Essa semana fui convidada a fazer uma palestra sobre mindset para um grupo de profissionais de Recursos Humanos, área que atuei por muitos anos. E sempre que recebo esses convites me desafio a integrar saberes e olhares, incluindo sempre o ponto de vista das Terapias Comportamentais Contextuais, a base teórica da minha prática profissional atual.
Nesse sentido fui buscar na RFT (Teoria das Molduras Relacionais) desenvolvida por Steven Hayes e Aaron Brownstein em meados dos anos de 1980. O início da minha conversa com o público me deu vontade de compartilhar aqui com vocês. Compreendendo que mindset é traduzido por configuração mental e entendendo isso como maneira de pensar, modelo mental, crenças ou visão de mundo, encontrei na RFT explicações sobre a formação dos nossos comportamentos e como desenvolvemos essas regras que nos acompanham durante boa parte, senão o tempo todo de nossas vidas.
Segundo Hayes, a maior parte dos nossos comportamentos se dão pela interação com o ambiente e a aprendizagem se dá pela sensibilidade às consequências, ou seja, vamos construindo uma história de aprendizagem operante (o choro do bebê vai sendo modificado pelas consequências). Além de aprendermos por experiência, aprendemos também pela linguagem (social/verbal), pois humanos têm a capacidade de planejar e aprender pela experiência do outro: “Melhor não ir lá porque tem um leão.” Portanto, falar de coisas nunca vistas e que combinamos que vai existir passa a intervir no nosso comportamento e começamos a acreditar nos mitos que criamos.
Para regular esses mitos surgem as agências de controle, descritas por Skinner (2003) e criadas pelos grupos humanos: estado, leis, educação, religião, psicoterapias, que nos fazem seguir para um lado ou outro, criando realidades que nos orientam. Dessa forma, vamos criando molduras baseadas nessas relações e nessas experiências que vão transformando nossas reações às experiências imediatas, ou seja, os eventos do mundo adquirem função de controle sobre o nosso comportamento.
Ex.: Filho e cachorro ficam na chuva
Cão: Acabou a situação aversiva. Volta ao normal, acabou o sofrimento.
Filho: Será que sempre que chover ela vai fazer isso comigo? Será que ela não gosta mais de mim? O que será que eu fiz para ser castigado? Não sou bom o suficiente?
Só da pessoa pensar “não sou bom o suficiente” já causou o sofrimento igual ao que sentiu aquele dia na chuva. O fato de sermos seres simbólicos, ao mesmo tempo que amplia a capacidade de resolver problemas também amplia nossa capacidade de sofrer. “Os humanos são capazes de criar semelhanças e diferenças entre os eventos e formar relações entre eventos históricos e eventos atuais com base nas semelhanças construídas.” (HAYES, 2021, p.13). Portanto, nossa tarefa não é eliminar o controle verbal do sujeito, mas aprender a discriminar quando o controle verbal é útil ou é problema.
Porque eu penso isso? Porque é você, e você aprendeu a pensar isso devido a sua experiência. E o bom é que você pode aprender outras coisas e isso é uma parte do seu comportamento. Observar quando pensa isso e observar o que pode vir a fazer.
OBSERVAR, DESCREVER, PARTICIPAR: MINDFULNESS
Ampliar a capacidade da pessoa de notar e reagir aos próprios pensamentos, sentimentos e outros comportamentos a fim de produzir a oportunidade de ações direcionadas a fins importantes para a própria pessoa: VALORES.
Dessa forma, a maneira como o indivíduo pensa, a sua mentalidade, reflete diretamente nas suas ações. E, por consequência, elas oferecem resultados positivos ou não. Segundo Dweck (2017), as pessoas podem ter uma mentalidade que as deixam estagnadas (Mindset Fixo) ou uma que ajude no seu crescimento (Mindset de Crescimento), seja no âmbito profissional ou pessoal. Dweck (2017) afirma que todas as pessoas possuem os dois mindsets, alguns se reconhecem como apresentando um deles a maior parte do tempo, mas a boa notícia para aqueles que desejam desenvolver uma mentalidade mais flexível é que é muito possível.
Como?
Em primeiro lugar abraçando e aceitando sua forma de ver o mundo, suas regras, suas crenças, os mitos criados, e em segundo lugar descobrindo qual a relação que existe com sua história de vida (normalmente está relacionado com perfeccionismo ou autocobrança), sendo assim, você pode imprimir uma nova forma de se relacionar com seus eventos privados e possíveis frustrações ao longo da vida.
Dentro das organizações, o empreendedor ou gestor tem papel essencial nesse processo e pode conduzir e influenciar essa mudança. Isso pode se dar implantando práticas de mindfulness, uso de ferramentas adequadas, proporcionando treinamentos de habilidades que ensinem estratégias de redirecionando de pensamentos, compartilhamento de conquistas, engajamento às metas, entre outros. Assim aumentando repertórios para alcançar e desenvolver maior flexibilidade psicológica, treinando novas formas de controle verbal a partir de valores e treino de novas habilidades comportamentais.
Portanto, você tem escolha!!! Os mindsets nada mais são do que crenças. São crenças poderosas que estão na sua mente. E você pode acolher e redirecionar sua mente. Finalizando deixo aqui algumas provocações e alguns convites para você:
O que você escolhe para o seu futuro?
Quais as coisas importantes para você?
O que te aproxima e te afasta das coisas que são importantes para você?
Em que direção queres te mover?
REFERÊNCIAS:
- Dweck, Carol S. Mindset: a nova psicologia do sucesso. São Paulo. Objetiva, 2017.
- Hayes, S. C., Barnes-Holmes, D., & Roche, B. Relational frame theory: A post-Skinnerian account of human language and cognition. New York:Plenum Publishers. 2001.
- Hayes, S.C. Strosahl. K.D.,Wilson, K.G. Terapia de Aceitação e Compromisso: o processo e a prática da mudança consciente. Porto Alegre: Artmed. 2021.
- Lucena-Santos, P. Pinto-Gouveia, J. & Oliveira, M. S. Terapias Comportamentais de Terceira Geração: guia para profissionais. Orgs: Lucena-Santos, P. Pinto-Gouveia, J. & Oliveira, M. S. [et al.] – Novo Hamburgo : Sinopsys. 2015.
- Skinner, B. F. Ciência e comportamento humano. (J. C. Todorov e R. Azzi, Trad). 11 edição. São Paulo: Martins Fontes. (Obra original publicada em 1953). 2003.