O que significa “ação oposta ao amor”? Antes de explicar este conceito, oriundo do Treino de Habilidades da Terapia Comportamental Dialética de Marsha Linehan, convido a pensar o que seria para você uma “ação coerente” com o amor. O que você faz quando ama alguém? O que dá vontade de fazer? Como você trata quem você ama e como é tratado por quem ama você? Como a pessoa que você ama ‘se sabe’ amada por você? Claro que a resposta de cada pessoa para estas perguntas vai depender do seu repertório de aprendizagem, ou seja, das coisas que aprendeu com as pessoas significativas da sua vida ao longo da sua história, de como foi experimentando as vivências do que foi construindo como amor.
No livro “Treinamento de Habilidades em DBT: manual da terapia comportamental dialética para o paciente”, encontra-se que “o amor (…) se encaixa nos fatos de uma situação sempre que: A) amar uma pessoa, animal ou objeto aumenta a qualidade de vida para você ou para aqueles que lhe são importantes. B) Amar uma pessoa, animal ou objeto aumenta suas chances de alcançar suas metas pessoais (…) (p.237). Voltemos então ao título e ao início deste texto – o que é ação oposta ao amor? É uma das habilidades de regulação emocional, indicada para ser utilizada quando a emoção amor não se encaixar nos fatos ou quando agir amorosamente não for efetivo.
A primeira leitura pode parecer esquisito agir de forma oposta ao que estamos sentindo, uma vez que sabemos da importância de conhecermos e validarmos nossas emoções. E seguiremos assim! Tudo o que sentimos é válido, não escolhemos o que vamos sentir, escolhemos o que fazer com o que sentimos, uma vez que sempre responder de acordo com a emoção não necessariamente nos leva a uma vida significativa. Quando sentimos raiva, por exemplo, o nosso impulso de ação é agir de forma agressiva, o que de forma geral não vai ser efetivo. Então, o sentir é livre, não temos controle, a ação que tomamos com o que sentimos sim é onde temos gerência.
A habilidade de ação oposta ao amor vai ser muito útil, por exemplo, quando uma pessoa em uma relação amorosa tóxica, percebe que os prejuízos significativos para sua vida. Uma relação em que a aproximação da pessoa amada (tóxica) traz um alívio no curto prazo (da solidão, por exemplo), mas traz tristeza, violência e outras consequências negativas a médio e longo prazo. Este é um exemplo de uma situação típica em que trabalhar ação oposta ao amor é bem útil e necessário.
Alguns exemplos de ação oposta ao amor seriam: evitar a pessoa, animal ou objeto, distrair-se dos pensamentos na outra pessoa, animal ou objeto, lembrar a si mesmo de por que o amor não é justificado (…). Num primeiro momento pode parecer muito incoerente agir contra o amor, um sentimento tão gostoso de sentir, no entanto, quando acompanhamos histórias duras e entendemos contextos em que relações supostamente amorosas funcionam como violências emocionais, físicas e outras, agir “contra o amor” ou a “ação oposta ao amor” pelo outro se torna agir com amor a si mesmo.
Referência:
Linehan, Marsha. (2018). Treinamento de Habilidades em DBT: manual da terapia comportamental dialética para o paciente. Porto Alegre: Artmed.