Na maioria das vezes, as pessoas não buscam tratamento até que estejam em uma crise. E mesmo quando estão em uma crise, a maneira como buscam ou comunicam a necessidade de tratamento nem sempre é efetiva. É bem comum levarmos as coisas no espírito do “vamos ver no que dá” quando se trata de buscar ajuda, especialmente em saúde mental. Claro que não há necessidade de nos apressarmos quando não há um problema ou quando não parece que o problema é grave o suficiente, mas em situações mais sérias e especialmente quando se trata de problemas de desregulação emocional, isso pode ser muito perigoso.
Mas, então, quando é a hora certa de buscar ajuda? E como a família e as pessoas próximas de alguém que está em profundo sofrimento psicológico podem ajudar? Para nenhuma dessas questões a resposta é simples, mas podemos pensar em alguns pontos que servem para orientar quem está mergulhado em dificuldades do tipo. Seguem algumas dicas de questões a refletir para decidir se é o momento de buscar ajuda:
- Se você está em um sofrimento emocional que destrói sua paz de espírito, pode ser hora de buscar um tratamento.
- Se você está sofrendo ao ponto de que sua rotina normal (dormir, se alimentar, trabalhar e estudar, por exemplo) está significativamente prejudicada, pode ser hora de buscar um tratamento.
- Se você deseja ter relacionamentos mais saudáveis e está tendo dificuldade de identificar qual é o problema, pode ser hora de buscar um tratamento.
- Se a solução para suas dificuldades atuais envolve fazer coisas que machucam você ou que acabam piorando outras áreas importantes, pode ser hora de buscar um tratamento.
- Se você está constantemente falhando em atingir metas e objetivos profissionais ou pessoais importantes para você, pode ser hora de buscar um tratamento.
- Se você está se engajando excessivamente em comportamentos que vão contra seus valores e geram sentimentos de vergonha e culpa, pode ser hora de buscar um tratamento.
- Se você deseja de verdade criar uma vida que possa ser experimentada como uma que vale a pena ser vivida, com sentido e um senso de propósito, e quer saber como fazer isso, pode ser hora de buscar um tratamento.
Quando sentimos uma dor, qualquer que seja o tipo dela (emocional, física ou espiritual), estamos recebendo uma mensagem importante de que pode ser benéfico fazer alguma mudança em nossa vida ou em nosso comportamento. E na maioria das vezes não precisamos fazer isso sozinhos. Se você não está conseguindo solucionar o problema ou fazer as mudanças necessárias sozinho, pedir ajuda pode ser a melhor solução. A terapia pode ser um caminho.
Se um familiar seu está passando por dificuldades, pode ser que você veja isso e esteja certo de que uma ajuda externa é necessária, mas não sabe como fazê-lo, ou já tentou de várias formas e não conseguiu. Uma coisa importante, quando se trata de ajudar um familiar, amigo ou uma pessoa querida que está em sofrimento emocional a buscar um tratamento, é saber que a pessoa está em uma condição de muita vulnerabilidade emocional e possivelmente muito sensível ao julgamento de outras pessoas. A saúde mental tende a ser um tabu ou um tema muito estigmatizado em nossa sociedade. Por isso, validar, normalizar e adotar uma abordagem cooperativa são pontos importantíssimos.
Quando normalizamos a decisão por buscar tratamento (dizendo algo do tipo “Todo mundo precisa de uma ajuda extra de vez em quando”, por exemplo), nós estamos ajudando a nós mesmos e àqueles que amamos. Mas quando a mensagem que enviamos é de pânico ou de acusação (algo como “Você está destruindo a família. Busque ajuda agora ou senão…”), provavelmente seremos menos efetivos. A experiência clínica mostra que a maioria das pessoas sabe quando precisa de ajuda, mas o que frequentemente lhes falta é justamente esse senso de segurança que vai permitir se colocar vulnerável e aberto o suficiente para aceitar que precisa de ajuda. Falta-lhes saber que não é absurdo precisar de ajuda, que não estão fracassando porque lhes faltam estratégias mais efetivas para resolver situações problemáticas naquele momento da vida, ou que está tudo bem necessitar e querer ser cuidado. Os sentimentos de vergonha, culpa, raiva, ou mesmo de medo, raramente são suficientes para motivar alguém com dificuldades emocionais ou em profundo sofrimento psicológico a buscar a ajuda de que necessita.
Às vezes, o que a maioria das pessoas precisa é ouvir algo como: “Eu amo você e sei que você está sofrendo muito. Por que não experimentamos iniciar um tratamento e seguir nele pelo menos uns seis meses para ver o que acontece? Se não ajudar, tentamos outra coisa.” Ou “Você é uma pessoal muito especial para mim, e nossa relação é muito importante. Vamos tentar buscar uma ajuda de fora para lidar com nossas dificuldades?” Ou ainda algo mais radical como “Para mim está claro que o jeito como estamos lidando com as coisas não está funcionando, por isso vou buscar ajuda para nós.” Um “nós” colaborativo é quase sempre muito mais efetivo do que um “você” quando se trata de motivar outra pessoa para um tratamento.
E o que você acha? Se você tem um familiar com dificuldades emocionais e já conseguiu buscar apoio em algum momento, o que funcionou para você e sua família?
Este texto é uma adaptação do material psicoeducativo disponível no livro The Borderline Personality Disorder Wellness Planner, de Amanda Smith, publicado pela editora Unhooked Books.