Estive em viagem de férias, visitando pela terceira vez o mesmo local e mesmo assim consegui me surpreender, redescobrir lugares e descobrir outros novos. Minha conclusão é que quando fazemos algo conectado com nossos valores, com o que dá sentido à nossa vida tudo fica especial e é possível olhar como se fosse a primeira vez, com olhar de principiante. Amo viajar e fazer isso com minha família fica sempre mais especial ainda.
Para mim, viajar é muito mais do que o período de estada no destino escolhido. É o tempo anterior de preparação, planejamento, escolhas, roteiros, fazer malas, expectativa do que vai encontrar. Isso preencheu nossas vidas um bom tempo antes. Muitas reflexões sobre o que gostaríamos de rever e o porquê isso faria sentido nesse momento. Como usaríamos o nosso tempo da melhor forma conectada com as coisas que gostaríamos de fazer. Que tipo de experiências cada um gostaria de ter, seja na gastronomia ou no que o local ofereceria como oportunidade. Fizemos muitos exercícios de conexão com nossos valores e com nossa flexibilidade comportamental, já que viajamos em grupo e como tal requer também alguns desafios nesse sentido.
Segundo a ACT valores são definidos como direções de vida escolhidas, desejadas e globais que são construídas verbalmente. Em cada ato escolhido buscamos uma direção e nos engajamos no ato de atribuir valor às coisas cada vez que fazemos algo importante ou de maneira intencional. Os valores devem ser escolhidos livremente, sem julgamentos já que o sentido da vida é individual e intransferível. Os valores são o coração do sentido e propósito humano, normalmente eles guiam e definem nossas vidas.
E porque os valores são tão importantes? Porque fornecem uma direção construtiva, consistente, promovem flexibilidade comportamental e motivação.
E assim foi. Visitamos lugares já conhecidos e tivemos a oportunidade de olhar com os olhos atuais, quanta descoberta!!! Sentimos alegremente o gosto das comidas que desejávamos relembrar e ainda tivemos a oportunidade de experimentar novas, conhecemos outros lugares que nos encantaram e tivemos experiências inusitadas.
E sobre o voltar? Percebo que quando me afasto de um local conhecido, seguro, confortável, me permito ver o que realmente tem de importante nesse local e para o que quero retornar, do que sinto falta e saudade. Escutando hoje a música do Lenine “Paciência”, em uma atividade de Mindfulness, me fixei na frase “a vida não para, a vida é tão rara”…Sim, quero viver essa raridade intensamente. Não só quando estou viajando, mas todos os dias, um dia de cada vez. Sentindo os cheiros, sabores, texturas de cada ação e reação. Estar com 55 anos me proporciona essas escolhas conscientes. É muito bom ir viajar e também é muito bom voltar.
E minha pergunta na volta é a seguinte. O que nos impede de viver uma vida como se estivéssemos viajando o tempo todo por ela? Com esse olhar curioso, feliz por repetir os mesmos gostos e se aventurar em novas experiências sem julgamento, medos ou receio de ficarmos vulneráveis? Nos conectando com o que realmente importa e dá sentido à nossa existência? Porque precisamos ir para outro País, Estado, Cidade para relembrar e fazer esse exercício de escolha que nos leva em direção ao que é importante para nós?
Voltei com minha intenção reforçada de viver cada vez mais o momento presente com toda a inteireza que senti e experimentei nessas férias em NYC!
REFERÊNCIAS:
Hayes S. C.; Luoma J. B. & Walser R. D. Aprendendo ACT: manual de habilidades da terapia de aceitação e compromisso para terapeutas. Tradução: Antônio Bonfada Collares Machado, Mariana Sanseverino Dillenburg e Natália Boff; revisão técnica: Renata Klein Zancan e Margareth da Silva Oliveira. 2.ed. Novo Hamburgo- RS: Sinopsys Editora, 2022.