Na semana passada, o Brasil se deparou com um grande exemplo da artista Lady Gaga de como preservar o auto respeito e seus limites pessoais. Imagino que muitos julgaram como um grande absurdo o fato de ela, considerada uma das maiores atrações, ter cancelado sua participação no grande evento Rock in Rio 2017. Compreendo que sim, para um fã é extremamente frustrante ter seu sonho de vibrar com um ídolo ao vivo interrompido. Para isso, medidas reparatórias certamente estão sendo tomadas. Contudo, podemos olhar para a situação sob uma outra ótica.
Deixando de lado opiniões de que ela agiu certo ou errado, a cantora pop deu uma lição de como qualquer um pode ter ou passar por limitações, e que estas podem – sim – ser respeitadas. Reconhecer uma dor, um problema, uma fraqueza requer coragem. E é preciso ainda mais coragem para assumir um limite pessoal, sem deixar de considerar todo o contexto no qual se está inserido.
Sabendo que estou longe de ser uma diva pop, ao ouvir a notícia de que Gaga havia cancelado seu show, fiz um link com minha própria vida. Nas últimas semanas, passei pela experiência de dizer muitos “não”. Uns para mim, outros para ou outros – Não posso. Não consigo. Não quero. Não é o momento. Que alívio, e que difícil. Fazer isso nunca foi algo fácil ao longo de minha vida, embora necessário. Enquanto eu estava acostumada a não negar ou não interromper aquilo que estava além de meus limites, um padrão de resignação se instalava. Foram anos e anos nos quais obrigações e regras mentais (sem muito sentido, julga minha própria mente) regiam escolhas que seguiam o refrão de Zeca Pagodinho “deixa a vida me levar”.
Como consequência: fui deixando de perceber e escutar minhas próprias necessidades. Quantas vezes o pensamento “isso nem é tão importante” ou “posso deixar para depois” surgia frente a um desejo interno bloqueando o caminho para minha auto satisfação. Escrevo no passado, porém nada disso está no passado, esse padrão segue sendo um padrão familiar e presente em mim. Mas algumas coisas, hoje, mudaram.
Eis que pude começar a parar e notar. Simplesmente isso, parar e notar. O começo não veio com o parar de fazer aquilo que eu vinha acostumada, era apenas pausar para observar o que estava acontecendo comigo naquele momento. O resultado disso não era necessariamente uma ação diferente, muitas vezes, pelo contrário, eu permanecia onde estava: seguindo o piloto automático. Porém, agora esse piloto já tem cara, nome e sobrenome. É tão mais simples quando conhecemos aquilo que nos atormenta, não é mesmo? Além do mais, voltei a reconhecer o que eu precisava, o que meu corpo pedia, dando chance para que minhas necessidades fossem atendidas.
Esse exercício de pausar surgiu, principalmente, pela necessidade que sentia de mudar. Busquei terapia, estudo, e encontrei no Mindfulness um bom recurso para ampliar meu autoconhecimento. Penso que esse é um dos maiores benefícios que o Mindfulness vem me trazendo: poder reconhecer o que sou, como e onde estou, e o que estou fazendo comigo? Estou percebendo o que preciso? Estou me dando o que necessito? Como estou me tratando? Como trato alguém que amo? São tantas perguntas a se fazer, sem nenhuma resposta a ser dada, apenas observada. Grande parte das respostas já estão em nós, basta sabermos escutar. E voltando a música que citei lá em cima, hoje canto outra, de Lenine. “Não deixo a vida me levar/ quem leva a vida sou eu”. E da Lady Gaga, valido a ideia de que podemos, sim, dizer não.
Dada, muito claro e feliz teu comentário!
QUEM LEVA A VIDA SOU EU!