Acredito que um olhar generoso, de disposição e aceitação para essa pandemia seja a possibilidade de novos aprendizados. Estamos todos tendo que nos reinventarmos, seja no aprendizado das novas tecnologias, do mundo virtual, das relações sociais e familiares, mas fundamentalmente na relação consigo mesmo. Há um convite para um caminho de conexão e conscientização para o que habita dentro de cada um de nós, o que costumamos dizer: “o que existe dentro da pele”, sejam emoções, pensamentos, sensações.
Nesse mergulho tenho utilizado muito as práticas de mindfulness, numa intenção clara de acessar o “modo ser”, já que meu dia-a-dia tem sido recheado do “modo fazer”. Quando pratico intencionalmente percebo a redução das respostas automáticas, desligo o piloto automático e estabeleço a mudança do sistema simpático para o parassimpático, também conhecido como o sistema de “descanso e digesta”. Ele reduz os batimentos cardíacos e propicia mais conexão consigo mesmo, menos ameaça, mais alegria e paz.
Nesta busca da “não-luta”, da aceitação e do estar no momento presente como um senso de bem-estar e contentamento, acesso o conjunto de emoções baseadas em acalmar, amparar, sentir-me segura, em paz e GRATA, um estado no qual não me sinto sob ameaça. E estar em contato com essas emoções e com esses sistemas tem me oportunizado experimentar momentos de autocuidado e autocompaixão.
Segundo NEFF (2017), o desenvolvimento da autocompaixão é uma forma de alcançar bem-estar emocional através da bondade incondicional ao abraçarmos a experiência humana por mais difícil que seja. Tenho notado, nesse encontro comigo mesma que me presentear com momentos de autocuidado tem sido um refúgio nos mares tempestuosos de auto julgamento e de ansiedades que estamos vivendo, individualmente e como sociedade.
Praticar a autocompaixão evita padrões destrutivos de medo, negatividade e pessimismo. Amplia a possibilidade de fazer escolhas mais conscientes e flexíveis, para fazer espaço para o que estou sentindo, de forma compassiva, permitindo-me aceitar e elaborar novas regras com a experiência privada.
Incluo aqui o autocuidado e para tanto tenho feito algumas coisas que talvez possam ser úteis a vocês que me lêem neste momento. Iniciei um programa de alimentação focada na saúde intestinal, tenho limitado meu tempo na frente do computador, evitado conversas que fiquem focando na catástrofe da pandemia, assisto o mínimo dos noticiários, tenho ficado mais tempo com meu filho, assistido uma série que gosto muito, estudado, feito orações, mindfulness, procurado manter pensamentos positivos e principalmente utilizado a habilidade de redirecionar a mente. Fazendo uso da minha capacidade de me auto conformar de forma ativa, parando tudo para dizer: “Está bem difícil agora. Como posso me cuidar e me ajudar nesse momento? Da mesma forma que faria com um(a) amigo(a) querido(a).
Isto significa escolher aceitar. Quando queremos aceitar uma realidade que parece inaceitável, normalmente temos que nos esforçar mais de uma vez, escolhendo aceitar repetidas vezes, por um tempo longo, precisamos redirecionar nossa mente para a direção escolhida. Quanto mais doloroso o evento, mais tempo demorará para aceitá-lo na íntegra. Então é uma escolha diária, a cada hora, a cada minuto, por isso tenho repetido que viver essa pandemia da melhor forma possível é viver um dia de cada vez, com escolhas diárias.
Tenho praticado consciência plena, compromisso interno, vigilância, plano de contingências e muita disposição para responder às situações da vida, sabiamente, sem rancor e com muita autocompaixão. E você, tem praticado a autocompaixão? O que tem feito para seu autocuidado?