Apenas uma gota

 

É elemento comum nas terapias comportamentais contextuais uma certa balança entre dois componentes que, no meu conhecimento superficial, fica super bem expressa na oração da serenidade:

Conceda-me a serenidade para aceitar aquilo que não posso mudar,

A coragem para mudar o que me for possível

E a sabedoria para saber discernir entre as duas

Isso é representado com estratégias e processos como validação (DBT) ou aceitação (ACT). É verdade que muitas vezes o paciente chega querendo mudar muito na sua vida. Mas sem entender e aceitar as suas circunstancias isso não é possivel.

Mas quando chega a hora de mudar, de fato, o quanto devemos querer revolucionar as coisas a cada vez?

(Não proponho uma regra rigida, apenas um atalho…)

Uma gotinha de cada vez.

Pode parecer irônico: Estava eu de férias em Maceió quando me vi em uma foto e achei que estava passando o limite do sobrepeso. Na volta, estou fazendo uma dieta relativamente estrita, natação, mantive minha luta e iniciei treinos diários de mobilidade.

 

Que gotinha é essa então, tchê?

 

Fato é que eu sabia que teria que modificar minha alimentação. Resolvi que com isso deveria retomar meu comprometimento com o treino da luta, para ajudar no controle do peso. Mas ela demanda um bom cardiopulmonar, e dai decidi nadar. O resultado está sendo muito bom na minha vida, e não foi necessário muito tempo, mas cada gotinha entrou de sua própria vez. Revoluções tendem a ser dificeis de sustentar.

Alguns exemplos de passos nesse sentido:

 

  • Gostaria de cuidar da minha saúde. Qual é o pior hábito de saúde que tenho hoje? Posso diminui-lo um pouco. Talvez não beber durante a semana. Qual seria o passo mais simples pra tomar nessa direção? Talvez subir os dois lances de escada até meu apartamento a pé.
  • Gostaria de estreitar meus laços com meu primo, que era tão meu amigo. Qual a coisa que mais tem nos afastado? Ele tem uma posição politica diferente da minha. Não posso controla-lo, mas posso tentar falar de outros assuntos. Qual a coisa que nos aproximava? Ele gostava de ver filmes do Mazzaropi, posso convida-lo para assistir um de vez em quando.
  • Gostaria de me estressar menos no trabalho. Qual é a coisa no trabalho que mais tem me estressado? Talvez seja um colega de trabalho que interrompe minha produção o tempo inteiro. Posso solicitar uma mudança de local. Qual é a coisa que mais me traz tranquilidade enquanto trabalho? Posso trazer um tecido agradável para por no meu colo e acaricia-lo enquanto uma das mãos está ociosa.

 

Fica evidente que nenhum dos exemplos acima mostra revoluções que provavelmente resolveriam toda a situação. Nem é isso que foi prometido. Mas, uma vez instalada essa pequena mudança, fica um pouco mais fácil instalar mais uma. E outra. E outra.

 

 

uma

gotinha

de

cada

vez

.

.

.

para uma grande

mudança

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Sobre o Autor
Emmanuel Kanter

4 comentários em “Apenas uma gota”

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