Assim como qualquer outro profissional, um tempo de descanso é essencial para recuperar as energias e recomeçar o trabalho com mais disposição. Somado a isso, destaca-se a necessidade dos profissionais da psicologia de cuidar da própria saúde mental para poder cuidar da dos pacientes – assim como em um avião despressurizado, em que primeiro é necessário colocar a máscara de oxigênio em si mesmo, para depois ajudar os outros a colocarem também.
Na Terapia Comportamental Dialética, existe uma hierarquia de comportamentos aos quais devemos nos atentar e, entre eles, consta a importância de reduzir os comportamentos que interferem na terapia, inclusive os emitidos pelo terapeuta. Sabendo que a sobrecarga de trabalho ininterrupto pode ter como consequência o desenvolvimento da Síndrome de Burnout ou, em menor escala, dificuldade de se dedicar adequadamente aos pacientes, fica evidente que a falta de descanso vai de encontro aos princípios descritos por Linehan.
Você já aceitou que a sua psicóloga também precisa de férias; mesmo assim, pode ser bastante penoso lidar com as emoções e, portanto, é possível que você entre em crise e/ou experiencie desamparo, insegurança e instabilidade emocional durante esse período.
Dependendo da psicóloga e do paciente em questão, é possível que sejam feitas combinações específicas do que fazer no período em que a terapeuta está em recesso. É como se o cliente elaborasse a sua caixinha de ferramentas que pode utilizar durante as férias da sua terapeuta (e quando ela não está de férias também, pois as habilidades são úteis sempre que houver um sofrimento emocional intenso). A DBT inclui uma série de habilidades que servem, entre outras coisas, para manejar emoções complicadas, alguns exemplos de ações a serem tomadas são:
- Se possível, sinta a emoção, observando-a e observando em que parte do corpo você nota ela. Tente perceber também quanto tempo leva para ela diminuir. Exercícios guiados de mindfulness de pensamento estão disponíveis no YouTube e também podem ser usados (por exemplo, este vídeo https://youtu.be/V52gRS3cMGQ ). Caso não seja viável, pode seguir para os próximos pontos.
- Controle e preste atenção na respiração: inspire contando de 1 a 4, segure o ar nos pulmões durante 2 segundos e, por fim, expire contando de 1 a 6. Durante esse exercício, você pode pousar as mãos sobre o abdômen e sentir o movimento que seu corpo faz. Repita esse exercício 6 vezes ou até sentir a respiração voltar à frequência normal do seu organismo ou que o mal-estar ficou mais tolerável.
- Abaixe a temperatura corporal (por exemplo, mergulhando a cabeça em um balde de água com gelo por cerca de 30 segundos ou deslizando pedras de gelo sobre o rosto até que elas derretam) ou se exercite fisicamente de forma intensa (correr, subir e descer escadas, pular no mesmo lugar ou fazer polichinelos). Essas atividades costumam baixar a intensidade emocional mais rápido, lhe dando tempo para conseguir tomar consciência do que você quer fazer a seguir.
Se você quiser conhecer mais habilidades que possam lhe ajudar nesse momento, pode consultar o manual da Marsha Linehan sobre treino de habilidades para os pacientes (2018). Quando se sentir melhor, pode tentar identificar e escrever qual foi a sequência de eventos que desencadeou a crise e lembre-se de abordar esse assunto no retorno da terapia. Por fim, lembre-se que as férias da sua terapeuta são finitas e que uma vida que vale a pena ser vivida também envolve experienciar situações difíceis às vezes.
*Se nada disso funcionar e você sentir que está prestes a se colocar em risco, procure o serviço de emergência mais próximo ou entre em contato com o Centro de Valorização da Vida: 188, eles estão disponíveis 24h por dia).
Referências:
Linehan, M. M. (2018). Treinamento de habilidades em DBT: manual de terapia comportamental dialética para o terapeuta. Artmed Editora.
Este texto é de autoria da estagiária da equipe CEFI Contextus – Cecília Rodrigues Vidor