A Validação e as Relações

 

Estar em uma conversa onde percebemos que a outra pessoa está prestando atenção ao que falamos de forma interessada e entendeu a nossa perspectiva, pode ser uma das formas que a validação se apresenta. E que conversa boa, não é?

Imaginemos uma situação: estamos em uma reunião de trabalho e chegou o momento para apresentar o projeto que estamos trabalhando há alguns dias. Tem uma pessoa que mexe no celular constantemente. Outra que olha de forma constante ao entorno, parecendo que procura alguma coisa. Outro colega está com o corpo virado para nossa direção, assentindo com a cabeça que está nos acompanhando. Em dado momento outro colega nos interrompe, perguntando algo sobre a próxima pauta. E tem aquele que verbaliza o nosso entusiasmo com o projeto e quer seguir escutando. Como nos sentiríamos com cada uma dessas pessoas? Ou como seria nossa interação com cada uma delas? A tendência é termos mais facilidade em seguir em uma comunicação efetiva com quem reconhece aquilo que estamos expressando, com quem nos valida. Nesse exemplo, manter a conversa com os colegas que estão prestando atenção e entenderam nosso objetivo pode ser tornar mais confortável e prazeroso. Enquanto tentar manter uma comunicação com os demais, pode ser extremamente frustrante e desagradável.

Quando a validação está presente nas interações tende a trazer a sensação de que a comunicação está fluindo bem e ficamos mais dispostos a continuar interagindo, mesmo quando um tema difícil está em discussão. Nos traz mais disponibilidade para resolver problemas de forma efetiva, com clareza dos objetivos, dos caminhos e dos recursos de cada um. Com menos raiva, menores reações negativas e sem aquele cabo-de-guerra sem fim de quem está certo.

A validação pode ocorrer por meio de interações verbais, acompanhadas dos nossos gestos, comportamentos e expressões faciais. Prestar atenção ao que o outro está falando, mantendo contato visual, permanecendo no mesmo lugar e demonstrando interesse são formas simples e efetiva de mostrar que estamos ali e reconhecemos que aquilo é importante.

Agora imaginemos que estamos em um encontro social com amigos queridos, um deles compartilha que está passando por dificuldades na relação com a sua namorada: estão brigando muito, não conseguem se entender e parece que estão se distanciando cada vez mais. Como poderíamos reagir nesse momento? Talvez com uma fala ‘besteira, vocês vivem brigando e continuam juntos, isso não vai dar em nada’ ou ainda ‘para com esse assunto, hoje não viemos aqui para falar de problemas’. Essas seriam duas reações que são consideradas invalidantes com a experiência que o amigo compartilhou. Expressamos um julgamento ou crítica sobre o que ele quis compartilhar naquele momento. Comunicar o que entendemos da outra pessoa, sem a nossa perspectiva, julgamento ou interpretação pode ser um grande desafio em determinadas situações.

De modo validante, poderíamos responder ‘percebo que você está mais quieto hoje, é por causa dessas brigas?’. Assim expressamos algo que percebemos em seu comportamento ou expressão não verbal e damos oportunidade para ele confirmar se a nossa hipótese está correta. E às vezes não está, assim nos oportuniza corrigir nosso ponto de vista sobre a situação.

Estar atento ao que a pessoa está nos comunicando, além das palavras, nos auxilia a conseguirmos validar o outro. Estar atento a postura, gestos, expressões faciais pode ser um caminho a ser comunicado, mas que sempre exige o cuidado de ao compartilharmos nosso ponto de vista, estarmos abertos ao outro confirmar se aquilo que estamos entendendo realmente faz sentido.

Para que a validação esteja presente nas relações precisamos estar dispostos a ver os acontecimentos das situações, escutando o que a pessoa tem a nos dizer e entendendo a sua perspectiva. Assim, os julgamentos sobre o que a pessoa está nos trazendo diminui, o foco está em interagir com aquilo que a pessoa nos traz de valioso para ela, o que naquele instante, é a sua verdade.

Entendemos que pelo contexto que a pessoa está ou pela sua condição física e de saúde ou pela sua história de vida – suas experiências e aprendizagens – é compreensível que esteja pensando ou agindo daquele modo. Mesmo quando não concordamos com sua expressão.

Não significa que aprovamos ou concordamos com a verdade do outro, e sim, que a reconhecemos e a respeitamos. Podemos validar pensamentos, sentimentos, emoções e comportamentos. Validamos o que é válido. Se a experiência da pessoa está de acordo com os fatos ou tem coerência lógica ou mesmo está de acordo com os seus objetivos.

Quando experimentamos a validação nas interações temos a possibilidade de construir conexão e apoio e desenvolver relações de intimidade em um lugar seguro.

Referência:

Linehan, M. M. (2018). Treinamento de habilidades em DBT: manual de terapia comportamental dialética para o paciente. Artmed Editora.

 

 

 

 

 

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Sobre o Autor
Ana Paula Domeneghini
Psicóloga (PUCRS - CRP 07/23571). Especialista em Terapias Comportamentais Contextuais Baseadas em Processos (CEFI). Especialista em Terapia Sistêmica Individual, Conjugal e Familiar (CEFI). Atua como psicóloga clínica com atendimento individual, familiar e conjugal. Membro da Equipe CEFI Contextus. ver mais

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