Ai, que vergonha!

Você já sentiu vergonha? Consegue perceber como esta emoção interfere na sua vida? Consegue reconhecer algumas situações que foram ou são gatilhos para desencadear essa emoção? 

Existem algumas expressões que são mais comuns quando a vergonha aparece, como ficar com o rosto ruborizado, desviar o olhar ou esconder o rosto. Mas cada pessoa tem suas próprias sensações internas ao experimentar a vergonha. Você consegue identificar o que sente no seu corpo, o que passa na sua mente e como seu comportamento muda em função da presença dela?

          “A vergonha é o sentimento ou a experiência intensamente dolorosa de acreditar que somos inadequados e por isso indignos de aceitação ou acolhimento” (Brown, 2019).

A vergonha, entre outras coisas, faz com que nos sintamos sozinhos. E ao ouvir experiências semelhantes às nossas, conseguimos perceber que não estamos sós e simplesmente por ouvir o relato do outro pode ser que sejamos tomados pela vergonha, tipo uma “vergonha empática”. Por outro lado, quando escutamos histórias de vergonha que não fazem parte da nossa experiência, o distanciamento é uma reação frequente. E junto vem o julgamento, a rejeição e a recriminação que alimenta a vergonha. Afinal, quem vai querer se expor tendo grandes chances de não ser aceito, de não ser entendido e ainda por cima de ser rejeitado? 

É tão difícil dar conta do que estamos experimentando que, por vezes, quando sentimos vergonha ou medo da vergonha é possível que tenhamos comportamentos de atacar ou humilhar os outros, deixar de ajudar alguém mesmo que a pessoa precisa de ajuda; ou podemos até mesmo ter comportamentos autodestrutivos. Frente ao exposto, dá para entender que seja comum que a vergonha gere medo, culpa e desconexão. 

É preciso lembrar que somos seres sociais e como tal temos necessidade de conexão. Quando temos uma parte nossa revelada, tememos que ela seja motivo de desconexão e não aceitação por parte das pessoas ou grupo de convivência, podendo modificar as relações ou perdê-las. Quando sentimos vergonha, somos tomados pelo medo de ser humilhado, diminuído e ridicularizado. 

Pode ser que às vezes deixemos de fazer coisas importantes para evitar de sentir vergonha, ou ainda tomemos como verdade o que a emoção diz de nós mesmos  (“sou inadequada”, “não sou uma boa amiga porque fiz isso/ porque não fiz isso”, etc). 

A má notícia: não tem como nunca mais sentir vergonha, porque não temos controle sobre isso. Agora vem a boa notícia: podemos tomar uma atitude diferente quando ela vier nos visitar, diminuindo a nossa vulnerabilidade a ela. 

Como nos tornarmos mais resilientes à vergonha e levarmos uma vida mais autêntica? Nos direcionando à coragem, à compaixão e à conexão. 

Vamos entender  o que é cada elemento descrito aqui:

  • CORAGEM: a definição mudou ao longo do tempo. Atualmente está ligada ao heroísmo, porém nas concepções mais antigas, a palavra coragem significava “dizer tudo que está no coração”. 
  • COMPAIXÃO: disposição de estar aberto às experiências, que implica aprender a relaxar ao mesmo tempo que caminhamos na direção daquilo que nos assusta, mas que tem um propósito.
  • CONEXÃO: apoio mútuo, experiências compartilhadas, aceitação e sensação de pertencimento.

Tendo entendido estes conceitos, vamos a prática: 

  1. Tente reconhecer e compreender os gatilhos que disparam vergonha. 
  2. Cultive a disposição para estender a mão ao outro quando notar que a pessoa sente vergonha.
  3. Compartilhe com pessoas que você confia aquilo que lhe dá vergonha.
  4. Faça mais de uma vez aquilo que lhe dá vergonha em um ambiente que possa lhe acolher.
  5. Tenha amor por si e trate-se com carinho quando se perceber com vergonha.

Então, na próxima vez que a vergonha lhe visitar, que você acha de tentar praticar alguma dessas dicas acima? Veja o que acontece e observe se ajuda a se relacionar melhor com essa emoção tão incompreendida, dando um pouco de espaço a ela na sua vida sem deixar que ela faça mal a você ou às suas relações.

Referência: Brown, Brené. Eu achava que isso só acontecia comigo. Rio de Janeiro: Sextate, 2019.

 

Compartilhe

Sobre o Autor
Rafaela Teló Klaus

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *