Nossos Selfs

Iniciei uma das atividades do ano, que valorizo muito, realizando um exercício de mindfulness, onde a intenção era pensar nas expectativas, medos, desejos para o ano que se inicia. Esse “eu” que observou o passado e visualizou o futuro me trouxe uma sensação de transcender o tempo e o espaço experimentalmente, também conhecido como “self observador”, ilimitado e que permite nos colocar em perspectiva, promover a desfusão e a sensação de liberdade, vamos falar sobre nossos Selfs?

Quando me sinto presa em um conteúdo de pensamentos ou sensações (“self conceito”) percebo que estou presa a uma história, seja do passado ou futuro, falar do que já conheço reduz as possibilidades de me sentir vulnerável sim, falar do aqui-e-agora me conecta com minhas fragilidades e com o desconhecido, mas mesmo sendo bem mais difícil gosto muito desse lugar íntimo e poderoso da sensação de liberdade. Significa desapegar dos conceitos pré estabelecidos e aprendidos sobre mim mesma e enfrentar o desconhecido e toda a gama de emoções que vem junto.

O eu conceitualizado é o self que é objeto de categorizações verbais e avaliações. É o self que nos referimos quando dizemos “Eu sou”, como nos casos: Eu sou incompetente, eu sou ansioso,  eu sou querido, eu sou feio e assim por diante. O eu conceitual está repleto de conteúdo, que é a história sobre você e sua vida que você está vendendo para si mesmo. Ele contém todos os pensamentos, sentimentos, sensações corporais, memórias e predisposições comportamentais que você comprou e integrou em uma imagem verbal estável de si mesmo e que provavelmente está mais familiarizado.

O Self enquanto um Processo ou autoconsciência contínua é seu conhecimento fluído e contínuo de suas próprias experiências no momento presente. Diferencia-se do Self conceitual por ser descritivo, não avaliativo, presente e flexível: “Agora estou sentindo isso” “Agora estou pensando isso” “Agora estou vendo isso”.

O Self observador, diferente do eu enquanto processo e do eu conceitual, não é um objeto de relações verbais. Não é um senso de self que pode ser descrito diretamente e não é baseado em conteúdo. Para ele não há limites conhecidos. Por exemplo, procure lembrar de um momento da sua infância, reviva essa lembrança por alguns instantes e tente se conectar com essa sensação de olhar para o mundo com os olhos como eram naquela época e te convido a responder experiencialmente e não logicamente a uma pergunta: quem foi que viu esses eventos enquanto eles aconteciam na sua memória?

A resposta é VOCÊ, portanto estar no momento presente, fazendo contato com um senso de self mais amplo, que não seja ameaçado pelo conteúdo, assumindo uma perspectiva: “a consciência como um lugar para observar a guerra particular sem estar dentro da guerra particular”, desenvolvendo uma atenção flexível e autoconsciência imediata com a possibilidade de se engajar na vida escolhendo a partir dos seus valores e se engajando em ações de compromisso é a grande experiência do self como processo, permitindo uma autoconsciência mais fluida e útil, em direção a uma vida que valha a pena ser vivida.

 

REFERÊNCIAS:

Hayes S. C.; Strosahl K. D. & Wilson K. G. Terapia de aceitação e compromisso: o processo e a prática da mudança consciente. Tradução: Sandra Maria Mallman da Rosa; revisão técnica: Mônica Valentim.. 2.ed. Porto Alegre- RS: Artmed, 2021.

Hayes, S. C., & Smith, S. Get out of your mind and into your life: The new Acceptance and Commitment Therapy. Oakland, CA: New Harbinger. 2005.

 

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Sobre o Autor
Vanessa Stechow
Psicóloga (PUCRS). MBA em Gestão de Pessoas com ênfase em Estratégia (FGV/RS), Didata em Dinâmica dos Grupos (SBDG) e qualificação como Analista PDA (Personal Development Analysis). Formação Internacional em Coaching Executivo Organizacional - Metodologia Ontológica Transformacional com Leonardo Wolk, em Líder Coach pelo ICI e The Coaching Clinic – Corporate Coach U. Formação em Coaching de Equ... ver mais

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