Joice e Alfredo estão juntos há 8 anos. No início se divertiam muito, eram parceiros, passavam conversando e o sexo era ótimo. Depois de um certo tempo, estavam tão ocupados com as questões do dia-a-dia, trabalho, casa, filhos que pouco tempo tinham para o casal. A situação piorou com a pandemia, que fez com que ficassem em casa mais tempo que o de costume, ele com muito medo de perder o emprego, trabalhava mais ainda, na modalidade online e ela, além do seu trabalho que também ficou na modalidade online, continuava com maior envolvimento com a casa e com a escola das crianças…
Ela achava que estava sobrecarregada e se irritava com ele, sentia que ele estava distante e queria conversar, falar sobre os problemas que estavam vivenciando, enquanto ele se sentia pressionado, precisava de um tempo para processar todas as ideias e sentimentos para se sentir aliviado. Quanto mais ela tentava falar, mais ele se afastava e o resultado era tensão, discussão e desconexão.
Depois de muitas brigas, inclusive pensando em separação, Joice soube da existência da IBCT (Integrative Behavioral Couple Therapy) e propôs para Alfredo fazerem a terapia de casal. Ambos gostaram desta abordagem porque ela não forçava as pessoas a mudar, mas propunha ir na raiz dos problemas, conhecer as causas subjacentes, auxiliar na compreensão das diferenças do casal e na aceitação das características da personalidade de cada um. Propunha ainda, melhorar a forma de comunicação e a interação, bem como resgatar os aspectos positivos da relação.
A IBCT trabalha baseada na estrutura de compreensão DEEP. Em inglês esta palavra significa “profunda” e também é utilizada como um acrônimo:
D = Diferenças naturais do casal, por exemplo, necessidade de intimidade se estas não foram reconhecidas na vida da pessoa. As principais diferenças de Joice e Alfredo se referiam a lidar com questões emocionais: ela precisava falar e ele precisava calar e processar para, só então, falar.
E = Sensibilidades Emocionais que cada um traz para a relação. Podem ser da história da família de origem ou de relacionamentos anteriores. Mesmo os pais mais amorosos e bem-intencionados não conseguem atender a todas as nossas necessidades emocionais. Também podemos experimentar decepções e criar feridas emocionais no processo de socialização, à medida que tentamos nos “encaixar” nas expectativas e relações com as pessoas. Portanto, pode ser que a gente traga essa dor para o relacionamento conjugal e ter uma fantasia de que a relação pode, finalmente, compensar todo o carinho e a aceitação que perdemos na nossa história. É importante que se possa esclarecer para si mesmo e compartilhar com o(a) parceiro(a) a compreensão destas feridas. Isso permite que o casal entenda melhor como os machucados da infância influenciam na forma como interagem um com o outro.
Na sua história, Joice se sentia ignorada pelos pais quando criança e esta situação a deixava sensível à falta de atenção do marido. Por sua vez, Alfredo se sentiu muito controlado pela sua mãe que não o deixava sair ou ter escolhas próprias na sua adolescência, fato que o deixava sensível para situações com a esposa que interferiam no seu sentimento de independência.
E = Estressores Externos são as questões que a vida impõe, as quais podem desencadear as diferenças nos conflitos emocionais. Por exemplo, a situação de pandemia, inesperada por todos, fez com que Joice e Alfredo tivessem menos energia emocional para lidar com as dificuldades conjugais, as quais já existiam, mas não estavam sendo vistas por eles.
P = Padrão de comunicação ou a forma de interação que o casal utiliza para resolver os problemas, provocados pelas diferenças ou pelos estressores, faz com que ambos fiquem “presos numa armadilha”. Esse padrão em que ambos se engajam é, na verdade, uma tentativa de lidar com as diferenças pessoais, sensibilidades emocionais e fatores estressantes. Porém, essa forma de comunicação se torna parte do problema. A maneira como cada um lida tende a ser previsível e circular, o que significa que qualquer um pode iniciar o circuito, dependendo do seu ponto de vista. No caso de Joice e Alfredo ocorria o mal-estar, ela tentava falar com acusação, acreditando que o problema seria a não ajuda dele. Quanto mais ela se aproximava para reclamar, mais ele se afastava, pois acreditava que o problema era ela com seu comportamento invalidante e crítico… Ambos ficavam presos num ciclo vicioso, e, na tentativa de resolver pioravam a situação.
O objetivo do tratamento é ajudar cada membro do casal a compreender e aceitar suas diferenças; compreender, aceitar e ter empatia com as sensibilidades emocionais ou pontos sensíveis (ou feridas) de cada um; para mudar os estressores externos que se pode mudar e se juntar como uma equipe para dar suporte um ao outro; apoiar-se diante dos estressores que não se pode alterar e para mudar os padrões de interação que mantêm a distância ou o conflito. Além disso, Joice e Alfredo organizaram um tempo de qualidade para o casal ficar junto, com dia e horário somente para os dois, além de um tempo só para cada um fazer o que quisesse, só ou com amigos, na perspectiva de que a relação conjugal não pode ser a única fonte de satisfação para uma pessoa.
Joice e Alfredo aprenderam a observar o padrão de cada um abordar o outro (ataque e defesa) e a consequência que era o afastamento do casal. Também aprenderam a observar suas sensibilidades e falar delas com cuidado, enfocando em como cada um sentia a situação, usando muitas habilidades de escuta efetiva. Aprenderam, por fim, a ser mais compreensivos emocionalmente com o comportamento do outro, diminuindo a culpabilização, aumentando a intimidade e mudando, concretamente, a forma de interação. Felizes para sempre? Não. A IBCT propõe habilidades para o casal aprender a lidar com as diversas questões inerentes à vida, boas e ruins… a vida como a vida é, e o casal como deseja ser, com suas limitações e fortalezas, e, principalmente, com conexão.