Cultivar a Vida

 

A vida pode ter diversas definições ou ser vista por diferentes ângulos, mas uma ideia temos em comum: para viver a felicidade precisamos estar conectados com emoções positivas e sensações prazerosas. E sim, um elemento importante da vida é experimentar momentos de prazer. Todos compartilhamos da expectativa de passar por esses momentos. É uma expectativa justa. É possível.

Algumas situações de alegria podem acontecer ao acaso, como se chegassem para nós como um presente. Estamos andando na rua e de repente vimos um amigo se aproximando, ‘que alegria’, como é bom encontrar uma pessoa querida, trocar algumas palavras, um abraço. Preenche o momento de contentamento e essa sensação nos acompanha nas próximas horas do dia. Ou temos aquele momento programado do nosso dia: o jantar, quando aprecio uma comida gostosa ou estou com pessoas que amo, a sensação de felicidade está ali, presente.

Outras experiências de alegria podem ser construídas com dedicação de muitos e muitos anos. Por exemplo, manter um relacionamento amoroso e saudável de longo prazo, é estar constantemente investindo e presente na relação. Ou também, finalizar um curso de graduação, para chegar nesse momento foi preciso caminhar por anos em direção a um mesmo objetivo, resolvendo os mais variados problemas e com inúmeros desafios.

Com o passar dos anos, por experiências dolorosas, formas de se relacionar com a vida ou influência do contexto em que vivemos podemos ir nos distanciando das atividades prazerosas. Com a sensação de sobrecarga de tarefas, desmotivação, preguiça…. vamos nos desconectando das sensações positivas. E elas vão ficando cada vez mais distantes, como se precisássemos de esforços gigantes para chegar até elas. Ou estamos tão ocupados em evitar situações de um possível sofrimento e não conseguimos dar a atenção necessária às atividades que realmente nos trazem sensações de bem-estar.

A Terapia Comportamental Dialética (DBT), nos traz propostas de como podemos construir experiências positivas de curto prazo e de longo prazo em nossa vida. Uma das propostas trazidas pela abordagem é a de ‘EVITE EVITAR’. Penso essa ideia como uma das ideias chave para ter em mente naqueles dias em que a procrastinação, preguiça ou até mesmo crenças de ‘não é tão importante eu fazer isso’, querem tomar conta de como vamos nos comportar nos próximos instantes. Quando o mau humor está presente, pensar em fazer algo pequeno e que havia sido planejado, parece extremamente desgastante.

Para as experiências positivas de curto prazo, planejar o que será feito, é extremamente importante principalmente se estamos muito distantes das nossas atividades de prazer ou se o nosso cotidiano tem muitas demandas. A sugestão é: planeje uma atividade prazerosa por dia. Às vezes, esse planejamento pode ser mais próximo de uma experiência, ‘vamos ver como vou me sentir fazendo isso’, e está ótimo ser assim. Não temos como ter certeza de como nos sentiremos, mas podemos ter boas hipóteses ou caminhos de quais atividades se aproximam de sensações positivas.

Para viver essas experiências positivas diárias, ter alguns cuidados torna esses momentos mais potentes. Um deles é não se apegar às preocupações que podem surgir ao longo da experiência: ‘eu não mereço estar fazendo isso’, ‘quando irá terminar’, ‘as pessoas acham errado eu estar fazendo isso’. Se as preocupações surgirem, retome o foco para o que é mais valioso para você naquele momento. E outro lembrete importante: engajar-se plenamente no momento. Viver a experiência de corpo e alma. Estar assistindo ou observando é uma forma de participar, mas não trará a mesma sensação ou intensidade de sensação prazerosa do que se estiver participando da experiência por completo.

Cultivar emoções positivas de longo prazo envolve viver de acordo com os valores pessoais. Os valores podem mudar ao longo dos anos e às vezes podem parecer nebulosos ou confusos. Algumas pessoas têm como valor manter bons relacionamentos ou contribuir com a comunidade em que vive ou ser uma pessoa espiritualizada. Os valores não são como as metas em nossa vida, que podemos alcançá-las e chegar a um destino final. Os valores são as coisas que nos estarão guiando pelos caminhos que escolhemos percorrer.

Uma pergunta que nos ajuda a identificar nossos valores é ‘o que realmente importa?’

Seja paciente ao cultivar emoções prazerosas!

 

Referência

Linehan, M. M. (2018). Treinamento de habilidades em DBT: manual de terapia comportamental dialética para o paciente. Artmed Editora.

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Sobre o Autor
Ana Paula Domeneghini
Psicóloga (PUCRS - CRP 07/23571). Especialista em Terapias Comportamentais Contextuais Baseadas em Processos (CEFI). Especialista em Terapia Sistêmica Individual, Conjugal e Familiar (CEFI). Atua como psicóloga clínica com atendimento individual, familiar e conjugal. Membro da Equipe CEFI Contextus. ver mais

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