MITOS SOBRE A RAIVA

Ao longo da minha vida escutei diferentes coisas acerca da raiva, algumas delas eram contraditórias ao que eu via acontecer com quem expressava ou agia no impulso dessa emoção. A mensagem de que a raiva é um sentimento “ruim” não fazia sentido quando eu via alguém falar com firmeza e brigar pelos seus direitos, alcançar o que desejava. Mas muito vi explosões de raiva causarem grandes problemas. Ouvimos dizer com frequência que “é feio” sentir raiva, que “com raiva não se consegue nada”, que estar com raiva é sinônimo de “perder a cabeça” ou “má educação”. O contrário também existe, muitas pessoas acreditam que somente se agirem com raiva serão respeitadas.

Algumas pessoas experimentam e expressam a raiva com maior facilidade, mesmo sem a intenção de fazê-lo. Enquanto outras talvez nem saibam reconhecer em seu corpo e comportamento o que é estar com raiva. Quando sentimos raiva, é comum tensionar a musculatura, fechar os punhos e cerrar os dentes. O coração pode acelerar, o peito aquecer e a respiração se encurtar. Tudo isso acontece sem querer, são respostas naturais do corpo ligadas à essa emoção. Associado às sensações, pensamentos e impulsos invadem o momento e podem logo nos levar à ação.

Afinal, é bom ou ruim sentir raiva?

Para responder essa pergunta, eu diria uma das expressões que mais ouvi ao longo de minha formação como psicóloga: depende do contexto.

É comum nos fazermos perguntas dicotômicas na tentativa de encontrar uma forma mais adequada ou satisfatória de agir. E para sabermos o que é o mais adequado, é importante levarmos em conta o que está acontecendo, onde se está, para quê se está agindo, assim estaremos mais próximos de saber qual o melhor caminho a seguir.

Mas para ajudar você a encontrar as suas respostas, neste texto vou apresentar alguns mitos comuns sobre a raiva que podem dificultar a expressão ou a vivência desta emoção de forma assertiva. Para isso, digitei no Google “frases sobre raiva” para localizar o que as pessoas podem pensar sobre o tema. Veja abaixo como podemos contestá-los:

  • Mito 1

“A raiva é um ladrão que rouba bons momentos” – Joan Lunden

A raiva é uma resposta emocional natural que ocorre geralmente quando algo relevante é interrompido, tirado, ou é impossibilitado de existir. Ela é como um sinalizador de que algo importante foi “roubado”, entretanto não é a raiva em si que nos tira o que há de bom, ela é quem nos comunica isso.

Ficar preso à ideia de que a raiva nos rouba algo, pode inclusive nos deixar mais presos nessa emoção e menos abertos ao que está ocorrendo no momento. Escutar a mensagem que a raiva está nos passando pode nos dar a chance de ir em busca do que realmente queremos.

  • Mito 2

“A raiva que você sente não atinge ninguém além de você mesmo” – Autor desconhecido.

Certamente quem experimenta a raiva é atingido pela própria emoção. Digo atingido no sentido do organismo sofrer alterações biológicas, hormonais e fisiológicas e de alterar o conteúdo de pensamentos, sensações e impulsos de ação. Isso tudo ocorre ao experienciamos qualquer resposta emocional – não só com a raiva – seja com maior ou menor intensidade. Quanto maior a intensidade da emoção vivida, mais chances dela vir acompanhada de maior desconforto ou sensação de descontrole. Além de você mesmo, o seu ambiente e as pessoas ao seu redor sofrem, também, o impacto da sua raiva quando você a expressa (e expressamos com os olhos, com a face, com gestos…). E caso esta expressão ocorra de modo injustificado, seguindo um impulso de agressão física ou verbal, suas relações serão também atingidas.

  • Mito 3

“Quando a raiva chega, a sabedoria parte” – Autor desconhecido.

A raiva – enquanto emoção humana – tem sua importância e função. Uma das principais funções das nossas emoções é de comunicar a nós mesmos o que está se passando no momento presente e de comunicar ao ambiente o que está se passando conosco. A expressão da raiva pode nos ajudar a delimitar espaço quando nos sentimos invadidos, pode nos sinalizar que algo bom está sendo tirado ou ameaçado, nos dando a chance de ir em busca do que nos importa. Sem a emoção, nossa sabedoria fica prejudicada, pois nem sempre a razão percebe ou nota as nossas necessidades. Nem tudo o que sentimos é lógico e pode ser calculado. A sabedoria está em conciliar a razão à emoção.

Se a intensidade ou frequência que você experimenta raiva lhe gera problemas no trabalho, nos relacionamentos ou na sua paz interior, buscar um auxílio psicológico especializado é um caminho para lidar de modo mais equilibrado com essa emoção.

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Sobre o Autor
Maria Eduarda D. de Alencastro

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