entendimentos do indivíduo surgiram. As terapias comportamentais contextuais são uma continuação das terapias comportamentais. Após o surgimento e fortalecimento da segunda onda, alguns seguidores das terapias comportamentais continuaram a evoluir sua ciência, chegando hoje a ciência comportamental contextual. Entrei nessa um pouco por acaso. Foi num workshop de um argentino em 2014, em que o CEFI convidou Fabian Olaz (momento merchandising) para falar sobre ACT e terapias contextuais.

Desde então, formação, especialização e derivados (tanta coisa que um texto apenas sobre a história das terapias contextuais comportamentais poderia ser feito) foram criados e outras pessoas estão estudando esta ciência, sendo hoje um termo que está na moda. O que é bom. E também é preciso ser visto com um pouco de cuidado. Estar na moda pode fazer com que se perca o que elas realmente são. No caso de ACT, tem teoria (RFT) e filosofia por trás da terapia. Gerar flexibilidade psicológica para ir em direção aos valores junto com as sensações desagradáveis é o que se busca em terapia. Influência e precisão são princípios básicos do contextualismo funcional e banalizar os termos (por exemplo, flexibilidade psicológica) se faz perder justamente isso.

Como eu faço então? Não sei. Sob o ponto de vista ACT, a flexibilidade psicológica é, em princípio, um processo e um resultado. No entanto, na prática, o primeiro se mostra mais provável, já que é improvável que você alcance a máxima flexibilidade em qualquer habilidade. Assim como a formação. Leitura e treino me ajudam para isso. O trabalho pessoal é fundamental para o autoconhecimento. Como já dizia Skinner (1945),  “o autoconhecimento tem um valor especial para o próprio indivíduo. Uma pessoa que se tornou consciente de si mesma, por meio de perguntas que lhe foram feitas, está em melhor posição de prever e controlar seu próprio comportamento”. Fazer perguntas a mim mesmo é uma forma simples de tomar perspectiva da minha própria conduta. E você, já se fez a sua hoje? Qual terapeuta você quer ser hoje?

                                          

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Sobre o Autor
Equipe Contextus
A equipe CEFI Contextus é formada por profissionais de Psicologia e Psiquiatria que iniciou treinamento amplo e aprofundado em Terapias Comportamentais Contextuais desde o ano de 2013. Desenvolve tratamentos psicoterápicos utilizando abordagens como FAP, ACT, DBT e IBCT. Sua atuação se volta a auxiliar as pessoas a estarem presentes em suas próprias vidas, a aceitarem que o sofrimento faz parte... ver mais

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