Como o Surfe e o Mindfulness estão conectados? Uma reflexão sobre caldos e atenção plena com aceitação

O fluir da água ao redor dos dedos das mãos e dos pés, notar o desequilíbrio do corpo ao sentar na prancha flutuando, pensamentos exagerados em relação ao perigo do mar, sentir o calor do sol nas costas ou no peito (dependendo se o surfe é de manhã ou de tarde), perceber o vento na pele, sentir medo ao avistar uma série de ondas grandes, perceber o desespero debaixo da água quando levo um caldo… Isso é um pouco da ambivalência da Atenção Plena presente quando vou surfar, seja no corpo, seja nos pensamentos ou nas emoções.  Talvez mindfulness possa transparecer só coisas positivas, mas mindfulness é sentir e perceber também aquelas coisas que nos deixam aflitos, tal como, os pensamentos desagradáveis que citei a cima.

    Se você já tomou banho de mar provavelmente já levou algum caldo, aquele momento em que somos engolidos pela força da onda e ficamos girando como se estivéssemos em uma máquina de lavar. No surfe chamamos isso de ”levar uma vaca” e só quem vive essa experiência sabe bem quão desconfortável ela pode ser. Assim como estar em um estado emocional triste. E é comum o movimento de não querermos estar sentindo uma tristeza, por exemplo, até porque estar triste não é muito agradável, não é mesmo?

 

Com isso, depois de muito lutar contra caldos, querendo não vivenciar aquela sensação de falta de ar e desespero ao estar submerso, me lembro da primeira vez quando tomei um caldo e não lutei contra ele. Aceitei que caldos são passageiros, ficando sem ar debaixo da água por alguns segundos (que pareciam infinitos) e depois subiria naturalmente para respirar.

 

Permitir que o caldo fosse como ele é, um tanto quanto desagradável e passageiro, me permitiu olhar e agir diante da mesma situação de forma diferente, podendo aceitar sem assumir alguma forma de controle (o que previamente não funcionava muito).

 

Algo semelhante acontece com os nossos pensamentos, sentimentos e emoções, do mesmo modo que os caldos, eles também são passageiros, por mais que não pareça ou seja difícil de aceitar. E lutar contra isso pode te deixar ainda mais “sem ar”.

 

E a questão que fica é: será que a tentativa de evitar questões desagradáveis tem funcionado a longo prazo? Se a resposta for não, que outras formas poderíamos lidar a partir daquilo que é importante para nós (como surfar é pra mim) sem piorar a nossa experiência (resistindo ao caldo)?

 

Este texto é de autoria da estagiária da equipe CEFI Contextus – Valentino Bohn Debastiani

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