Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã… Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, E assim será possível; mas hoje não… Não, hoje nada; hoje não posso. A persistência confusa da minha subjetividade objetiva, O sono da minha vida real, intercalado, O cansaço antecipado e infinito, Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico… Esta espécie de alma… Só depois de amanhã… Hoje quero preparar-me, Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte… Ele é que é decisivo. Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos… Amanhã é o dia dos planos. Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo; Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã… Tenho vontade de chorar, Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro…
– Álvaro de Campos [Heterônimo de Fernando Pessoa], (escrito em 14.4.1928), In Poesia, Assírio e Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002.
A procrastinação pode ser definida como forma de voluntariamente adiar, atrasar ou cancelar uma tarefa ou decisão, ainda que se espere que o resultado seja pior devido ao atraso. É importante lembrar que a procrastinação é um fenômeno natural: todos nós procrastinamos em alguma área ou momento da vida. Podemos procrastinar tarefas (aquele texto do blog importante) ou até mesmo decisões (aquela decisão de pra onde ir, quando podíamos sair de cada). Podemos procrastinar atividades com prazo final ou momentos de autocuidado, que não tem data limite (fazer aquela atividade física ou aquela ligação para alguém que estamos com saudades).
Ao mesmo tempo, procrastinar difere-se de postergar: este último se refere a perceber quais são as prioridades do momento e ser flexível com a gestão do tempo. Já a procrastinação, quando problemática, envolve sofrimento e um prejuízo na qualidade do que vamos executar (ou da qualidade de vida mesmo) – envolve um não querer adiar, mas não conseguir fazer diferente.
Quando notamos a procrastinação isolada de um contexto, é como observarmos uma criança que chora sem termos idéia do que houve. Nenhum comportamento ocorre no vácuo e não impacta no seu contexto. Por isso, é importante notar a função que a procrastinação está tendo em nossas vidas, em cada situação. Ela pode ser uma forma de obter alívio de curto prazo frente a uma sensação desconfortável (seja culpa/ansiedade/sono/frustração), ou um meio de se aproximar de coisas agradáveis no momento (ver um filme legal, mostrar algo interessante para alguém, etc.). A procrastinação pode, também, ser um comportamento decorrente do extremo perfeccionismo e do medo de errar. Ou ainda, funcionar como um sinalizador de que a tarefa que precisamos fazer já não faz mais sentido pra nós…
A nossa tendência quando estamos frente a uma atividade dessas é optarmos por fazer as tarefas de resultado imediato, as mais prazerosas, mesmo que de menor relevância, pois o apelo em realizá-las é maior. Ainda assim, seguir esse caminho pode não ser efetivo ou pode nos distanciar do que de fato queremos alcançar.
Para encontrar efetividade na execução de uma atividade complexa, considere:
Praticar aceitação
Perceba seu corpo e sensações quando estiver prestes a fazer o que você precisa fazer.
Permita-se “sentar” com o desconforto. Pode ser útil se questionar se, ao invés de “quero conseguir fazer minhas tarefas”, tem espaço para “estou disposto a seguir com meu desconto e fazer o que precisa ser feito”.
Identificar as distorções comuns na procrastinação
Superestimar o tempo que temos para fazer a tarefa “A palestra é só daqui a um mês..”.
Subestimar o tempo que a tarefa leva para ser feita “Em uma horinha isso se resolve”.
Acreditar que precisamos estar num bom humor para render.
Acreditar que se não estamos num bom momento, não iremos ser produtivos.
Lembrar que você não é seus pensamentos
Agradeça sua mente pelas ideias, mas não faça necessariamente o que ela sugere ou diz que você deve fazer!
Clarificar seus valores
Identifique o propósito por trás da atividade que você quer ou precisa realizar.
Pergunte-se:
Onde me quero ver em cinco anos?
Eu escrevo (ex: meu mestrado), porque…….
Atentar ao momento:
Pequenas práticas de mindfulness podem ser feitas para ancorar e trazer centramento.
Experimente fazer uma pausa para notar como está dois ou três minutos antes de fazer alguma atividade que está procrastinando.
Comprometer-se
Seja Específico: onde, como, quando você irá fazer o que precisa ser feito?
Seja Possível: limite o que você tem para fazer. A sobrecarga de trabalho pode ser um gatilho potente para a procrastinação gerando mais culpa e desânimo.
Seja Flexível: adapte-se às mudanças que o contexto exige! Uma tarefa inesperada, uma notícia que te deixou mais triste vão interferir na sua produtividade e isso faz parte! Note o que você realmente precisa naquele momento.
Pegue leve: Tarefas, como o trânsito, não tem que caber, tem que fluir!
Se quiser uma ajuda extra, disponibilizamos um exercício prático que pode te ajudar a procrastinar menos e ser mais efetivo!!
Texto inspirado no Workshop apresentado por Frederick Dionne “I’ll do it later”: Overcoming procrastination among students with ACT”. Exercício traduzido do mesmo autor.
Olá, achei interessante sua puplicação e gostaria de ver se é pertinente colocar em meu site que é:
http://www.planosdesaudehdm.com.br
Um forte abraço.
Oi Hermes.Sim, podes publicar desde que coloque o nome da autora (Gabriela Damasceno) e o nome do CEFI. Abraços