Nada do que foi será

Como você lida com as perdas da vida? A maior certeza da vida é a perda, ninguém está livre disso, vamos perder pessoas, relacionamentos, empregos, saúde, sonhos que não poderão se realizar… Mas é difícil encarar essa realidade, encarar as dores dessas perdas. Como diz na canção cantada por Lulu Santos, “não adianta fugir, nem mentir para si mesmo”, ela vai acontecer, faz parte da vida.

E tudo bem que dê vontade de fugir, de lutar, de espernear e gritar com toda força que não queria que isso tivesse acontecido. Isso também faz parte do processo. E ainda, está tudo bem se você não concorda, nem gosta dessa realidade. Está tudo bem mesmo! Não significa que você é resistente, ou está negando a realidade, você apenas está vivendo o seu processo de digerir as mudanças.

Se permita sentir o que você sente, seja o que for! Se for raiva, ela é bem vinda aqui, se for tristeza, ela é bem vinda aqui, se for alegria, ela é bem vinda aqui, se for culpa, ela é bem vinda aqui. Toda a nossa experiência é bem vinda, sabe por que? Porque ninguém escolhe o que sente. Você não escolheu se sentir assim.

Então o que se faz com tudo isso? Não tem uma resposta fácil para essa pergunta, não há uma receita de bolo que nos ensine o passo a passo sobre como lidar com as nossas perdas. Um ponto de início possível pode ser: veja se é possível simplesmente notar o que você está sentindo, sem fazer nada com isso, sem julgar se é certo ou errado, bom ou ruim, apenas note.

Ao notar, veja se é possível ficar alguns instantes com essa sensação, se pergunte o que você precisa nesse momento. Você pode escolher seguir aí sentindo essa situação, ligar para um amigo que você confia para conversar, escrever um texto para o blog (como estou fazendo agora), etc…

Você pode até escolher que prefere não se conectar com isso nesse momento e prefere assistir a alguma série de comédia para se distrair. Na Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)1 trabalhamos com essa abertura para nossas experiências internas, mesmo que elas sejam desconfortáveis. Mas acima de tudo isso, trabalhamos com a liberdade! A liberdade de você poder escolher para onde você quer ir, e se você quer se distrair, está tudo bem, pois isso partirá de uma escolha sua, não de uma reação automática.

Mesmo que em algum momento provavelmente será importante olhar novamente para essa sensação, se perguntar novamente o que você precisa nesse momento e escolher. Acolha a forma como você sente essa perda, é o SEU processo, não há certo ou errado, só há você, elaborando essa experiência.

E talvez seja o meu lado mais de resolução de problemas falando agora, mas acho importante ressaltar: Lembre-se que a vida vale a pena ser vivida mesmo quando há dor (como disse Marsha Linehan em seu livro2). Se você está vivendo essa realidade nesse momento, meu mais sincero carinho! Você não está sozinho, a nossa dor é o que mais nos conecta como seres humanos.

Termino esse texto com dos compositores Lulu Santos e Nelson Motta que, na minha opinião, representa bem esse fluxo da vida.

Referências

1Luoma, J. B., Hayes, S. C., & Walser, R. D. (2007). Learning ACT: An acceptance & commitment therapy skills-training manual for therapists. New Harbinger Publications.

2Linehan, M. M. (2018). Treinamento de habilidades em DBT: manual de terapia comportamental dialética para o paciente. Artmed Editora.

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Sobre o Autor
Mariana Sanseverino Dillenburg
Mariana Sanseverino Dillenburg - CRP 07/27708 Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Mestre em Psicologia Clínica pela PUCRS na área da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Especialista em Terapias Comportamentais Contextuais pelo CEFI/CIPCO. Possui treinamento em Terapia Comportamental Dialética (DBT) pelo CEFI. Experiência com atendimen... ver mais

4 comentários em “Nada do que foi será”

    1. Com certeza, isso acontece muito, por isso acolher o nosso sofrimento e até mesmo a nossa luta em aceitá-lo pode ser um caminho valioso. Fico feliz que tenha gostado do texto

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