Ano Novo, Amor e a Eternidade do Aqui e Agora

O ano novo chega com a intenção de renovação, uma brisa fresca que traz consigo a promessa de recomeços. É um instante mágico, quando a linha invisível entre passado e futuro parece se dissolver, deixando-nos diante do presente — esse ponto de encontro entre o que foi e o que ainda será. No entanto, no ímpeto de projetarmos sonhos e expectativas para o que vem, muitas vezes esquecemos o convite mais precioso que a vida nos faz: viver o agora.

Nos relacionamentos amorosos, essa verdade se revela como uma delicada dança entre o tempo e a eternidade. Amar é, em essência, estar presente. É contemplar o outro com olhos que não se perdem nas sombras do ontem nem se confundem pelas promessas do amanhã. No amor, o aqui e agora não é apenas um momento passageiro: é o lugar onde a vida realmente acontece. É querer cultivar a relação “apesar de” tantos impedimentos que incluímos num relacionamento amoroso. Certamente não estamos falando de relações abusivas, cujo posicionamento é outro: do não, do limite. Estamos nos referindo aqui de relacionamentos entre humanos com suas fraquezas e fortalezas, que se atrapalham nas suas ações, mas que desejam manter sua conexão amorosa da melhor forma possível.

O ano novo, com suas esperanças e resoluções, pode ser um momento de renovar os laços que unem os corações. Muitos casais traçam planos para o futuro — viagens que ainda não fizeram, sonhos que ainda não realizaram, desafios que desejam superar juntos. Mas, entre metas e promessas, o que realmente sustenta a relação são os instantes compartilhados no presente. É a pausa para um olhar demorado, o toque de mãos que silenciosamente diz “estou aqui”, o riso que brota do cotidiano.

Viver o presente em um relacionamento é também um ato de coragem. Requer abandonar as mágoas que insistem em nos aprisionar ao passado e não temer o que o futuro possa trazer. Requer aceitar a parceria como ela é — humana, falível, mas infinitamente única em sua essência. É entender que a perfeição não é o que torna o amor bom ou importante, mas sim a vulnerabilidade compartilhada, o compromisso de crescer juntos e a capacidade de se encontrar, vez após vez, no presente.

E há algo profundamente poético nessa escolha de viver o agora. É como se cada gesto — um sorriso, um beijo, um abraço — fosse uma pequena eternidade, um lembrete de que o tempo, quando vivido com intensidade, deixa de ser linear. No momento em que se olha nos olhos de quem se ama e se percebe que nada mais importa além daquele instante, e talvez se possa sentir o infinito.

Que neste ano novo, possamos abraçar a simplicidade e a profundidade do momento presente. Que deixemos de medir o amor pelo que foi ou pelo que será, e o acolhamos pelo que simplesmente é. Porque a vida não espera, ela acontece no agora, na troca de olhares, na partilha de silêncios, na cumplicidade das pequenas coisas.

Quer experimentar num pequeno exercício? Convide sua parceria para ficarem por 4 minutos olhando nos olhos um do outro… O que observa? O que pensa desta pessoa que você escolheu para seguir junto seu caminho? O que você sente por esta pessoa? O convite é para que,  ao vivermos assim, com o coração ancorado no presente, possamos descobrir que o amor é, em sua essência, atemporal. Ele não se perde no tempo, ele o transcende. Ele é, como a vida, o aqui e o agora — e isso é tudo.

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Sobre o Autor
Mara Lins
CRP 07/05966 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica (UNISINOS). Mestre em Psicologia Social (PUCRS). Especialista em Terapia de Casal e Família (CEFI). Treinamento em Terapias Comportamentais Contextuais. Treinamento em Terapia Comportamental Integrativa de Casal (Integrative Behavioral Couple Therapy-IBCT) com Andrew Christensen e sua equipe. Professora e Supervisora de cursos de pós-grad... ver mais

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