Viva – A vida é uma festa – uma animação para se emocionar

Saí extasiada do cinema. Foram 105 minutos de total imersão na nova animação da Pixar. O filme Viva – A vida é uma festa me marcou pela sua ousadia, sensibilidade e magia ao retratar a vida de Miguel, um jovem mexicano que sonha em ser um grande músico em uma família que abomina, tradicionalmente, a música. Me senti convidada, momento a momento, a acompanhar suas aventuras, desencantos e conexões entre o mundo dos vivos e dos mortos. Divido por aqui um pouco das minhas percepções, sem espoilers (!),  relacionando-as com elementos trabalhados nas terapias contextuais.

O desenrolar da trama traz à tona o poder da experiência. O filme é rico em explorar como as tradições e os legados familiares são repassados de geração à geração, sem muitas vezes serem questionados, como se a possibilidade de fazer diferente fosse nula. Miguel age de forma corajosa em muito momentos, desafiando tanto as expectativas familiares ( “a nossa família trabalha no ramo de sapatos”) como seus próprios obstáculos internos, sejam esses emoções (medo, vergonha) ou pensamentos (“e se eu não conseguir?”, “e se não tiver talento?”).  Vai, ao poucos, ilustrando que não precisamos nos definir por conceitos ou ideias; que não existem verdades absolutas; que o mundo é muito mais dialético do que polarizado. Também através da visão de mundo dos diferentes personagens, o filme nos ajuda a tomar perspectiva, nos convidando a exercitar o olhar sobre o mesmo assunto através de diferentes ângulos.

Ao ir em busca de suas paixões, Miguel nos instiga a revisitar nosso reais valores em vida: o que de fato faz nosso olho brilhar? O que faz nossa vida ter significado? Mas não para por aí.  O filme retrata as ações que precisamos ter na direção dos nossos maiores desejos, valoriza os pequenos passos e nos chama atenção para as consequências dos nossos atos, a curto e a longo prazo. Ao tentar conciliar o amor pelos familiares e o gosto pela música, Miguel também nos remete a difícil e importante arte de equilibrar valores que às vezes parecem conflitantes.

Mas com certeza o ponto mais alto do filme é a honesta e simples conexão com os sentimentos do público. O foco em explorar o tema da morte, normalmente evitado em contextos infantis, já me pareceu uma escolha corajosa, abordando não  apenas a morte natural, mas as mortes por acidente e o assassinato. Traz em forma de metáfora que o esquecimento seria como a morte definitiva, o completo desaparecimento, sendo o amor, as relações e os vínculos que formamos a forma de nos mantermos vivos após a morte. E penso que por essa ótica, podemos estar mortos em vida… Em cenas lindíssimas, Miguel expressa de forma terna e genuína toda sua vulnerabilidade, e evoca nos personagens e na plateia toda um mar de sensações e emoções. Simplesmente me encantou ver o olhar atento e curioso do menino, a ousadia de defender seus pontos de vista,  e a empatia ao realmente ouvir o outro,  com acolhimento e compreensão –  elementos estes necessários nas relações.

E tudo isso em meio a um repertório musical especial, canários bem coloridos e criativos e muitos elementos da cultura Mexicana. Então, se você ainda não viu, fica a dica!! É uma ótima opção para as férias, indicado para todos os que sentem.

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Sobre o Autor
Gabriela Damasceno

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