Ansiedade. A espera de um resultado. Alguém que a gente ama ameaçado por um diagnóstico que assusta. O coração aperta, os olhos ficam pálidos de medo, lustrosos de lágrimas. O corpo congela. Você não quer perder quem ama.
Você se pergunta: Quem eu tenho sido para as pessoas que eu amo?
Para quem e para o que eu tenho investido meu tempo e energia?
Estas são algumas questões que nos “pegam” quando reavaliamos nossos valores, quando pensamos sobre o que realmente importa. Ter alguém que amamos demais recebendo um diagnóstico difícil dá uma balançada. Balançada “das boas” – daquelas que nos faz questionar se este outro tem ideia do quanto sua vida é valiosa para nós. Do quanto o amamos e o queremos bem. Aquelas chacoalhadas que nos lembram de fazer mais carinho, de perguntar se está tudo bem, se precisa de algo, como podemos ajudar. De nos fazermos presentes porque o outro é um presente para nós.
Assim é ela. Quero servir chá quentinho e levar para ela no sofá. Quero esquentar os pés dela com meu colo, um cobertor e um carinho. Quero poupá-la do trabalho de casa. Das coisas que são chatas pra ela. Quero aliviar qualquer desconforto ou dor “físicos” que possam estar ali, com meu amor e minha presença. Quero dar espaço para ela falar e para silenciar a sua dor. Quero ser colo e continente para o que quer que seja. Para o que ela precisar. Quero ser para ela um pouco do que foi e do que é pra mim. Quando o dia chegar… Quero que saiba que não irá morrer em mim e nem em quem “me continuar”.
Que bom que a gente pode reconhecer o valor e o amor. Que a gente pode mostrar. Que a gente pode tornar palpável tudo isso que sentimos e fazer o outro “saber que é amado”. Que bom que a gente pode ver tudo isso mesmo quando está tudo bem.
Ter a consciência do “tamanho” do outro na nossa vida independente de ameaças à sua integridade física é uma bênção. Obrigada consciência, obrigada atenção, obrigada meus 5 sentidos e minhas emoções. Saber-se feliz e saber-se amando quem se ama são bênçãos.
Do ponto de vista teórico, podemos dizer que este texto dialoga com a Terapia de Aceitação e Compromisso, a qual trabalha com a flexibilidade psicológica, com a nossa capacidade de viver uma vida que faça sentido apesar das dores que a compõem. São 6 processos centrais: consciência do momento presente, valores, ações com compromisso, self como contexto, desfusão e aceitação, que neste texto estão “tangenciados”:
Consciência do momento presente: saber que a vida é agora – notar as emoções presentes, observar a experiência com nossos 5 sentidos.
Valores: quem e o que realmente importa para mim? O que faz tudo valer a pena?
Ações com compromisso: coisas que fazemos para valorar e que é valioso. Neste texto, o que fazemos para cuidar de quem amamos.
Self como contexto: saber que somos mais do que o que pensamos de nós.
Desfusão: perceber que pensamos são pensamentos.
Aceitação: sobre aquilo que não podemos mudar.
Que a gente possa viver “inteiro” a plenitudade das relações.