O que é a Terapia Comportamental Integrativa de Casal, ou IBCT?

O que é a IBCT?

O casamento é o processo de escolher a
pessoa certa com quem ser incompatível. Evan Esar

       A terapia de casal que tem como base as terapias contextuais é a Terapia Comportamental Integrativa de Casal (Integrative Behavioral Couple Therapy-IBCT). Seus principais autores foram Neil Jacobson e Andrew Christensen. A IBCT propõe a Aceitação como um dos principais diferenciais em relação a outras modalidades de terapia de casal. O termo ‘Integrativa’ sugere integração entre a mudança e a aceitação (South, Doss & Christensen, 2010).
Estudos comparativos entre a Terapia de Casal Comportamental Tradicional (Traditional Behavioral Couple Therapy-TBCT) e a IBCT demonstraram que os casais em TBCT apresentaram rápida melhora na satisfação conjugal seguida por uma estabilização durante o tratamento e volta ao funcionamento anterior no seguimento de dois anos. As limitações se referem a bons resultados para casais jovens, com pouco estresse, ligados emocionalmente e com flexibilidade. Os casais que receberam a IBCT mostraram melhoria gradual, principalmente em relação à comunicação construtiva. Os ganhos se mantiveram após dois anos. Ser casado por mais tempo foi associado com maior probabilidade de mudanças positivas para IBCT. As variáveis relacionadas com o Compromisso estão associadas com resultados clinicamente significativos em 5 anos de follow-up. A IBCT demonstrou que é efetiva principalmente para as relações com maior duração e que possuem conflitivas mais difíceis (Cordova, Jacobson & Christensen, 1998; Christensen, Atkins, Yi, Baucom & George, 2006; Doss, Thum, Sevier, Atkins & Christensen, 2005; Barraca Mairal, 2015).
O trabalho com a IBCT tem um processo de avaliação inicial para a formulação do caso, no qual a primeira sessão é com o casal junto, as duas seguintes são com cada parceiro/a individualmente, os quais respondem a questionários e, por fim, há outra sessão conjunta para devolução da formulação de caso e contrato terapêutico. A agenda usual dos casais é sentir mais, melhor e diferente um do outro: geralmente esperam que o/a outro/a mude para que a relação fique bem. A formulação de caso é em torno de padrões comportamentais mais comuns, classes de respostas mais típicas, tais como controle versus responsabilidade, dependência versus autonomia, proximidade versus distância. Um dos principais aspectos é a armadilha mútua na qual o casal se insere na tentativa de resolver seus problemas ou diferenças. Por vezes estas mesmas tentativas representam a reatividade emocional que impede respostas possíveis. A tentativa de solução é manifestada por críticas (ou invalidação do outro), discussões acaloradas, silêncios mortíferos… estes padrões, que originalmente seriam tentativas para resolver o problema, se transformam na ‘doença’ da relação conjugal (Jacobson, Christensen & Doss, 2014).
Os autores propõem, antes de iniciar a terapia, a realização da Formulação de Caso DEEP. Este acróstico em inglês significa profundo, isto é, uma avaliação profunda do funcionamento conjugal. Cada letra representa: Diferenças do casal em relação ao tema de conflito, questões Emocionais diante do tema (muitas vezes desconhecido para o cônjuge), fatores Externos que possam estar influenciando na polarização do casal (por exemplo, a família de origem, mudança de trabalho, etc) e o Padrão comportamental utilizado para lidar com os temas. Como auxílio para coleta de dados para a formulação do caso, são aplicados questionários que se referem ao último mês antes da busca pela terapia de casal. Estes avaliam a satisfação conjugal, o grau de compromisso com a relação, os pontos fortes do casal, as áreas problemáticas, se há ou não violência, frequência e aceitabilidade de comportamentos positivos e negativos de cada parceiro/a. O feedback é discutido com o casal, o qual se posiciona em relação a iniciar, ou não, a terapia de casal.
A intervenção é por meio de sessões organizadas partindo de incidentes recentes que se conectam aos problemas básicos (presentes na formulação de caso). Pode ser utilizado um questionário semanal, o qual avalia a satisfação, incidentes positivos e negativos durante a semana ou alguma situação que possa estar por acontecer. Funciona como agenda para a sessão. As técnicas de intervenção são gradualmente propostas de acordo com as necessidades do casal. As estratégias de mudança se referem ao padrão de comunicação e de resolução de problemas, ambas da terapia tradicional, somadas às novas estratégias da IBCT que são de Aceitação e Tolerância. As estratégias de aceitação são usadas como ferramentas para gerenciar as incompatibilidades, as diferenças que parecem problemas irreconciliáveis. Envolve recuar da insistência em mudar o outro, desapego da ideia de que as diferenças mútuas são insuportáveis e abandonar a luta para moldar o casal numa imagem idealizada de relação. Por fim, é um método pelo qual os problemas podem servir como veículos para melhorar a intimidade e proximidade mútua. Há duas principais formas de trabalhar a Aceitação:
1) União Empática
Propõe expressar a dor ou a angústia de uma forma que não inclua acusação, acessando as emoções brandas que estão por trás das duras. É uma forma de perceber que somos o que somos devido às experiências da vida, e não como seres errados. Uma maneira de gerar essa aceitação é colocar o comportamento de um parceiro em contato com sua história pessoal. O que se faz é contextualizar a conduta que é considerada problemática dentro da formulação do problema. Assim, o comportamento negativo é visto como parte de suas diferenças.
2) Distanciamento Unificado
Refere-se a distanciar dos conflitos e discussões por meio de uma análise intelectual do problema e favorecer o diálogo imparcial, descritivo. Trata-se de poder falar sobre um incidente negativo quando ele surge como se fosse “ele”, visto que, muitas vezes, esquecemos o ser humano e ficamos com a etiqueta atribuída a ele. Parte do trabalho é aliviar as categorias, afastar das palavras, baixar o nível de crítica. E é unificado, porque precisa dos dois juntos para enfrentar o problema.
Um aspecto importante é parar de manter os pensamentos como verdades pragmáticas, mas não é um pedido para mudar, debater ou desafiar os pensamentos, é poder vê-los pelo o que são: pensamentos, os quais devem ser observados com curiosidade. Para isto são necessárias práticas que promovam um estado de mindfulness, ou atenção plena.
As estratégias de Tolerância são um nível diferente de aceitação. Se esta não pode ser conseguida, ao menos tolerar o comportamento do outro, tanto quanto for possível (salvo situações extremas como, por exemplo, violência e dependência química). Em alguns casos, as técnicas de tolerância podem facilitar o caminho para a aceitação. Já as estratégias de mudança não são diferentes da terapia tradicional, propõem aumentar ou diminuir a frequência ou intensidade de certos comportamentos, treinamento em habilidades de comunicação (por exemplo, utilizar uma linguagem não culpabilizadora) e resolução de problemas. Acrescenta, ainda intervenções de autocuidado, partindo do princípio de que o parceiro/a não pode satisfazer todas as necessidades ou mesmo qualquer necessidade em particular todo o tempo, e explorar possibilidades de autocuidado para satisfação pessoal.
Por fim, a IBCT tem por principal objetivo um relacionamento mais adaptativo à realidade psicológica de cada cônjuge, baseado em aceitação, a qual é considerada o elo perdido que faltava para a terapia de casal. A proposta não é não ter problemas, mas ter uma vida conjugal satisfatória, com intimidade e compreensão da história, aproximando-se do que refere Galway Kinnell: Deixe nossas cicatrizes se apaixonarem!

Referências
Barraca Mairal, J. (2015). Integrative Behavioral Couple Therapy (IBCT) as a third-wave therapy. Psicothema, Vol. 27, No. 1,      13-18. Recuperado em maio de 2015: http://web.a.ebscohost.com/ehost/pdfviewer/pdfviewer?vid=3&sid=fc69306e-1708-  4e88-b11c-89689c6913d5%40sessionmgr4003&hid=4207
Cordova, J. Jacobson, N. Christensen, A. (1998). Acceptance versus change interventions in behavioral couple therapy: impact on couples in-session communication. Journal of Marital and Family Therapy. Volume 24, Issue 4, pages 437–455, October 1998. Site visitado em outubro de 2014: http://www.readcube.com/articles/10.1111%2Fj.1752-0606.1998.tb01099.x?r3_referer=wol&tracking_action=preview_click&show_checkout=1
Christensen, A. Atkins, D. Yi, J. Baucom, D. George, W. (2006). Couple and Individual Adjustment for 2 Years Following a Randomized: Clinical Trial Comparing Traditional Versus Integrative Behavioral Couple Therapy. Journal of Consulting and Clinical Psychology, Vol 74(6), Dec 2006, 1180-1191. Site pesquisado em outubro de 2014: http://dx.doi.org/10.1037/0022-006X.74.6.1180
Christensen, A. Doss, B. Jacobson, N. (2014). Reconciliable differences: Rebuild your relationship by rediscovering you love – without losing yourself. New Yor: The Guilford Press. Second Edition.
Doss, B. Thum, Y. Sevier, M. Atkins, D. Christensen, A. (2005). Improving Relationships: Mechanisms of Change in Couple Therapy. Journal of Consulting and Clinical Psychology, Vol 73(4), Aug 2005, 624-633. Site pesquisado em agosto de 2014: http://dx.doi.org/10.1037/0022-006X.73.4.624

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Sobre o Autor
Mara Lins
CRP 07/05966 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica (UNISINOS). Mestre em Psicologia Social (PUCRS). Especialista em Terapia de Casal e Família (CEFI). Treinamento em Terapias Comportamentais Contextuais. Treinamento em Terapia Comportamental Integrativa de Casal (Integrative Behavioral Couple Therapy-IBCT) com Andrew Christensen e sua equipe. Professora e Supervisora de cursos de pós-grad... ver mais

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