Conflitos ocorrem em todos os relacionamentos. Como lidar com eles de uma forma saudável?

Conflitos ocorrem em todos os relacionamentos. Numa relação amorosa é esperado que existam divergências sobre diversas questões, visto que cada pessoa vivencia e interpreta as circunstâncias da vida à sua maneira, devido à sua característica pessoal, sua história de vida, sua forma singular de compreender o mundo. Sendo assim, o problema não é ter conflitos ou não, mas como as pessoas se relacionam em torno deles.

Estudos referem quatro dimensões relacionadas aos conflitos numa relação conjugal: frequência, motivo, intensidade e estratégias de resolução (Delatorre et al., 2017, Kurdek, 1994). Veremos cada uma:

  • Frequência: refere-se à periodicidade da ocorrência dos conflitos. Muitos temas podem ser disparadores dos conflitos conjugais e demonstram uma dinâmica do casal enrijecida e repetitiva, perpetuando uma interação conflitiva geradora de sofrimento;
  • Motivo do conflito: envolve a compreensão sobre os temas que geram discordâncias. Alguns temas de conflitos são transversais, ocorrendo com a maioria dos casais, como por exemplo tarefas domésticas, educação dos filhos, finanças, demonstrações de afeto, vida sexual. Mas há outros motivos que podem ser mais frequentes em casais com maiores dificuldades, envolvendo questões mais específicas e que estão carregados de maior carga emocional;
  • Intensidade: refere-se ao nível de tensão emocional existente no momento do conflito. Pode-se dizer que há um continuum que varia entre conflitos com baixa intensidade (discussões pacíficas, ponderadas e respeitosas) e conflitos com alta intensidade (discussões intensas e até manifestações violentas);
  • Estratégias de resolução: envolvem as diferentes alternativas que os cônjuges utilizam na tentativa de solucionar seus conflitos. Há estratégias consideradas construtivas, tais como escutar e validar a perspectiva do outro, comunicar claramente e com postura assertiva o próprio desejo/opinião, ter abertura para a possibilidade de negociação, ceder em alguma medida para que se possa chegar a um acordo que seja satisfatório para o casal, ter espírito de colaboração, entre outras. Estas estratégias construtivas estão relacionadas ao incremento da qualidade conjugal (Delatorre & Wagner, 2019; Wagner et al., 2019). Por outro lado, as estratégias de resolução de conflitos destrutivas contribuem para a piora na qualidade conjugal.

Kurdek (1994) refere que há três principais estratégias destrutivas:

  • Evitação: tentativa de negação e afastamento do conflito, que pode ser pela recusa em dar prosseguimento a uma discussão sem comunicar que não está em condições de seguir a conversa neste momento. Por exemplo, durante uma briga sai de perto e deixa a outra pessoa falando sozinha, gerando sensação de rechaço em quem fica;
  • Submissão: predisposição em concordar com a decisão da outra pessoa sem defender seu ponto de vista, cuja intenção é não ter brigas. Pode ser associada à vitimização por violência ou ao acúmulo de tensão que, num conflito futuro, pode repercutir na perda de controle e alguma forma de agressão.
  • Envolvimento no conflito: refere-se a ataques à outra pessoa, podendo ser violência psicológica ou física. Diante de uma situação de conflito, um dos parceiros usa da coerção para conseguir o que deseja, desconsiderando as demandas da outra pessoa, por exemplo, dizer “se você não fizer isso vou me separar”.

Todas as dimensões do conflito precisam ser consideradas num trabalho de terapia de casal, especialmente quando a frequência de desentendimentos é alta, os motivos se repetem ou qualquer situação cotidiana se torna motivo de conflito, existe grande carga emocional envolvida, evidenciando grande intensidade, e quando as estratégias de resolução são disfuncionais.

A Integrative Behavioral Couple Therapy (IBCT – Christensen et al., 2020) refere que todos os casais têm e terão conflitos, pois isto faz parte dos relacionamentos. Mas é possível trabalhar como objetivos terapêuticos com que os casais diminuam a frequência e intensidade dos conflitos, e que a forma de recuperação seja mais rápida e efetiva, para, então, aumentar a qualidade da relação, que valha a pena!

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Sobre o Autor
Mara Lins
CRP 07/05966 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica (UNISINOS). Mestre em Psicologia Social (PUCRS). Especialista em Terapia de Casal e Família (CEFI). Treinamento em Terapias Comportamentais Contextuais. Treinamento em Terapia Comportamental Integrativa de Casal (Integrative Behavioral Couple Therapy-IBCT) com Andrew Christensen e sua equipe. Professora e Supervisora de cursos de pós-grad... ver mais

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