Quando eu estava pensando sobre o que eu gostaria de falar no texto de hoje, não me vinham muitas ideias, ao fazer uma pausa para refletir sobre algum tema, me ocorreu de falar sobre o que tem sido muito valioso para mim nesses últimos tempos. Há cinco meses eu adotei uma cachorrinha chamada Lily, esses dias ela adormeceu em cima do meu ombro. Nesse momento eu me senti mergulhada nessa cena, sentindo o calorzinho do corpo dela, escutando os sons da sua respiração, os olhos delas fechados e os músculos relaxados. Essa cena me chamou a atenção porque, no dia em que ela ocorreu, foi o primeiro momento do dia em que eu me senti verdadeiramente parando e participando do presente. Parece singelo, mas naquele momento, essa experiência foi tão valiosa que me chamou a atenção.
Quantos momentos do dia nós estamos no “piloto automático”? Só fazendo e fazendo, sem estarmos plenamente conectados com essa atividade, e dentro da nossa mente e das preocupações? Eu me noto assim em muitos momentos. Até com os meus clientes, com quem eu busco estar e trabalhar no momento presente, em vários momentos me vejo caindo em armadilhas que me tiram do momento presente: “eu preciso analisar esse comportamento”, “preciso achar a classe funcional?”, etc. Qual o problema com isso? É que se entramos no “piloto automático” e não tomamos consciência disso, deixamos de perceber qualidades importantes que só podem ser acessadas no momento presente: cheiros, toques, sons, imagens, gostos. Esses cinco sentidos dão cores para a nossa vida, nos permitem vivenciar a experiência que se apresenta plenamente. Se não estamos no momento presente, essa experiência não é vivida em sua plenitude.
O que perdemos com isso? Eu perderia ter sentido amor e carinho pela Lily no momento em que eu estava contemplando ela adormecida em cima do meu ombro. O que você perde quando não está plenamente no momento presente? O que você deixa de viver ou o que deixa de ser uma experiência tão rica? Tome um momento para pensar sobre isso. Tem uma pegadinha nessa pergunta, se não experienciamos estar no momento presente plenamente, bem como suas consequências, não sabemos o que estamos perdendo. Isso só pode ser acessado pela experiência individual de cada um.
Assim como muitas coisas valiosas que vivemos, podem vir com um misto de alegria e tristeza, alegria de ter uma experiência tão rica e tristeza de se dar conta dos vários momentos em que isso não foi aproveitado. Por isso, tente trazer junto com essa prática, uma postura de aceitação e gentileza para consigo mesmo. Faz muito sentido adotarmos o mecanismo do “piloto automático”, a nossa sociedade reforça esse funcionamento frequentemente. Fazer pausas e prestar atenção ao que está acontecendo no momento presente é um movimento diferente do que fomos ensinados.
Por isso eu recorro ao meu amigo Lenine quando me vejo com dificuldade de fazer isso, seja por me sentir muito dentro do impulso do “piloto automático” ou por me notar me julgando por querer fazer uma pausa. Meu amigo Lenine canta uma música que eu sinto que representa muito bem esse movimento que se chama paciência. Amigo é forma de falar, eu gosto muito do Lenine, mas ele não me conhece na realidade. Nessa canção tem um trecho que diz :
Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara
(Compositor: Lenine, Dudu Falcão)
Esse é meu convite para vocês, a vida é rara, cada momento que passa já passou. Então vamos aproveitar a valsa e nos permitir nos entregarmos a melodia sempre que for importante para nós. Não precisamos estar aí o tempo inteiro, ninguém consegue fazer isso, mas podemos tomar consciência de que a vida ocorre ali e é para onde precisamos ir quando quisermos viver a vida na sua maior magnitude. Espero que a reflexão tenha sido útil para vocês, até o próximo texto. Me despeço deixando essa canção para vocês.