Nesse tempo de retorno das férias para muitas pessoas, achei interessante fazer uma reflexão sobre como cada um vivencia ou vivenciou esse período, baseado na Terapia Comportamental Dialética e ideias de Marsha Linehan. As férias são um momento esperado por muitas pessoas como uma oportunidade para descansar, desconectar-se do trabalho e aproveitar a vida de maneira mais leve. No entanto, a forma como vivemos esse período pode variar bastante dependendo de qual estado mental predomina: a Mente do Fazer ou a Mente do Ser.
Férias na Mente do Fazer
A Mente do Fazer está relacionada à ação, à resolução de problemas e ao atingimento de metas. Quando estamos nesse estado mental, estamos focados em eficiência, produtividade e resultados. No dia a dia, essa mente é crucial para cumprirmos prazos, resolvermos desafios e nos adaptarmos às exigências. No entanto, quando a Mente do Fazer se torna excessiva, pode levar ao automatismo, à exaustão ou ao burnout.
Para muitas pessoas, as férias acabam sendo uma extensão do ritmo acelerado do dia a dia. Elas preenchem cada momento com atividades planejadas, horário marcado e compromissos a cumprir.
Exemplos de férias dominadas pela Mente do Fazer incluem:
- Planejar uma viagem com um cronograma rígido, no qual cada dia tem horários e compromissos a realizar;
- Sentir a necessidade de “produzir” algo mesmo sem descanso, como ler uma quantidade fixa de livros ou aprender uma nova habilidade;
- Preencher o tempo com passeios e atividades sem deixar espaço para momentos espontâneos ou descanso genuíno;
- Sentir culpa por não estar sendo “produtivo” durante as horas do dia.
Férias na Mente do Ser
A Mente do Ser, por outro lado, está ligada à experiência plena do momento presente, sem necessidade de mudança ou controle. É um estado de consciência aberta e receptiva sentindo, observando e aceitando o aqui-e-agora com atenção plena. Quando estamos na Mente do Ser, permitimos sentir, viver e simplesmente estar.
Exemplos de férias na Mente do Ser
- Acordar sem pressa, ouvindo os sons do ambiente e sentindo o conforto da cama;
- Passar tempo à beira-mar apenas sentindo a brisa e observando as ondas, sem precisar tirar fotos ou postar nas redes sociais;
- Comer uma refeição com atenção plena, apreciando os sabores, texturas e aromas;
- Caminhar por um novo lugar sem um destino específico, apenas observando a paisagem e absorvendo o momento;
- Compartilhar da companhia de amigos e sentir cada risada ou abraço apertado;
- Ter momentos de silêncio e contemplação, permitindo-se sentir sem necessidade de ação.
Equilibrando as Duas Mentes nas Férias
A DBT enfatiza a importância de equilibrar esses dois modos de funcionamento. Nem a Mente do Fazer nem a Mente do Ser são melhores ou piores – ambas são uteis em diferentes contextos.
- Em situações de resolução de problemas, a Mente do Fazer poderá ser mais efetiva.
- Já em momentos de sofrimento emocional intenso, acessar a Mente do Ser pode trazer facilidades e reduzir a reatividade.
O ideal não é escolher entre um estado ou outro, mas sim encontrar um equilíbrio. Algumas atividades necessitam da Mente do Fazer (como planejar a viagem ou organizar um passeio), enquanto outras pedem a Mente do Ser (como curtir uma vista sem pressa ou se conectar com as pessoas ou paisagens).
Portanto, se você já passou pelo período de férias procure notar como foi esse momento? Em qual mente você estava na maioria do tempo? Como tem sido o equilíbrio dessas duas em sua vida diária? Mas se você ainda não saiu em férias e está se preparando para tal, procure observar e estar atento a como quer vivenciar esse período. A escolha é sua!! Lembre-se que a época de férias é uma oportunidade para desacelerar, reconectar-se e realmente descansar .