Há cerca de alguns meses iniciamos com o projeto do blog do CEFI Contextus. Foi um compromisso que a equipe criou com as terapias comportamentais contextuais. A ideia é simples: cada participante da equipe CEFI Contextus escreve um texto para ser divulgado toda terça-feira do mês.
Sempre que chega a minha vez de escrever, a minha sensibilidade ao contexto fica mais aguçada para o tema que devo escolher. Noto o movimento que minha mente faz: aparece uma notícia, relaciono com contextualismo funcional, relação mútua, combinatória, transformação de funções, quais molduras relacionais estão envolvidas neste processo?… OK. Pare Matheus, só por um momento. “Let’s just breathe…”.
É assim, um pouco inevitável. Nossa mente está feita para resolver os problemas que colocamos na balança. Qual tema devo escrever? Tenho suficientes clientes? Tenho suficientes artigos publicados? Estou sendo um bom terapeuta? Como faço para converter este problema do cliente em hierárquico com deítico EU…? Como eu faço para que meu vizinho pare de fazer barulho? Por que eu penso isso? 2×2=?…
O self é uma miríade de comportamento relacionado a uma experiência de si mesmo, incluindo estar ciente disso e de si mesmo, e de nossa reação a ele. Nós pensamos muitas coisas e percebemos o que pensamos. Percebemos os pensamentos que vão fluindo pela nossa mente, quando paramos de fazer algo e notamos o que estamos fazendo, ou quando ficamos em silêncio e notamos que estamos em silêncio… Se alguém nos pergunta onde estamos, o que estamos fazendo, quem nós somos…. algo passará sobre a nossa mente. E é interessante observar isso acontecendo.
Nossos pensamentos, emoções e sensações corporais que surgem fazem sentido, são funções que foram adquiridas ao longo de nossa vida. Se trouxermos para uma perspectiva mais evolucionista do ser humano, se não prestássemos atenção antigamente na floresta, morreríamos. O mundo era mais perigoso de se viver. Nós, humanos, não tínhamos apenas os problemas ao nosso redor, também tínhamos com o futuro. Este modo de pensar nos manteve vivo na selva e em diferentes eras da nossa história.
Um dos convites que as terapias comportamentais contextuais faz é parar, estar mais sensível ao contexto (à nossa cultura, aos nossos ancestrais, ao nosso ambiente externo e interno) que influencia a nossa conduta. Desta forma, podemos identificar os nossos obstáculos internos que nos impedem de viver uma vida como gostaríamos. Sou eu notando aos meus obstáculos internos e meus valores. Eu notando ao eu que nota, que faz, que nota a minha própria conduta. Nossa percepção condutual interage com a comunidade verbal.
Em clínica, o uso de metáforas, como por exemplo “se você estivesse vendo o filme do que você está sentindo agora, o que você estaria fazendo neste momento? Você quer seguir com este filme? Como seria o segundo filme da sua franquia? ” ou “se estivesse no teatro, como poderia ver que você está interpretando o seu eu triste na peça?”, podem ajudar na tomada de perspectiva de um sobre a sua conduta. Perceber a função de nossas condutas com tomada de perspectiva é uma forma para levar uma vida como queremos.
Por fim, noto um eu que pensa no leitor do texto que pode notar o que está fazendo neste momento. Penso: quem é a pessoa que pode dirigir a atenção ao que lê e o que pensa neste momento? Quem é a pessoa que pode observar-se lendo o texto e o que escuta neste momento? Quem é a pessoa que pode mover a sua atenção em seu rosto direcionado ao texto e ter em mente quem é que pode observar isso? Seria esta a mesma pessoa?
Referências
Luciano C (2017) The Self and Responding to the Own’s Behavior. Implicationsof Coherence and Hierarchical Framing. International Journal of Psychology & PsychologicalTherapy, 17, 267-275.