A maioria das pessoas perde algo ou alguém importante durante sua vida, talvez um familiar, seu trabalho, a saúde, um relacionamento ou, inclusive, uma crença que tinha muito sentido e que agora não tem tanto. Todos estamos propensos a perder vínculos valiosos ao longo de nossa vida, faz parte de ter mudanças, e que mudemos junto com ela.
Por alguns anos meu trabalho me levou a estar junto de pessoas que perderam seus entes queridos por morte, escutei suas histórias e acompanhei na sua dor. São muitas pessoas ao longo de 13 anos de trabalho com enlutados, e percebo uma diferença em relação a abordagens teóricas que descrevem sintomas do enlutado, em etapas ou fases, etc. em relação à evolução e curso do processo de luto.
Na realidade, eu não consegui encontrar o que alguns autores afirmaram, pelo contrário, encontrei muitas diferenças entre uma perda de uma pessoa e outra, e não vi sentido em tentar catalogar tudo como sendo um processo homogêneo. Isto, para mim, limita a descrição e entendimento do luto.
O luto é uma experiência única, e sendo assim, tem múltiplas respostas, tanto quanto o número de pessoas no mundo. Talvez ao ler isto lhe pareça algo óbvio, mas muitos dos enlutados e seus familiares costumam ter dificuldades para compreender que não existe uma regra para reagir após a perda, talvez porque gostariam de ter uma receita para lidar melhor com sua dor, ou porque as pessoas ao redor falam para eles o que é adequado, ou não, de sentir. Esta experiência de luto nos leva para um lugar desconhecido onde gostaríamos de saber o que é que está acontecendo com a gente, no desejo de ter o máximo de controle possível da situação.
A realidade é que, neste processo, temos que buscar a maneira de nos adaptarmos nestas novas condições de vida, seguindo caminhos que não pensávamos que atravessaríamos, e com a incerteza do que acontecerá depois.
Ainda que não haja um padrão de comportamento ou de reações físicas homogêneas, uma constante no luto é a dor. O luto dói, é uma resposta natural quando perdemos algo que queremos, é algo que nos alerta que as coisas não são iguais e precisamos fazer mudanças para nos adaptarmos em nossas vidas.
Por vezes preferimos não escutar o que nosso luto quer nos dizer, e fazer com que as coisas continuem iguais, sem mudanças, e, em alguns momentos, realmente acreditamos nisso, como se nada houvesse acontecido. A realidade é que perdemos algo, alguém importante, e mesmo com nossas estratégias de evitação, a dor nos alerta que isto é real, embora que aparentemos o oposto, é verdadeiro, é uma experiência em nosso corpo, em nosso dia a dia. É a demonstração de que as coisas, as pessoas nos importam, porque quando as perdemos sentimos sua ausência e nosso corpo responde, nossa cabeça responde, nós respondemos a essa dor.
O essencial é dar a oportunidade de experimentar o luto, escutar sua dor, reconhecer o importante e compartilhar como está se sentindo, de forma natural, sem vergonha, lembrando que o que se sente tem sentido, e é uma recordação do caminho valioso e importante que foi vivido.