Por que é tão difícil falar sobre o suicídio?

O suicídio impacta de forma direta na sociedade, Cerel et al. (2018) sugerem que por cada morte por suicídio, 135 pessoas são expostas, o que significa 1,4 milhões de pessoas expostas só no Brasil.

Quando consideramos o impacto na família, os pais das vítimas de suicídio têm consideráveis problemas sociais e de saúde após da morte de seus filhos, incluindo taxas elevadas de depressão, ansiedade, dificuldades na estrutura familiar nos primeiros dois anos e separação conjugal (Bolton et al., 2013). Os filhos de pais que morreram por suicídio têm taxas maiores de depressão, abuso de álcool ou sustâncias até 21 meses após a morte do que os filhos de pais que morreram por outro tipo de morte (Brent et al., 2009).

A dificuldade para falar sobre o suicídio acontece, inclusive, com pessoas próximas, como familiares e amigos, seja pela culpa, vergonha e medo de serem rotulados ou invalidados, e, em alguns casos, por se sentirem responsáveis pela morte do ser querido e com a sensação de que deveriam fazer mais.

As estratégias para lidar com as experiências emocionais são variadas, alguns evitam falar sobre o tema, mudam de endereço ou, em outros casos, modificam a história da morte para evitar o estigma por associação. Também os familiares diminuem sua interação social, por vergonha de não saber o que dizer ou como os outros vão reagir, falando pouco sobre o que aconteceu, tentando cuidar a imagem do ser querido, e com a sensação de pouca compreensão de seu entorno sobre sua perda, sentindo-se inadequados e dificultando a expressão emocional que ajudaria a elaborar seu luto.

A comunidade em geral favorece certa vulnerabilidade por não falar sobre o suicídio, atribuindo atitudes e associações negativas para as pessoas que pensam ou tenham alguma tentativa de suicídio. Estes preconceitos são estendidos também para amigos, familiares ou pessoas vinculadas com a pessoa que tentou o suicídio, o que aumenta o estrese e diminui a qualidade de vida das pessoas afetadas, gerando, no pior dos casos, um rompimento familiar e social para evitar o estigma da morte por suicídio.

No caso dos profissionais da saúde que trabalharam direta ou indiretamente com um paciente que pensa em suicídio, também experimentam a perda da pessoa, e em muitas ocasiões se sentem responsáveis pela morte, com a sensação de fracasso por não conseguir prevenir. A resposta em geral é parecida com a dos familiares: evitam falar sobre o que aconteceu pelo medo das reações dos familiares, colegas, demais profissionais, ou de serem responsabilizados pela morte, dificultando a continuidade do seu trabalho e diminuindo sua qualidade de vida, além de não terem um espaço para falar sobre o suicídio do seu paciente.

O suicídio é uma problemática estigmatizada, sendo que sua expressão natural e aberta é restrita em múltiplos contextos, inclusive com as pessoas com risco de suicídio, que avaliam sua própria experiência com as mesmas atitudes negativas que a cultura coloca sobre o suicídio.

O resultado desta auto-estigmatização é que a pessoa modifica a percepção do que está sentindo, incluindo julgamentos sociais e gerando preocupação sobre o que os outros possam fazer ou pensar deles, e com a sensação de ser inadequados por ter ideias relacionadas ao suicídio.

Estas condições podem influenciar para que a pessoa com risco de suicídio não expresse o que está sentindo, diminuindo a possibilidade de receber suporte ou ajuda de suas redes de apoio. Ao mesmo tempo, a comunidade não sabe como lidar com o tema, e geralmente tem medo de falar, como se não falar sobre o problema fizesse com ele desaparecesse, ou, ainda, pelo medo de não saber o que fazer ou que dizer. A estratégia para lidar como o medo termina sendo a mesma: evitar falar sobre o suicídio.

O que fazer?

Precisamos falar sobre o suicídio, e precisamos escutar com consciência, sem julgamentos, interessados realmente em entender o que está acontecendo, o que estamos escutando, e colocando cada resposta no seu contexto.

Simplificar o suicídio classificando-o em sintoma, sem entende-lo dentro da família, dentro da sociedade, dentro da cultura, só favorece o isolamento e a solidão que afeta a tantas pessoas que são impactadas por suicídio no mundo.

O suicídio é um tema complexo e com múltiplas variáveis, e para diminuir os riscos precisamos estar abertos a escutar e falar, gerando um ambiente favorável para cuidar-nos como sociedade. É importante entender o suicídio amplamente, somos parte desse contexto que pode fazer a diferença e gerar condições para encontrar o entendimento que precisamos.

Falar sobre o suicídio evita sua estigmatizacão.

Se você foi impactado pela morte por suicídio de um ser querido CEFI CORA, é um espaço com profissionais expertos em luto e perdas, que podem te ajudar a trabalhar com teu luto e conseguir continuar com tua vida sem que tau dor seja um obstáculo.

Se você ou algum familiar está tendo ideação suicida ou risco de suicídio CEFI VIDA é um espaço com professionais especialistas no manejo do risco de suicídio que podem te ajudar neste momento tão difícil.

Se você ou algum familiar tem dificuldades de regulação emocional e crises recorrentes CEFI CONTEXTUS, é um espaço com expertos em terapias Comportamentais Contextuais, as quais tem evidencia que funcionam para o trabalho de problemas de regulação emocional ajudando a que você possa viver uma vida com maior flexibilidade, harmonia e baseada nas coisas que são importantes para você.

Agende agora seu atendimento:

051 33461525 ou 051 994207006 (apenas WhatsApp)

Porto Alegre

Rua Carlos Trein Filho 34

Bairro Auxiliadora, Porto Alegre/RS

CEP 90450-120

Horário especial durante a pandemia:

De segunda à quinta das 13h30 às 19h

e na sexta das 9h às 13h.

Publicado anteriormente en:

https://www.cefipoa.com.br/br/por-que-e-tao-dificil-falar-sobre-o-suicidio

Compartilhe

Sobre o Autor
José Ignacio Cruz Gaitán
Psicólogo. Mestre em Psicoterapia. Membro dos Núcleos VIDA, CORA e CONTEXTUS no CEFI. Formado em Terapia dialéctica Conductual pelo Behavioral Tech e com múltiples treinamentos em Terapia de Aceitação e Compromiso, Terapia Analítico-Funcional e diversas terapias Contextuais. Coordinador do Núcleo Vida para a atenção ao risco de Suicidio e Coordinador da especialização em Terapias Comportamentai... ver mais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *