Na psicoterapia, trabalhamos com os mais diversos objetivos que os clientes trazem, e para cada objetivo, são mobilizados diferentes recursos e métodos terapêuticos. Na perspectiva das Terapias Comportamentais Contextuais, nós sempre vamos partir de uma cuidadosa consideração do que faz a pessoa buscar a terapia e quais são seus objetivos, sendo esses objetivos geralmente ligados aos valores dessa pessoa, ou seja, às direções gerais que considera importantes para sua vida. Mas, ao mesmo tempo em que os objetivos do cliente e o que iniciou e mantém suas dificuldades são sempre muito particulares, também podemos identificar alguns temas mais gerais e abrangentes que perpassam a maioria dos processos terapêuticos. Os temas gerais que atravessam a terapia e são responsáveis pelas mudanças e melhorias na qualidade de vida das pessoas podem ser chamados de processos. Eles são os meios pelos quais os fins são alcançados.
Do ponto de vista do terapeuta, os processos indicam quais técnicas devem ser utilizadas durante o trabalho terapêutico a fim de ajudar o cliente em seu caminho. Do ponto de vista do cliente, os processos indicam que habilidades precisam ser aprendidas na terapia a fim de viabilizar que o cliente atinja seus objetivos. Se a terapia fosse um carro que vai levar o paciente ao seu objetivo, os processos seriam o motor que ele vai aprender a operar com a ajuda do terapeuta.
Por mais variados que sejam os objetivos pessoais e os problemas que as pessoas trazem à terapia, na perspectiva das Terapias Contextuais, o trabalho terapêutico servirá em última análise para que as pessoas possam ter uma vida melhor, mais dirigida pelo que realmente importa para elas e com mais conexão com o mundo e com as pessoas que lhe fazem bem. Para atingir isso, pode ser necessário trabalhar em diferentes processos, simultaneamente ou sequencialmente. Algumas habilidades, as pessoas conseguem desenvolver espontaneamente em suas vidas, enquanto outras podem necessitar de espaços estruturados como terapia, cursos, práticas esportivas e contemplativas, entre outros, para que sejam aprendidas.
A seguir, vou apresentar um conjunto de habilidades úteis que podemos ter como metas na terapia a fim de atingir o resultado final de melhor qualidade de vida. O convite que quero fazer então é que você dê uma olhada nessa lista e identifique aquelas que você acha que lhe são relevantes. Você também pode tentar avaliar o nível de importância que essa habilidade parece ter para atingir seus objetivos atuais e para possibilitar uma vida mais voltada aos seus próprios valores. Se você não faz terapia, essa lista pode ajudá-lo a entender de que maneira e em que aspectos um processo psicoterapêutico pode vir a ser útil no momento atual de sua vida. Caso você já faça terapia, você também pode tentar avaliar o nível de progresso que considera já ter alcançado nessa habilidade em sua própria terapia, e o quanto percebe que está direcionando conscientemente seu esforço progredir nela, tanto na terapia quanto em seu dia a dia.
Convém lembrar que essa é só uma tentativa de resumir a infinidade de habilidades e caminhos que podem ser desenvolvidos em terapia, e que não elaborei esta lista com a intenção de esgotar tudo o que se pode fazer em terapia, mas sim dar uma visão geral e rápida de um pouco do que se pode fazer.
- Resolver problemas: identificar situações externas a mim que impactam minha qualidade de vida, reconhecer o que posso modificar nessas situações, e elaborar planos viáveis para fazer as mudanças necessárias, buscando ajuda se necessário.
- Pensar de forma flexível: poder ver as avaliações, julgamentos, explicações e rótulos que aplico à realidade externa e às minhas experiências não como verdades absolutas, mas como construções mentais que fazem sentido em um contexto mas não necessariamente em todos, que podem não ser verdadeiras para todo mundo ou em todas as situações.
- Poder soltar pensamentos: perceber quando estou preso em ruminações insistindo sobre temas e pensamentos e notar quando isso é útil e quando não é; poder soltar meus pensamentos e ruminações quando não estão me ajudando a viver a vida que quero.
- Tomar perspectiva das experiências: tomar distância e poder ver meus pensamentos, emoções, sensações e outras experiências como eventos transitórios que só são o que são, sem avaliá-los como bons ou ruins, nem certos nem errados.
- Aceitar a realidade: conseguir me abrir para vivenciar as coisas como são, sem desperdiçar minha energia e tempo com esforços para modificar o que não pode ser modificado ou me ver obrigado a viver em fuga e fantasia quando as coisas não são como eu esperava ou gostaria.
- Orientar para o presente: manter minha atenção mais focada no que está acontecendo no presente, sem me distrair tanto com ruminações e preocupações com passado e futuro.
- Lidar com meus pensamentos: saber como me relacionar com meus próprios pensamentos, ideias e lembranças de forma que me ajudem a entender o que acontece fora e dentro de mim mas que não me distanciem da realidade e nem sejam obstáculos para fazer as coisas que me são importantes para ter uma vida com qualidade.
- Lidar com as emoções: saber como lidar com minhas emoções de forma que elas me ajudem a estar mais conectado comigo e com o mundo e não me atrapalhem de fazer as coisas que são importantes para mim.
- Reconhecer gatilhos e vulnerabilidades: saber como os eventos no ambiente interno externo costumam desencadear emoções em mim, notando o tipo e a intensidade mais associada a cada evento, e aprender a modificar esses eventos que costumam me deixar mais vulnerável a ter dificuldade com minhas emoções.
- Nomear emoções: Reconhecer e nomear mais clara e precisamente minhas emoções e sentimentos; entender no que elas me ajudam, e discernir quando pode ser útil agir de acordo com elas e quando não será útil, de acordo com as consequências que pode gerar em mim e em meu entorno.
- Reconhecer componentes das emoções: perceber pensamentos, sensações corporais, impulsos, mudanças físicas e mentais que acompanham minhas emoções e compreender como a relação desses componentes pode tornar minhas experiências emocionais problemáticas ou não.
- Modular emoções: Modificar a intensidade, a frequência ou a forma como vivencio e expresso algumas emoções para que não me prejudiquem, definindo em que componentes pode ser mais efetivo intervir e com quais estratégias fazê-lo.
- Descolar mais minhas ações das minhas emoções: fazer o que quero ou preciso fazer sem depender de que meu humor ou emoções sejam favoráveis, e poder escolher não seguir os impulsos do humor ou emoção do momento quando isso não for útil.
- Lidar com meus impulsos: escolher seguir ou não seguir meus impulsos tendo em vista o prejuízo e o benefício que segui-los pode me trazer, ponderando os impactos em mim e no meu entorno.
- Me expressar: expressar aos outros o que sinto, minhas opiniões e minhas necessidades, fazendo pedidos, expressando concordância ou discordância e demonstrando verbal ou não verbalmente meus sentimentos e inclinações.
- Ter consciência de mim: saber quando sinto algo, saber o que quero e quando quero, ter clareza do impacto que as coisas e pessoas tem em mim quando interajo com elas.
- Ter consciência do outro: reconhecer as emoções dos outros, mesmo quando não expressam diretamente, ter noção do impacto que minhas ações tem na outras pessoas e compreender mais claramente como se sentem enquanto interajo com elas.
- Manejar conflitos: saber como agir quando estou em situações de conflito com outras pessoas, de modo que possa atingir meus objetivos e ter respeitados meus limites ao mesmo tempo em que possa respeitar as outras pessoas em seus interesses e limites. Poder vivenciar os conflitos sem precisar fugir, ou fingir que está tudo bem ou abdicar de meus interesses, mantendo uma flexibilidade que me permita negociar quando for o caso.
- Saber quando e quanto me expor: ler o ambiente de forma precisa para expor minhas experiências privadas de forma flexível e que construa relações satisfatórias para ambos os lados, evitando expor excessivamente minhas experiências íntimas e também evitando ser demasiado fechado e inacessível.
- Comunicar bidirecionalmente: reconhecer o ponto de vista dos outros e demonstrar interesse neles, ao mesmo tempo em que busco espaço para os meus pontos de vista e experiências quando em interações com pessoas que me importam.
- Ter relações importantes: criar conexões com outras pessoas com quem me sinta bem e cultivar essas relações ao longo do tempo, mantendo-as satisfatórias para ambos os lados.
- Saber o que é importante: clarificar o que e quem é realmente importante para mim, reconhecendo a cada momento quais são as características da pessoa que quero ser e da vida que quero ter, de forma que esses conhecimentos possam orientar minhas ações.
- Agir no que importa: definir ações claras e precisas que me aproximam da vida que quero e que manifestam as características que valorizo ou quero desenvolver em mim mesmo, e identificar como posso aumentar minhas chances de agir dessas maneiras.
- Identificar meus obstáculos: reconhecer e descrever com precisão eventos externos e experiências internas que tornam mais difícil agir de acordo com aquilo que valorizo e me aproximar de quem é importante para mim.
- Ser gentil comigo mesmo: lidar com minhas dificuldades e limitações de forma gentil e amorosa, sem me criticar em excesso ou me focar excessivamente em meus erros e minhas falhas nem exagerar minhas virtudes, a fim reconhecer o que posso melhorar sem perder o que tenho de bom.
E então, encontrou algo útil para você nessa lista? Há algum processo que você acha que poderia ajudá-lo a se aproximar mais da vida que gostaria de viver, da pessoa que gostaria de ser ou das relações que gostaria de ter? Conseguiu identificar aqueles em que você se vê mais hábil e aqueles em que está trabalhando mais atualmente em sua vida? Se quiser saber mais sobre algum dos pontos da lista, fique à vontade para comentar no texto.