A Matrix é uma ferramenta terapêutica utilizada para apresentar e treinar as pessoas em um ponto de vista contextual funcional. O modelo ACT- Matrix foi elaborado por Kevin Polk, Mark Webster e Jerold Hambright para facilitar a flexibilidade psicológica e orientar para o comportamento psicologicamente saudável (Polk & Schoendorff, 2014). Para saber mais, acessem aqui no Blog excelentes textos sobre a Matrix.
Pode-se definir a Matrix como um modelo clínico e visual que auxilia na discriminação de pensamentos, sentimentos, valores e ação comprometida, processos propostos pela Terapia de Aceitação e Compromisso (Acceptence and Commitment Therapy – ACT apresentada por Hayes, Strosahl & Wilson, 1999). A Matrix propõe que se identifique a experiência interior, tanto aversiva (sofrimento) quanto apetitiva (valores), e coloca como foco a capacidade da pessoa de gerar mudança, pois com ela é possível classificar o comportamento em termos de sua eficácia em relação ao movimento e direção ao que se é importante.
Os últimos seis meses de minha vida foram intensos devido à descoberta de uma doença. Um turbilhão de emoções e pensamentos desde o diagnóstico: “Vou morrer rápido?” “Viverei por quanto tempo? Medo!” “Como fica minha família?” “Tenho muito o que fazer!” “Raiva!” “Como fica meu trabalho?” “Isto não está acontecendo, vou procurar outro médico!” E eu sentia meu coração disparado…
Percebi que a única coisa que poderia ajudar a atravessar este período seria acessar minha sabedoria… esse seria o caminho para aceitar o que estava posto e mudar o que fosse possível… mas como discriminar um do outro (o que pode ou não ser mudado)? Uma das formas seria visualizar esta situação a partir da Matrix. Segundo Polk e Schoendorff (2014), a maneira de ensinar a Matrix é por etapas, conforme o modelo a seguir:
Com base no diagrama, fui respondendo a cada etapa, relacionando com a doença:
1. Quais experiências sensoriais você experimenta?
Frio no estômago, cansaço.
2. Quais experiências internas?
A mente produzindo muitos pensamentos ao mesmo tempo, gerando confusão.
3. Observa a diferença entre o sensorial e o interno?
Sim, quanto mais pensamentos, mais frio no estômago.
4. Observa a sensação quando vai em direção ao que é importante?
Pensamento referente ao desejo de fazer o que dá sentido à vida.
5. Como é a sensação ao se afastar de coisas que não quer sentir?
Num primeiro momento, alívio. Mas, num segundo momento, as coisas que não quero sentir voltam.
6. Percebe a diferença outra vez? Entre se aproximar do que é importante e se afastar do que é difícil?
Sim, ir para o lado direito dá tranquilidade, ir para o lado esquerdo gera ansiedade.
7. Quem ou o que é importante para você?
Família, trabalho, amigos, saúde, vida com sentido.
8. Quais os obstáculos internos que impedem que se vá em direção ao que é importante?
Excesso de atividades de trabalho gerava ansiedade; saber da doença eliciou o medo da morte; as situações estressantes originavam raiva.
9. Que comportamentos você tem quando sente o que sente?
Fechar-me, assumir mais atividades, chorar.
10. Que comportamentos você tem para se mover em direção ao que é importante?
Autocuidado, selecionar e realizar atividades de trabalho com atenção plena, momentos de lazer com a família, conexão com amigos, alimentação saudável, práticas de mindfulness, realizar o tratamento da melhor forma.
11. No lado esquerdo há as “voltas” (uma agenda de mudança impraticável). Por exemplo, você se afasta do medo (quadrante inferior esquerdo), fechando-se (quadrante superior esquerdo). Mas o medo vem de volta, numa espiral, que representa que a pessoa fica numa armadilha: sente o medo, fecha-se, mais medo, mais se fecha…. Quem nunca se sentiu preso em um ciclo como esse?
Os principais giros que dei foram em torno de sentir raiva e me fechar.
12. Tempo que se fica de um lado ou de outro. Todo mundo faz uma combinação de movimentos entre um lado e outro. Qual o percentual que você está em cada lado?
Na descoberta da doença, estava 80% do lado esquerdo e 20% do lado direito. Atualmente, inverteu: as ações de compromisso me fazem sentir que a vida vale mais a pena!
Por fim, a Matrix é uma ferramenta que chama a atenção para os aspectos clinicamente relevantes do contexto de mudança pessoal: os que desempenham um papel na manutenção de comportamentos problemáticos e aqueles que podem contribuir para um comportamento orientado por valores. Aprendi que a doença pode ser administrada. Os momentos passam de forma tão rápida que os comportamentos orientados por valores são o que ajudam na conexão com pessoas especiais e dão o verdadeiro sentido de gratidão pela oportunidade de viver!
Referências
Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wilson, K. G. (1999). Acceptance and commitment therapy: An experimental approach to behavior change. New York: The Guilford Press.
Polk, K. & Schoendorff, B. (2014). The ACT – MATRIX A New Approach to Building Psychological Flexibility Across Settings & Populations. Oakland: New Harbinger Publications.
Polk, K. L., Schoendorff, B., Webster, M. & Olaz, F. O. (2016). The Essential Guide to the ACT Matrix: A Step-by-Step Approach to Using the ACT Matrix Model in Clinical Practice. Oakland: New Harbinger