Uma Perspectiva Contextual Funcional

As terapias de terceira onda têm em comum o contextualismo funcional. A partir deste ponto de vista, uma conduta pode unicamente ser entendida quando consideramos o ambiente específico em que ela ocorre. Ou seja, comportamentos topograficamente iguais podem ser condutas diferentes sobre uma perspectiva funcional.

Vamos imaginar que tomamos perspectiva sobre a seguinte situação: você está na praia de Capão da Canoa sentado em sua cadeira de praia e observa um sujeito, chamado Pedro, na fila para comprar um milho verde. Pedro compra o milho e o come. Esta conduta é seguida por uma consequência. Podemos, assim, identificar a sequência do comportamento em seu contexto. Esta sequência comportamental pode ter a função de manter a ação de Pedro em comer o milho na praia. Se assumimos que ele não gostasse de milho verde, Pedro provavelmente não compraria o alimento. Mas esta não é a consequência que gostaria de considerar nesse exemplo.

Digamos que em um passado recente, Pedro foi à praia e não comeu milho, diferente do que seu habitual. Quando isso aconteceu, evocou uma sensação de desconforto em Pedro. O rapaz sentiu como se não tivesse ido para a praia naquele dia. Ao ir a praia e comer milho, Pedro pode estar escapando desta sensação aversiva de não comer milho na praia. Podemos provavelmente encontrar inúmeras funções para este exemplo de conduta além desta, como pegar um milho para postar na rede social e se conectar com outros. Desta forma, assumimos que comer milho na praia pode ter diferentes funções. Ou seja, um único ato comportamental pode ter múltiplas funções.

Pedro também pode substituir o seu ato de comer milho na praia por algum outro alimento. Comprando um pastel frito de camarão, por exemplo, Pedro pode aproximar-se das mesmas funções que comer milho o gera. A este tipo de conduta chamamos de equivalência funcional. Este tipo de diferenciação é importante, ainda que a conduta topográfica seja diferente.  Assim, um número diferente de condutas pode ter a mesma função.

Por outro lado, uma conduta semelhante pode gerar diferentes funções em uma situação diferente. Se vemos Pedro comendo milho no meio do trabalho, por exemplo, isso geraria um outro sentido. Provavelmente, alguns poderiam começar a rir ou a comentar esta conduta. Comer milho na praia ou no trabalho podem ser topograficamente iguais, mas com um significado diferente. Acredito que eu também riria de Pedro se isso acontecesse.

As funções de uma conduta estão em diferentes contextos. Sua função não está em uma coisa/objeto, e sim, na história de vida de cada um. Compreender isso se torna importante, pois entendemos o propósito da conduta, ou seja, suas consequências. E toda consequência acontece em um contexto. É a esta perspectiva que chamamos de contextualismo funcional.

Referências:

Hayes, S. C (1993). Analytic goals and the varieties of scientific contextualism. In S. C. Hayes, L. J. Hayes, H. W. Reese, & T. R. Sarbin (Eds.),  Varieties of scientific contextualism (pp. 11-27). Reno, NV: Context Press.

Ramnerö, J. e Törneke, N. (2008). The ABCs of Human Behavior. Oakland, CA: Context Press.

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Sobre o Autor
Equipe Contextus
A equipe CEFI Contextus é formada por profissionais de Psicologia e Psiquiatria que iniciou treinamento amplo e aprofundado em Terapias Comportamentais Contextuais desde o ano de 2013. Desenvolve tratamentos psicoterápicos utilizando abordagens como FAP, ACT, DBT e IBCT. Sua atuação se volta a auxiliar as pessoas a estarem presentes em suas próprias vidas, a aceitarem que o sofrimento faz parte... ver mais

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