E se ao se aproximar do Natal a emoção que sinto não for felicidade? Numa cultura em que Natal significa estar em família, confraternizar, estar alegre, trocar presentes, celebrar, como é viver a dialética possível entre muitas emoções distintas e até “opostas” nesse período? Na Terapia Comportamental Dialética (DBT- Dialetical Behavior Therapy), desenvolvida por Marsha Linehan, encontramos algumas respostas para essa questão.
A dialética, como visão de mundo ou posição filosófica, constitui a base da DBT e é utilizada como abordagem e estratégia de tratamento nas dificuldades de regulação emocional, do controle dos impulsos, nos relacionamentos interpessoais e na autoimagem. Em um dos módulos do Treinamento de Habilidades, denominado de Regulação Emocional entende-se que regular as emoções requer esforço, energia e também disposição. Acessar a mente sábia também se torna um grande aliado, entendendo que é a sabedoria interior que cada pessoa tem e esta depende da integração de todas as maneiras do saber: por observação, análise lógica, experiências vividas com o corpo, sensoriais, cinéticas e por meio do que fazemos e intuímos, portanto, segundo Linehan, mente sábia é a integração da mente emocional com e mente racional.
Dessa forma, imaginar que podemos controlar nossas emoções se torna um mito e também uma idéia muito invalidante. Na realidade, as emoções podem ser sinais de que algo está acontecendo em uma situação e quando são levadas ao extremo podem ser confundidas e tratadas como fatos, “se me sinto triste, eu sou”, “ se me sinto deprimida ao imaginar a noite de Natal longe das pessoas da família, sou uma pessoa depressiva.” Portanto aprender a regular as emoções não significa se livrar das mesmas e sim diminuir o sofrimento emocional.
Utilizando habilidades de regulação emocional você pode influenciar as suas emoções no momento em que as sente, interferindo na maneira como as experimenta e expressa. No entanto, antes de conseguir regular as emoções precisamos saber identificar e nomear , entendendo que as emoções em si não são boas nem más, apenas são e como tal possuem funções em nossas vidas.
Tomarei como exemplo aqui as emoções que surgem dentro de mim, nos últimos anos, quando me aproximo do Natal: Tristeza (tem a função de organizar nossas respostas quando perdemos alguém ou algo importante para nós e pode nos direcionar na busca e reconhecimento do que é valor em nossa vida); Culpa (concentra-se em ações e comportamentos de reparação); Amor (nos leva a ações de união e apego aos outros), ainda podemos explorar, de acordo com a Terapia Comportamental Dialética as emoções de medo, raiva, repulsa, vergonha, ciúme, inveja e felicidade.
Segundo Linehan, 2015. Existem apenas quatro respostas possíveis a intensas emoções:
- Solucionar o problema modificando ou abandonando a situação;
- Modificar a reação emocional à situação, reduzindo as emoções dolorosas mesmo que o problema permaneça;
- Aceitar radicalmente a situação, reconhecendo que a situação não pode ser resolvida e você não consegue alterar a maneira como se sente, mas aceitar de corpo e alma, completa e voluntariamente, trazendo uma sensação de liberdade e redução do sofrimento;
- Permanecer sentindo-se miserável.
Como usar então as habilidades desenvolvidas por Linehan nesse período de Natal tão propício à vivência de intensas emoções? Escolho aqui, pois é o que tenho feito e percebido como efetivo, as habilidades relacionadas aos itens 2 e 3, ou sejam, de Ação Oposta e Aceitação Radical ou Tolerância ao Mal Estar.
O impulso, quando a emoção da tristeza se aproxima, é de retrair-se, isolar-se, chorar, no entanto quando esta não for efetiva ou não for justificada pelos fatos, Linehan sugere que façamos o oposto dos impulsos de ação, que seria manter-se ativo, aproximar-se do que causa tristeza, evitar o evitar, construir domínio, fazendo coisas que faça se sentir competente e autoconfiante e finalmente aumentar as atividades prazerosas. O que fiz? Montei minha linda árvore de Natal (foto anexada), escrevi o texto do blog com esse tema e tenho participado de muitos encontros festivos com amigos queridos.
Sobre a culpa de estar triste quando “deveria” estar feliz e poder influenciar negativamente meu marido e meu filho com minha tristeza, o impulso de ação poderia ser desculpar-se, dar presentes, fazer sacrifícios. No entanto, a ação oposta sugerida por Linehan é de tornar pública a emoção e repetir o comportamento que causa culpa com pessoas que não os rejeitarão. Nada de desculpar-se, absorva as informações da situação e mude sua postura corporal, levante a cabeça e mantenha o tom de voz firme e claro. Escolhi falar publicamente sobre meus sentimentos e me manter firme e clara.
Além da habilidade de ação oposta, o uso da Aceitação Radical quando não se consegue evitar eventos e emoções pode ser muito útil. Radical significa até o fim, de modo completo e total, aceitando em sua mente, corpo e coração, parando de lutar com a realidade e aceitando-a como é, entendendo que a vida pode valer a pena ser vivida mesmo com os fatos dolorosos. Nesse ponto chegamos na grande dialética desenvolvida por Marsha Linehan, entre aceitação e mudança, ou seja, para mudar a realidade é preciso antes de mais nada aceitá-la, no momento presente. Voltando então para nosso caso de Natal, poder aceitar integralmente minha dor da saudade, da ausência, das lembranças, da culpa, reduz meu sofrimento e aumenta minha sensação de paz e calma, ao reconhecer e admitir minhas emoções me traz a possibilidade de suportar e seguir minha jornada, passando pela “feliz” noite de Natal.
Sobre o amor? Não desejo fazer ação oposta, pois para mim é um impulsionador, um motivador, um valor que me leva ao encontro do outro e de mim mesma e que me faz ser um ser humano e uma terapeuta melhor.
Então, finalizo desejando a todos um “REAL” NATAL!!! HO! HO! HO!