Era minha semana de escrever no blog. Eu costumo escrever a partir de alguma experiência que me convoca ou me inspira. Nesta semana foram várias: adaptação da minha pequena na escolinha, reencontro com amigas queridas de um antigo trabalho, bodas de ouro dos meus pais e mais tantas outras. Em frente ao computador, estava difícil escolher um caminho, até que tive a ideia de escrever sobre não conseguir escrever. Vamos lá:
Estou me propondo a fazer algo novo para mim, diferente, que é escrever aqui e agora enquanto experimento a dificuldade de escolha. “Experimentava” na verdade, porque uma vez que decidi escrever sobre o processo de não conseguir escrever, o desafio mudou e agora está sendo descrever esta experiência. Noto uma estranheza, na verdade uma curiosidade ou vontade de ter escolhido uma das questões vividas na semana para olhar com alguma distância agora. Me chamo de volta para cá, para este texto que escolhi fazer.
Vejo o cursor piscando no documento. Escrevo que vejo o cursor piscando. Me noto observando que escrevi que vejo o cursor piscando. Ele piscava a esperar pelas palavras, mas agora as palavras estão sendo escritas, ele está se movimentando. Observo a mim mesma, na verdade, ao meu processo de observar e descrever o que está acontecendo e a minha mente já tentando dar nome ao que está acontecendo aqui e agora. Já saí do texto e fui para minha cabeça de novo. Então paro e olho o cursor a piscar, fico imóvel por um instante, respiro e busco me reconectar com a experiência.
Noto um branco. Um barulho de rádio que me incomoda. Um silêncio que me conforta. Estou presente de novo. Logo minha mente me chama e quer nomear as coisas e encerrar o texto. Meu corpo quer escovar os dentes e descansar. Um auto julgamento aparece. O receio do julgamento de terceiros me assombra. Deixo o cursor piscar mais um pouco e sigo na tentativa de não me deixar prender pelos julgamentos. Volto a tentar nomear, e agora sim vou me deixar levar pela mente porque preciso dela para nomear o que se passou:
Este texto buscou escrever sobre a experiência de escrever aqui e agora, tateando habilidades de atenção plena – na medida em que fui tentando observar e descrever o que se passava momento a momento; de desfusão – uma vez que fui buscando tomar perspectiva da experiência, notando os pensamentos e emoções que apareciam e não sendo “tão” fisgada por eles.
Atenção ao momento presente, desfusão, aceitação… mente, experiência… são conceitos que trabalhando com Terapia de Aceitação e Compromisso se conversa com os pacientes com o objetivo de desenvolver flexibilidade psicológica.