Que tal experimentar usar compaixão nesse final de ano?

O final do ano se aproxima e, com ele, surgem as reflexões sobre o ano de 2021. Percebo em mim pensamentos como: “será que fiz o suficiente?”, “deveria ter estudado mais”, “poderia ter me esforçado mais”. Essa época do ano é difícil para muitas pessoas, justamente por aparecerem pensamentos reflexivos sobre o ano que podem possuir tom autocrítico, principalmente se observamos que não atingimos alguma meta ou que as expectativas que tínhamos foram frustradas. A autocompaixão é uma ferramenta importante nesse momento, que pode auxiliar a nos desgrudar desses pensamentos de autocrítica e observar a nós mesmo com mais amor e gentileza. 

Segundo Kristin Neff, grande pesquisadora na área, a autocompaixão envolve três elementos. O primeiro, mindfulness, é estar consciente das experiências momento a momento com uma atitude de abertura, permitindo que a realidade seja como ela é; é entrar em contato com o que observamos aqui e agora sem apego ou aversão. Mindfulness é importante para a autocompaixão, pois quando paramos para nos observarmos, podemos entrar em contato com a nossa dor, com o nosso sofrimento e, ao reconhecê-los em nosso corpo, podemos responder a eles de uma forma mais amorosa. Mas, se evitamos a nossa experiência e seguimos no piloto automático, na mente de resolução de problemas, é provável que fiquemos presos a pensamentos de autocrítica.

O segundo elemento é a humanidade compartilhada, um senso de interconexão entre todas as pessoas. A autocompaixão traz a ideia de que os seres humanos são uma obra em andamento. Todos falham e cometem erros, isso é algo natural da experiência humana, e o sofrimento é um fato inevitável da vida. Por vezes, acreditamos que as coisas deveriam ser diferentes e brigamos com a realidade, não queremos sofrer e lutamos contra nossas falhas. Contudo, quando reconhecemos o sofrimento em nós mesmos e o observamos como algo natural e normal, podemos experimentar uma conexão profunda com as pessoas à nossa volta. Afinal, assim como nós, as outras pessoas também experienciam a dor que sentimos, também sofrem e cometem erros. 

O terceiro elemento é a auto bondade. Ao notar o sofrimento e as falhas como algo inerente à experiência humana, podemos fazer as pazes com nós mesmos. Não há nada de errado em nós quando falhamos ou quando as coisas não seguem o rumo que desejamos, essas são apenas partes da experiência humana, que envolve erros e acertos, dor e alegria. Podemos nos permitir sermos tão amorosos com nós mesmos como somos com um amigo muito querido, ao invés de ficarmos presos na mente de resolução de problemas. Podemos falar frases como “você deu o seu melhor com as ferramentas que tinha”, colocar a mão no coração e acariciar o peito, abraçar a si mesmo e se agradecer pela coragem de seguir nesse caminho valoroso. 

Podemos descrever a autocompaixão também como uma presença (mindfulness) amorosa (auto bondade) e conectada (humanidade compartilhada). Nessa época de final de ano, eu convido você a praticar a autocompaixão ao refletir sobre 2021, atentando para esses três elementos trazidos no texto. Você pode pausar por um momento e, se notar pensamentos de autocrítica e lembranças difíceis do ano que passou, pode colocar sua mão no coração e repetir para si mesmo: “que eu possa ser amoroso e gentil comigo mesmo neste momento”, “reconheço que tiveram momentos difíceis esse ano”, “reconheço a minha dor no momento presente”, “o sofrimento é algo natural”, “outras pessoas também se sentem assim como eu me sinto agora” e pode, ainda, repetir outra frases amorosas e gentis que façam mais sentido para você. Quando cultivamos esta forma de estar no mundo, podemos transformar nossa relação com nós mesmos e com as pessoas à nossa volta.

Este texto é de autoria da estagiária da equipe CEFI Contextus – Raphaele Nonnenmacher Colferai

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Sobre o Autor
Mariana Sanseverino Dillenburg
Mariana Sanseverino Dillenburg - CRP 07/27708 Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Mestre em Psicologia Clínica pela PUCRS na área da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Especialista em Terapias Comportamentais Contextuais pelo CEFI/CIPCO. Possui treinamento em Terapia Comportamental Dialética (DBT) pelo CEFI. Experiência com atendimen... ver mais

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