3 mitos sobre o uso de benzodiazepínicos

Os benzodiazepínicos são um grupo de psicofármacos com propriedades sedativas e capazes de promover diminuição da ansiedade, sendo classificados como sedativo-hipnóticos. São os fármacos que mais se destacam entre os ansiolíticos, amplamente utilizados para enfermidades que cursam com sintomas ansiosos, tais como transtorno do pânico, fobia social e fobias comuns (como medo de avião, de agulha e de apresentações em público). Ainda são largamente prescritos como indutores do sono, apesar de um crescente cuidado na prescrição de fármacos mais seguros para o tratamento da insônia. Também são usados como anticonvulsivantes, relaxantes musculares e anestésicos. Alprazolam, Clonazepam, Bromazepam, Diazepam e Lorazepam são alguns dos benzodiazepínicos mais conhecidos e ainda bastante prescritos por médicos de diversas áreas.

Abaixo seguem 3 mitos sobre o uso de benzodiazepínicos: 

 

  • Mito: Os benzodiazepínicos são o tratamento de eleição para transtornos de ansiedade.
  • Verdade: Os antidepressivos são o grupo de psicofármacos de primeira escolha para o tratamento de transtornos de ansiedade, dentre eles, transtorno do pânico, transtorno de ansiedade generalizada e outros transtornos fóbico-ansiosos. Vale lembrar que a indicação de tratamento farmacológico de um transtorno de ansiedade dá-se quando há prejuízo. Por exemplo, uma pessoa apresenta-se com transtorno do pânico e tem sintomas físicos como dor no peito, falta de ar, sensação de morte iminente, tendo deterioro e prejuízo das funções em geral. Os benzodiazepínicos podem ser introduzidos ao esquema medicamentoso no início do tratamento, para diminuírem os sintomas agudos. Em virtude de terem ação rápida, promovem alívio dos sintomas psíquicos e físicos, entretanto, seu uso não deve se estender para além de um mês. Espera-se que o efeito total dos antidepressivos ocorra de 15 a 20 dias na maioria dos casos e os benzodiazepínicos são ferramentas que podem promover diminuição dos sintomas neste primeiro momento até os antidepressivos terem o efeito desejado. É pertinente lembrar que a psicoterapia aliada ao tratamento medicamentoso tem o objetivo de tratamento e remissão dos sintomas, enquanto que os benzodiazepínicos não tratam o sintoma, apenas podem retirá-lo, havendo grande possibilidade deste retornar. 

 

  • Mito: Os benzodiazepínicos não induzem dependência química. 
  • Verdade: São sim psicofármacos que induzem dependência química, podendo este estado se dar com um mês de uso destes medicamentos, ou seja, o vício se estabelece de maneira rápida. Os mesmos critérios diagnósticos de dependência de outras substâncias, como álcool e cocaína, valem para a dependência dos benzodiazepínicos, instalando assim tolerância. Essa pode ser definida por sucessivas ingestas de doses gradativamente maiores para promover o efeito que ocorria inicialmente com doses menores, saliência do consumo e, primordialmente, o uso do fármaco para evitar os sintomas de abstinência. A síndrome de abstinência ao benzodiazepínico inicia aproximadamente 48 horas após a interrupção da substância, podendo cursar com sintomas como: grande ansiedade, palpitações, confusão mental,  tremores, visão turva. É notável o aumento de consciência e adequação na prescrição de psicofármacos pelos profissionais, principalmente por psiquiatras e neurologistas. Percebe-se, cada vez mais, a eleição de medicamentos mais seguros para o paciente e que não tenham associação com quadros de confusão mental, alterações de memória recente, demência e Alzheimer, enfermidades essas que podem estar associadas ao uso crônico de benzodiazepínicos. 

 

  • Mito: Os benzodiazepínicos são o tratamento de eleição para distúrbios do sono. 
  • Verdade: A insônia é uma enfermidade bastante prevalente e para a qual muitas vezes há indicação de psicofármaco. Atualmente, os medicamentos de primeira escolha para o tratamento de distúrbios do sono são os antidepressivos, fármacos seguros e que não provocam dependência química. Trazodona e Mirtazapina são algumas das opções mais seguras para o tratamento da insônia, podendo ser usadas em populações mais delicadas, como nos idosos, que possuem comorbidades muitas vezes associadas, como hipertensão arterial, diabetes, alterações de equilíbrio com mais risco de quedas, entre outras. Essas medicações  não trazem risco de indução de dependência, apresentam uma boa tolerabilidade e adesão à prescrição e, primordialmente, podem promover melhora no padrão do sono e qualidade de vida. Antipsicóticos também podem ser usados em doses baixas para distúrbios do sono com segurança e eficácia. Melatonina e Triptofano são algumas opções ainda em teste terapêutico mas muito usadas na prática clínica com boa resposta e melhora no padrão do sono. Para transtornos relacionados ao sono e benzodiazepínicos, vale a máxima: paciente – evite tomar, médico – evite prescrever benzodiazepínicos!

 

Quando indicada, a prescrição de benzodiazepínicos deve ser criteriosa, pontual, de curto prazo e  limitada, em função dos inúmeros riscos associados ao uso prolongado.

 

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Sobre o Autor
Cláudia da Rosa Muñoz
CRM 30457 Médica graduada pela UfPel, psiquiatra pela Fundação Universitária Mário Martins, Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria, Curso de Aperfeiçoamento em Terapia Comportamental Dialética pelo CEFI/CIPCO e de Especialização em Terapias Comportamentais Contextuais na mesma instituição. Participou de treinamento intensivo em Terapias Contextuais real... ver mais

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