A partir da década de 50, os psicofármacos tornaram-se uma revolução no tratamento daqueles antes denominados “loucos”. No lugar dos manicômios e terapia por eletrochoque, a medicação promoveu ao paciente uma diminuição de seus sintomas e sofrimento, a adaptação e integração do indivíduo à sociedade, e a diminuição das internações em hospitais psiquiátricos. Possibilitou também o reconhecimento do paciente com doença mental como sujeito que necessita de cuidados, diminuindo a censura antes associada a eles.
Entretanto, com o avanço da indústria farmacêutica no desenvolvimento de medicamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais para o tratamento do sofrimento psíquico, associado à constante busca de gratificação imediata e resolução mecanicista das problemáticas, a crença no medicamento como uma “cura mágica” para o sofrimento mental transformou o fármaco num novo estilo de vida.
Por mais que tenhamos evoluído no conhecimento dos transtornos psíquicos, ainda persevera a estigmatização do paciente com doença mental, estigmatização esta que ainda segrega o indivíduo, mesmo sabendo que as enfermidades psíquicas são bastante prevalentes e necessitam de tratamento, principalmente transtornos que demandam mais gravidade e risco de vida, risco de agressão.
A crença de algumas pessoas de que “só consulta um psiquiatra, um psicólogo e faz uso de medicação quem está ‘louco’’’ é severamente errônea já que é exatamente o contrário disso: procurar ajuda é um sinal de saúde mental, mesmo que esta esteja prejudicada em determinado momento. Orientar o paciente sobre o plano de tratamento é bastante significativo no intuito de esclarecer ao paciente sobre sua enfermidade, o uso racional dos medicamentos, as evidências de sua eficácia, o que se espera com seu uso, o tempo necessário para se observar o efeito, os possíveis efeitos colaterais e as medidas que podem ser adotadas para reduzir estes efeitos. Esclarecer tais questões, além de fortalecer a relação terapêutica com o paciente, promove maior adesão ao tratamento medicamentoso e evita interrupções precoces do fármaco.
É possível adotar uma perspectiva contextual no manejo da medicação. Isso envolve compreender a função dos “sintomas” ou daquilo que configura “doença” na vida do paciente, compreendendo também a função do medicamento nesse contexto. A partir dessa perspectiva, torna-se possível que o uso de fármacos seja mais um comportamento que impulsiona a pessoa na direção de seus valores e da vida que quer viver, em vez de ser uma fuga da vida e das dores que ela traz.
Determinados questionamentos são pertinentes por parte do psiquiatra na avaliação de introdução de fármacos ao paciente:
Como o uso de fármacos pode ajudar o paciente?
A “Farmacologia Contextual Funcional” pode ser útil?A utilização dos psicofármacos pode promover uma maior aceitação do paciente na sociedade, pois objetiva sua reinserção social, sem o objetivo de “consertar” os pensamentos e sentimentos do paciente. A associação do tratamento medicamentoso à psicoterapia possibilita a melhora do sofrimento psíquico do paciente e a promoção de saúde mental e física.
Referências Bibliográficas
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