Escolhas para ela

Fazer escolhas. Saber o que é melhor para mim. O que é mais importante. São exercícios que vamos fazendo ao longo da vida. Escolher é desafiador porque quando escolhemos um caminho, deixamos um outro. Também porque quando escolhemos um caminho podemos frustrar a nossa expectativa e a de alguém que amamos. Enquanto adulta que sou, fui experimentando diferentes desafios ao longo do percurso de fazer escolhas. 

Agora como mãe, escolher tomou outra perspectiva, ainda mais intensa. Escolher para ela, escolher por ela. Isto tem um peso. O efeito das minhas escolhas sobre a minha filha me mobiliza de uma forma importante. Penso, por exemplo, nas grandes amigas que tenho hoje. Se não fosse a escolha de creche e de escola que meus pais fizeram por mim, com quem eu choraria minhas lágrimas e brindaria minhas conquistas? São rostos e histórias que eu nunca saberei, e está tudo bem porque eu aprecio demais os tesouros que carrego desde lá. Que sorte a minha a escolha dos meus pais –  que amizades valiosas pude construir. Com isso, me pego pensando nas escolhas para a Júlia e no quanto elas podem ser determinantes da vida que ela vai ter e dos amigos de infância que vai fazer. Noto o peso desta responsabilidade. O meu desejo de escolher o melhor por ela. Observo minha cobrança e meu medo de errar. Me afasto um pouco e busco fazer espaço para essas sensações. Lembro que eu não tenho controle. Sinto um frio na barriga. Respiro e dou espaço para ele. Observo minha mente tentando buscar refúgio: existem boas pessoas em todos os lugares. Relações de amizade são construídas em diferentes contextos e momentos de vida. Noto meu autojulgamento de estar mobilizada com esta escolha. Em seguida, posso observar que a escolha mobiliza porque a vida que a Júlia está construindo me importa. Consigo, então, ser mais compassiva comigo.

Hoje pude estar com ela numa festa infantil que me encantou. A simplicidade das brincadeiras e dos brinquedos de madeira, a alegria e a espontaneidade dos recreacionistas e das crianças aproveitando a festa. A cantoria de um dos animadores e a proposta de imaginação que foi feita. Adultos e crianças se divertindo e interagindo, juntos. O convite para cada um fechar os olhos e brincar de viajar em um balão, enquanto todos sacudiam um grande tecido colorido e redondo em alusão a uma viagem de balão. Foi um lembrete de que busco um lugar onde minha filha possa brincar muito, explorar a fantasia, a espontaneidade, a criatividade e toda a beleza dessa fase da vida em que o “compromisso” é conhecer o mundo através do lúdico. Se conhecer e se constituir. Que este caminho seja leve, colorido, alegre e cheio de descobertas, amizades, construções e vínculos. Que o ambiente seja afetiva e estruturalmente o mais seguro possível, tamanha sua importância e seu lugar na construção da Júlia no mundo e na vida.

Este texto tangencia alguns conceitos propostos pela Terapia de Aceitação e Compromisso, proposta por Steven Hayes, tais como valores, aceitação, desfusão.

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Sobre o Autor
Martha Wallig Brusius Ludwig
Martha Wallig Brusius Ludwig CRP 07/13821 Psicóloga graduada pela Pucrs. Atua como psicoterapeuta individual na clínica há 15 anos. Trabalha com capacitação e supervisão de profissionais da saúde (nutrição, enfermagem, psicologia) para melhorar motivação e adesão a novos comportamentos, assim como com orientação de grupos de treino de pais. Atuação com grupos interdisciplinares de mudança do e... ver mais

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