FORMULAÇÃO DE CASO DEEP PARA OS DIAS ATUAIS
Mara Lins
Antes de iniciar uma terapia de casal, a Terapia Comportamental Integrativa de Casal (IBCT) propõe que se faça uma avaliação da relação conjugal, para que fique claro para todos, terapeuta e parceiros(as) o que não está funcionando no relacionamento. Esta avaliação é chamada de Formulação de Caso DEEP. É um acrônimo no qual esta palavra em inglês significa profundo, ou seja, uma avaliação mais profunda do que está acontecendo. Geralmente traz uma nova perspectiva para o casal e clareza sobre o que deverá ser tratado na terapia.
Esta avaliação é da relação, não de cada um individualmente. Objetiva que se observem os Antecedentes de uma interação, os Comportamentos propriamente ditos e as Consequências desta interação. É uma Análise Funcional da interação. Sendo assim, ao pensar nas relações de uma maneira geral, poderíamos fazer uma analogia desta formulação com alguns relacionamentos (amorosos, familiares, amizades ou trabalho) cujo funcionamento se tornou uma armadilha no nosso atual momento político:
O D representa as diferenças que o casal (as pessoas) tem diante de um tema. Disfunciona quando ambos ficam polarizados, na tentativa de impor sua verdade ao outro. Cada um tem mil argumentos para comprovar suas razões, mas, quanto mais tentam impor suas razões, mais se afastam um do outro…
O primeiro E representa as questões emocionais. Uma das emoções mais rápidas e fáceis de identificar é a raiva. Esta, frequentemente, conhecemos bem e sabemos como expressá-la para atacar o outro. A IBCT propõe que diferenciemos as Emoções Duras (as que primeiro aparecem) das Emoções Brandas (as quais, muitas vezes, nem a pessoa que sente as identifica). É comum a tristeza, o medo, a culpa ficarem escondidos atrás da raiva. Se pararmos para observar o momento político atual, com muita atenção, qual é a emoção que está encoberta? Qual é a emoção que realmente precisa ser olhada e acolhida?
O segundo E se refere aos fatores Externos que possam estar interferindo na relação. Quais os elementos do nosso atual momento político que estão influenciando nas relações? Observamos que há um estímulo para a intolerância, agressões, mentiras como se pensar de forma distinta se relaciona a ter, necessariamente, uma posição pró ou contra um objetivo maior.
Por fim, o P significa o Padrão de comunicação que o casal está utilizando para tentar resolver seus conflitos. É uma tentativa de solução, mas, geralmente, a forma que está sendo utilizada faz com que as pessoas fiquem presas: mais agridem, mais invalidam, mais se afastam. É uma armadilha na qual quanto mais força fazem para sair, mais se enredam…
Entendemos, ainda, que as pessoas não mantêm este padrão de interação por serem mal-intencionadas ou por não gostarem umas das outras. Apenas fazem o que conseguem fazer, o que está na sua história de aprendizagem. Desejam, profundamente, uma mudança, mas o que fazem, a forma como agem, perpetua a interação que afasta das pessoas importantes…
Diante disso, cabe ao casal se observar, e, mesmo com raiva, tanta tristeza e ressentimento, dar a necessária importância à tolerância à diversidade. É neste momento em que percebemos que a mudança está no movimento ativo e eleito por cada um: ter a oportunidade de escolher o que fazer, um fazer diferente. Poder falar dos seus medos, poder pedir ajuda, falar das decepções diante das expectativas de como o outro deveria ser, poder chorar, aproximar-se, dizer que, mesmo com tantas divergências, eles podem ter uma vida com mais flexibilidade, que pode valer a pena tentar construir um terceiro ponto de vista. Utilizar a Formulação DEEP é se aprofundar na relação, compreender a responsabilidade de cada um na interação e concluir que, mesmo com as diferenças, podem se amar.